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Mostrando postagens de setembro, 2019

Excelência aos mortos (P.S. de Dória)

Quando criança, ainda pelos idos de 1951/52, minhas irmãs mais jovens e com maiores idades que eu, levaram-me como companhia a um certo velório no sítio Cinzas, comunidade pertencente ao município da pequena, porém, pacata cidade de Esperança- PB. Saímos de casa à tarde e caminhamos por quase duas horas, e já era tardinha, quase noite, quando lá chegamos. Tratava-se de uma anciã, mulata rezadeira bem conhecida na comunidade pela alcunha de dona “Lambú”, cuja idade dizia-se ser acima dos 70 anos, que morava sozinha e que havia morrido “de repente”, denominação que se usava quando alguém “infartava” naqueles tempos, fulminantemente. A falecida morava num pequeno lote e era vizinha de uma minha irmã, a mais velha, Ovídia, que residia num pequeno sítio vizinho, casada havia poucos anos e que hoje, com 93 anos, encontra-se acometida de Alzheimer. A casinha da falecida, de dois cômodos, muito pequenos, de taipa, à mostra alguns trançados de ripas de pendões de agave cruzando-se, à guisa

Sol: A Harmonia das Esferas

Sob este título – A Harmonia das Esferas – Silvino Olavo anunciava seu próximo livro de poesias. Assim é que, no verão de 1952, praticamente curado, e morando com os seus pais na Fazenda Bela Vista, neste Município de Esperança, passeava o vate pela Campina Grande, visitando amigos e livrarias, como que a espreitar o clima literário daquela cidade. Seis anos antes, o também poeta Castro e Silva anunciava no “Nordeste”, revista ilustrada do Recife, este mesmo livro, escrito por Silvino no recolhimento de seu asilo. No seu dizer, eram “ versos maravilhosos, que bem denotam o velho paisagista das imagens, autor de tanta poesia bonita e boa, esplendente daquele lirismo evocativo dos últimos românticos...” . Conhecera-o na Capital paraibana, trajando-se com esmero, de estatura bem proporcionada, “ na simplicidade de todos os seus gestos e na pureza singular de todas as suas palavras e ações ”. Dizia-lhe os versos maviosos, tão bons quanto à poesia inédita quando o poeta “ nã

Cordel 49.204 (Evaldo Brasil)

A doze golpes de faca (Considerando a condenação no “Crime do Cajueiro”) I A Beleza e a Fraqueza Numa via se encontraram Chocaram a comunidade E nos registros entraram Pra uma, foi derradeiro, Pra outra, sem paradeiro, Nunca mais se retrataram. II Nos idos de oitenta e sete Uma morte prenunciada Uma jovem de dezessete Vinha sendo assediada Resistira até sua morte Perante uma triste sorte Eis Maria Imaculada. III O algoz foi o cunhado, Compulsivo ou pervertido, Quem, de tão agoniado, Condenou-se no ocorrido Partindo pra vilania Tentado no que se via Por instinto mal contido. IV Embora negue a desgraça Nas buscas participando Seu comportamento traça Perfil para, em suspeitando, Por fala dos depoentes Em nada condescendentes Sua prisão teve mando. V A comoção foi tão grande Que a população tocada Perante a Delegacia Tentaria uma estocada Linchar o assassino frio Pelo caráter em desvio Ao matar sua cunhada.

Matias Grangeiro

Matias Grangeiro nasceu no dia 20 de abril de 1941, filho do também comerciante Severino Grangeiro de Maria. Casado com a Sra. Luciene Honorato, era pai de cinco filhos: Fabiana (in memorian), Miguell, Renato, Fábio e Taiana; esta última, primeira dama de nosso Município. I niciou no comércio com uma torrefação de café - o Dona Branca -   em 1968, na Rua José Andrade da Silva. Após a extinção desta firma , devido a forte concorrência , ingressou na revenda de móveis e eletrodomésticos (1975), fundando a “Matias Grangeiro & Cia. Ltda” com o nome fantasia de DECORAMA . Esta chegou a ter 26 filiais no Estado (oão Pessoa, Campina Grande, Santa Rita, Cabedelo, Guarabira, Mamanguape, Queimadas, Alagoa Grande, Solânea, Areia, Bananeiras, Cuité, Remígio, Picuí, Pocinhos, Barra de Santa Rosa, Soledade, Arara, Nova Floresta, etc.), com 220 funcionário e gerando cerca de 300 empregos diretos. Com o sucesso que obteve neste ramo , abriu filiais nas cidades de Gua

Sol: Gazeta da Festa

Dentre as inúmeras publicações das quais cooperou o nosso poeta – Silvino Olavo – está a “Gazeta da Festa”, folhetim que era publicado na Capital, por ocasião da Festa das Neves. Criação de Aderbal Piragibe a revista circulava nos festejos da padroeira traçando o perfil de seus frequentadores e dedilhando o “ frou-frou ” cidalino. Para Sol não era nenhuma novidade, já que ele exercitava na “Era Nova” a crônica social numa atmosfera de simpatia , no dizer de José Joffily. José Octávio escreve que o poeta esperancense era um dos mais românticos. Eis os versos dedicados à Srta. Eunice Londres: “ Que teu coração de neve Jamais de paixões se tirne Quero-te assim leve, leve Como uma pluma de cisne ”. Esse magazine alcançava o seu ápice no dia 05 de agosto, sob girândolas, preces e orações. A sua vida não foi efêmera, pois foi editada no período de 1917 à 1928. A maioria dos jornalista participava também do “Correio da Manhã”, sendo pois considerado um seu “filhote”.

O crime do cajueiro

Um crime bárbaro chocou a comunidade de Esperança nos idos de 1987. Uma jovem de apenas 17 anos de idade foi encontrada morta na tarde do dia 30 de julho daquele ano, com doze perfurações de faca peixeira. O suposto agressor seria o próprio cunhado que há algum tempo vinha assediando a jovem virgem para manter com ela relações sexuais. Nenhuma testemunha ocular foi encontrada, mas fortes indícios apontavam que o indiciado tinha participação no ocorrido. Na época o acusado negou a pratica delitiva e inclusive chamou alguns vizinhos para “procurar” a vítima. Testemunhas que depuseram no caso narraram que ele estava nervoso e pouco colaborou nas buscas, o que culminou com a sua prisão. Naquele mesmo dia muitas pessoas se dirigiram até a Delegacia local, que era vizinho ao prédio dos Correios, em cima da Casa Lotérica “Lírio de Ouro”, momento em que a população revoltada tentou "linchar" o acusado, o que não se efetivou devido a interferência da guarnição policial. Temp

O Rio, poema de Silvino Olavo

“ Sai, primeiro da fonte – tênue fio – a fila fina e límpida de prata; e depois, nas rechãs, por entre a mata, como cobra assustada, corre o rio. E a inocência dessa água que arrepio vai causando nas franças que retrata, faz-se, aos poucos, sensual e a sede mata a quem passe margeando-a , pelo estio. Mais e mais avoluma-se a corrente; impele tudo, impávida, a torrente e entra no mar as ondas afrontando. Assim também na infância a virgindade nasce.... e depois, pelo verão da idade, no mar do amor, vai-se engolfar cantando ” Silvino Olavo, in : Cysnes, 1925.

Genealogia safardita, por Ismaell Bento

Imigração safardita - Fonte: Wikipédia A Concessão da Nacionalidade para Judeus Sefarditas encontra respaldo no Decreto Lei n° 30-A de 27 de Fevereiro de 2015, da República Portuguesa. Os "judeus sefarditas" são os descendentes dos judeus que viviam na Península Ibérica (Sefarad), que foram perseguidos pelo Estado português e espanhol através da Inquisição Católica. Muitos foram convertidos a força, outros fugiram com suas famílias ou foram exilados. Essa comunidade de recém conversos foram chamados ao longo da história de "cristãos novos" ou "marranos", por terem abraçado o cristianismo, porém muitos seguiram praticando o judaísmo de forma escondida e camuflada. O Brasil recebeu milhares de famílias de Sefarditas, estima-se que mais de 10% da população brasileira descendem dos cristãos novos, sendo a maioria do Nordeste, região que concentrou o maior número de Sefarditas. Portugal decidiu conceder a nacionalidade portuguesa a todos que provar

A primeira escola municipal (por João de Patrício)

Depois de uma batalha para a emancipação do município de Esperança e depois de instalado o governo municipal, na pessoa do então gestor municipal Manoel Rodrigues de Oliveira, o município, ainda uma vila, começou a dar os primeiros passos, tendo as primeiras iniciativas administrativas.   Depois de formar o quadro dos primeiros servidores municipais, como ato administrativo, dando sequência à formação administrativa de Esperança, só dois anos depois de sua emancipação, foi criada a primeira escola municipal através de decreto, o de nº 03, de 25 de novembro de 1927, instituindo uma escola mista noturna. Até então, o município não dispunha de professores, não se sabendo onde deveria funcionar essa escola, nem quem seria o professor ou professora contratado, para tal fim. Um detalhe a ser esclarecido, quanto ao ato administrativo em comento: Esperança ainda era uma vila, não existia Câmara de Vereadores para aprovar a criação da primeira escola municipal, pois, o prefeito teria que

Conflito em Esperança (Conflagração Europeia)

Esperança se desenvolvia a passos largos. O comércio promissor trazia consigo grandes desafios, que um povoado pacato não estava acostumado. Aumentando-se a renda, propiciava também a elevação dos ânimos que resultavam em conflitos. Não se sabe se o povo inculto confundia os eventos mundiais ou se os sabichões procuravam mantê-la na mídia, fazendo-se uma propaganda reversa, chamando a atenção para aquela povoação. O certo é que uma turba fora confundida com a “Conflagração Europeia”, pois naquela mesma época irrompia na Europa que derrubou a monarquia russa e elevou Vladmir Lênin do Partido Bolchevista ao poder. Assim é que três praças e um anspeçada destacavam em Esperança, ocasião em que este fora agredido chegando a sofrer um ferimento na cabeça. Os companheiros de farda resolveram repelir a agressão, iniciando-se uma grande pancadaria. Ao final os contendores foram presos, porém o resultado fora diverso do pretendido: os soldados foram recolhidos à sede do comando pelo Sarg

Josué da Cruz em Esperança

Josué Alves da Cruz foi cantador afamado em todo o Nordeste. Nasceu no Sítio Araçá, próximo à Arara, à época pertencente a Serraria, no dia 09 de setembro de 1904. Faleceu nesse mesmo município, no Sítio Gravatá, em 28 de novembro de 1968. Por esse tempo já não cantava mais e dedicava-se a agricultura. Foi na roça que passou mal e, chegando em casa, assentou-se numa cadeira de balanço, onde veio à óbito. Casou-se duas vezes, uma delas com a senhora Maria Dias de Oliveira com quem teve dois filhos: Luiz e Josué Filho. Conheceu-a no Sítio Riacho Fundo, fixando residência em Esperança, no Estado da Paraíba. Cantando com João Benedito Viana, amigo e poeta esperancense, disse: “ Vejo o mundo dividido Entre plebeu e nobre, Um é preto e outro é branco, Um rico e outro é pobre, Deus é Senhor de tudo: E o céu a todos cobre ”. Sobre o colega, Josué confessou em cantoria: “ O Viana de Esperança Eu ouço desde menino Tem memória e peito fino, Canta e glosa abertame

O pecador não é nada (Josué da Cruz)

José Paulo [Pichaco] dos Santos citou-me os versos declamados por Josué da Cruz que fala do homem pecador. Anotei a oitava que o crente sabe de cor:   “ Às doze da madrugada Eu rezei mais de um mistério Passando em um cemitério Vendo uma porta fechada Cruz inteira e cruz quebrada Catacumba velha e nova Tudo servindo de prova Que o pecador não é nada. ”   Josué Alves da Cruz (1904/1968) foi cantador afamado em todo o Nordeste; cantou com João Benedito e, segundo conta-se, morou por algum tempo em Esperança, na rua João Mendes. Acerca de sua capacidade de versejar, ele próprio afirmava "No poço da poesia/ É aonde tomo banho". O irmão Zé Paulo é um crente fiel e mui piedoso; diz sempre se lembrar de mim em suas orações. Ele é sobrinho de Pedro Pichaco, de quem já dei conta de algumas de suas histórias neste blogue. Por esses dias, em pesquisas na web deparei-me com a recitação dos mesmos versos, agora modificados na voz do poeta Tenório de Lima: “ Já