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Sol: A Harmonia das Esferas


Sob este título – A Harmonia das Esferas – Silvino Olavo anunciava seu próximo livro de poesias.
Assim é que, no verão de 1952, praticamente curado, e morando com os seus pais na Fazenda Bela Vista, neste Município de Esperança, passeava o vate pela Campina Grande, visitando amigos e livrarias, como que a espreitar o clima literário daquela cidade.
Seis anos antes, o também poeta Castro e Silva anunciava no “Nordeste”, revista ilustrada do Recife, este mesmo livro, escrito por Silvino no recolhimento de seu asilo.
No seu dizer, eram “versos maravilhosos, que bem denotam o velho paisagista das imagens, autor de tanta poesia bonita e boa, esplendente daquele lirismo evocativo dos últimos românticos...”.
Conhecera-o na Capital paraibana, trajando-se com esmero, de estatura bem proporcionada, “na simplicidade de todos os seus gestos e na pureza singular de todas as suas palavras e ações”.
Dizia-lhe os versos maviosos, tão bons quanto à poesia inédita quando o poeta “não era positivamente louco, - muito embora de louco queiram classificar a todos os poetas...”.
O livro enceta algumas poesias do Cysne, com um toque diferente, refazendo-lhe alguns versos; e traz certos monólogos que impressionam pela sua pujança. Veja-se os versos finais de Sonhando viver:
Meu consolo maior na vida indiferente
vem-me desse luar, de esplêndida redoma,
qual sorrido de Deus num perdão soberano...”.

O mesmo se pode dizer Do breviário de um monge que praticamente repete uma sua poesia. Seria recriação ou releitura poética, ou como ele mesmo certa feita escreveu, “copiando a mim mesmo”?
E mais adiante em Sadismo, Silvino foge ao lirismo que lhe é peculiar, para mostra um lado estranho deste escritor:
Não, meu bem:
não direi.
Não direi o que sei nunca a ninguém...”.

Há ainda os versos de Visão dolorosa e Sob a lâmpada triste; e Sereno sacrifício, que nas palavras de Castro e Silva é “um soneto íntimo, feito com o mesmo devotamento das horas felizes do amor e do sonho, do poeta e da amada...”.
Olavo revive as primeiras conversas, o despertar do amor primêvo, o beijo virginal daquele amor inesquecível. E confessa: “Foi numa noite azul de céu primaveril.../(...) E os meus lábios pousei nos teus lábios de seda, levemente... num beijo amoroso e sutil...”.
Costa e Silva termina este texto, que bem poderia ser o prefácio de Harmonia das Esferas, narrando que o poeta era consciente de seu estado, agravado pelo sofrimento e pela dor, desilusões e inquietude, desejoso de vida e de melhores sonhos, sendo a poesia seu único lenitivo.
Naquele passeio por Campina, em busca de alguém que pudesse imprimir a sua poesia, relançando-o às estrelas que tanto almejava, fez-se acompanhar do cunhado Waldemar Cavalcanti, qual Quixote e seu companheiro.
Apesar dos contatos feitos à época, o livro não veio à lume.
Anos depois, deparo-me com a sua poesia e também não encontro quem as possa publicar. Quem o sabe - nesse “ciclo vital autofágico” - quando sairá do prelo.

Rau Ferreira

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