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Josué da Cruz em Esperança


Josué Alves da Cruz foi cantador afamado em todo o Nordeste. Nasceu no Sítio Araçá, próximo à Arara, à época pertencente a Serraria, no dia 09 de setembro de 1904. Faleceu nesse mesmo município, no Sítio Gravatá, em 28 de novembro de 1968.
Por esse tempo já não cantava mais e dedicava-se a agricultura. Foi na roça que passou mal e, chegando em casa, assentou-se numa cadeira de balanço, onde veio à óbito.
Casou-se duas vezes, uma delas com a senhora Maria Dias de Oliveira com quem teve dois filhos: Luiz e Josué Filho. Conheceu-a no Sítio Riacho Fundo, fixando residência em Esperança, no Estado da Paraíba.
Cantando com João Benedito Viana, amigo e poeta esperancense, disse:
Vejo o mundo dividido
Entre plebeu e nobre,
Um é preto e outro é branco,
Um rico e outro é pobre,
Deus é Senhor de tudo:
E o céu a todos cobre”.

Sobre o colega, Josué confessou em cantoria:
O Viana de Esperança
Eu ouço desde menino
Tem memória e peito fino,
Canta e glosa abertamente!
Faz gosto ouvir-se o repente
Do cantador nordestino!”.

Cantando Josué com Canhotinho em Esperança recitou os seguintes versos:
“Deus me livre do passado
Judas cuspia na face de Jesus sacramentado
Maria via seu filho de sangue todo banhado
Pedro negava Jesus
Cristo morria na cruz
Deus me livre do passado”.

Vicente Simão – contador de histórias local – me disse em depoimento que Josué chegou a residir no final da rua João Mendes em Esperança.
Certa feita, quando ainda morava neste município, chegou um homem procurando a sua casa, respondendo Josué: “Aqui, o que está acontecendo”.
Disse o portador que na loja de seu Manoel Farias havia um cego que veio do sertão procurando cantoria, querendo saber onde Josué da Cruz morava. O cantador pulou da rede e disse: “Luiz, Dedinha, vão lá  na loja de Manoel Farias, que o cego Cesário, está aí’. Fizeram várias cantorias e o cego ficou mais de uma semana em Esperança.
Também nesta cidade Josué cantou com Terezinha Tietre na “Loja Brasil”, de seu Dogival Costa. Terezinha só andava acompanhada de sua genitora, pois era ainda moça; porém sua fama era grande, chegando a desafiar, naquele mesmo recinto, o experiente José Alves Sobrinho.
Entre as amizades aqui cultivadas, estava a de Toinho da Mulatinha (1927/2016). Irani Medeiros em seu livro (ver referências) registra que eles “tomaram muita cachaça na feira de Campina e em Esperança”.
Aos poucos vamos descobrindo, nas vozes e na memória do povo humilde, poesias do cantador, enquanto residente neste torrão. Esperamos, em breve, dar notícias destes versos, a exemplo daquele que nos foi lembrado por João Paulo Pichaco, publicado aqui neste blog, em postagens anteriores.

Rau Ferreira


Referências:
- MEDEIROS, Irani (org). Josué da Cruz: o cantador de Serraria. Ed. Ideia. João Pessoa/PB. 2006.
- SOBRINHO, José Alves. Cantadores com quem cantei. Ed. Bagagem. Campina Grande/PB: 2009.

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