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Antes que me esqueça: A Praça da Cultura

As minhas memórias em relação à “Praça da Cultura” remontam à 1980, quando eu ainda era estudante do ginasial e depois do ensino médio. A praça era o ponto de encontro do alunado, pois ficava próxima à biblioteca municipal e à Escola Paroquial (hoje Dom Palmeira) e era o caminho de acesso ao Colégio Estadual, facilitando o encontro na ida e na volta destes educandários.

Quando se queria marcar uma reunião ou formar um grupo de estudos, aquele era sempre o ponto de referência. O público naquele tempo era essencialmente de estudantes, meninos e moças na faixa etária de oito à quinze anos.

Na época a praça tinha um outro formato. Ela deixava fluir o tráfego de transporte de carros, motos, bicicletas... subindo pelo lado direito do CAOBE, passando em frente à escola e descendo na lateral onde ficava a biblioteca. A frequência àquele logradouro era diuturna, atraída também pelas barracas de lanche que vendiam cachorro-quente e refrigerante, pão na chapa ou misto quente, não tinha muita opção.

À noite, eventualmente, a gente também se dirigia para a praça pra se encontrar, conversar, pra brincar e ficávamos ali naquele ponto vendo o trânsito fluir, os carros passarem, alguns colegas tinham bicicleta e faziam esse trânsito.

Ali também ficavam três barracas de cachorro-quente, as barracas de lanche, elas basicamente vendiam cachorro-quente e o refrigerante e batata-frita, não tinham outras opções, o lanche era esse, no máximo um misto-quente. Então quando a gente queria lanchar à noite era aquele ponto.

Os proprietários das barracas também eram estudantes, era o Lêdo, o Zezinho e o Tité. Eles eram estudantes do colégio estadual e naquele período em que eles não estavam em aula abriam a barraca. Isso também favorecia a gente, pois como estávamos no mesmo patamar, favorecia chegar lá e estar com eles.

A comunicação era bem mais fácil, e a gente podia até comprar e deixar no “pendura”; porque o conhecimento da escola favorecia isto. Tinham aqueles garotos que estudavam n’outras escolas, tanto em Areia (Santa Rita) como em Campina Grande (11 de outubro, Cepuc e Pio XI) direcionadas ao ensino médio.

Esses rapazes tinham um poder aquisitivo melhor e frequentavam a praça eventualmente, com finalidade de diversão, lazer ou paquera. Tinha ainda um grupo de meninos que andava de skate e de patins, coisas que pra gente era inacessível.

Antigamente, onde era a praça, era um descampado. Muitos caminhoneiros aproveitavam o declive para que o carro ganhasse velocidade e desse ignição no veículo. Foi por iniciativa de Luiz Martins que resolveu construir a praça. Um cidadão observando a biblioteca e o Caobe disse que ali era a praça da cultura. E foi assim que nasceu a praça, por iniciativa de Luiz Martins de Oliveira, seguindo a orientação de “Pretinho”, quanto ao nome que seria inaugurada.

Hoje a praça pode ser referência para muitas coisas, e para outras gerações; mas não para mim, nem os da minha época, pois o layout é outro, o desenho é muito diferente de nosso tempo, e não propicia aquela volta em torno do Clube e Escola, descendo pela Biblioteca, que fazia a alegria de quem tinha algum veículo, dando vista às meninas e muito inveja aos rapazes.

Não me reconheço mais. Nem encontro na praça o ambiente favorável às minhas lembranças.

A minha cidade desapareceu. Imagine que os amigos se foram, restando uns poucos que pouco vejo. Os lugares também mudaram muito, há uma leva de gente nova, que nem sei quem são e agora estou naquela de perguntar você é família de quem? Isto para poder me localizar... e quando vejo, é filho/filha de um amigo. Que coisa estranha! E os passos longos me acompanham, e a vista me escurece, e as mãos tremem e a memória desvanece. 

Rau Ferreira


Comentários

  1. E assim se conta uma bela história. Saudosista e questionador. Também não me vejo na maiorias das ex-praças que viram adros desavisados e mudam de nome, "desomenageando" os antigos e confundindo a gente que, como o homenageado de então, fica no passado. Louvo as novas, mas cada vez mais distantes, para outras comunidades e, lamento os novos adros, que, desde sempre, apenas aproveitam uma sobra de terreno. Pelo menos não viram lixão.

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