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Onde está o ouro de Esperança?

  Quando menino, na casa de meu avô paterno, Dogival Costa, descobri um poço que ficava em baixo de uma videira. O meu desejo por um cacho de uvas despertou-me a curiosidade do foço em forma de anel, com tampa de madeira, onde minha avó Nevinha buscava água “para o gasto”, como se diz aqui no Nordeste, quando esse fluído é usado para qualquer coisa que não seja na alimentação. Aproximei-me da tampa e, nem bem a levantei, quando ouvi os gritos de minha avó, chamando-me a atenção: “Cuidado menino!”. Era um poço fundo, cavado há muitos anos, com uns oitenta centímetros de diâmetro, o suficiente para entrar uma lata de zinco, utensílio muito usado na minha terra para coletar água. Passado o susto, fiquei sabendo da construção daquela casa, do quanto meus avós se empenharam; seu Dogival puxando agave para construir a casa da Juviniano Sobreira nº 144, e minha vó Nevinha o ajudando nas feiras (pois ele também era comerciante de roupas) e fazendo artesanato. Foram dias difíceis, conta...

Barbeiro, uma das profissões em extinção (por João de Patrício)

  A modernidade faz desaparecer fatos, coisas, transforma atividades informais e apaga certas imagens que vivemos no passado, não existem mais como fato concreto, nem na nossa lembrança. As fotos resgatam esses fatos, nos levam ao passado, mas é preciso preservar como documentos, não apenas como lembranças. A foto acima é uma das milhares escondidas nos baús de muita gente. Era a década de 60, ainda não havia chegado à nossa sociedade salões de beleza, requintados, movidos à internet, aos utensílios eletrônicos, ao ar condicionado e às ornamentações exóticas que são chamadas de modernas. A imagem que vemos retrata a época romântica do uso de barbearia, em que só os homens frequentavam para fazer a barba, cortar o cabelo e ajeitar o bigode. O barbeiro não recebia o nome de cabeleireiro. Usava-se a espuma de barba, a loção pós-barba, a tesoura apropriada para barbeiro, a navalha era importada, de preferência da marca alemã. O barbeiro era bem vestido, usava roupa esporte fino, gr...

Donatila Lemos e o Externato São José

  Donatila Lemos Pereira de Melo nasceu no Engenho Olho d’Água de Areia-PB, no dia 30 de julho de 1912. Era filha de Manoel Felix Pereira de Melo e Toinha Lemos (Dona Finfa). Querelas políticas fizeram com que seus pais deixassem a terra natal, vindo residir em Esperança em janeiro de 1939, quando passou a lecionar na Escola “Irineu Jóffily”. Possuía uma didática rígida, fazia uso da palmatória e exigia que seus alunos apresentassem boa compostura, obedecessem a moral e os bons costumes. A sua base educacional era a religião cristã e o conservadorismo que aprenderam com a professora Lídia Fernandes nessa cidade, e dona Amália Veiga Pessoa Soares em Areia-PB. Fundou, dirigiu e ensinou no Externato São José que funcionava na sua residência, na rua Manoel Rodrigues de Oliveira (Chã da Bala). As lições tinham início na Cartilha do ABC, seguido de textos de autores diversos para compreensão da língua materna, como a didática da Antologia Nacional de coautoria de Fausto Barreto e C...

Novel acadêmico: Rau Ferreira, Silvino Olavo (por Ailton Eliziário)

Reproduzo a seguir texto do professor e membro da Academia de Letras de Campina Grande – ALCG, Ailton Eliziário, publicado no “paraibaonline” que antecedeu a minha posse na Cadeira nº 35 que tem como patrono o poeta Silvino Olavo da Costa. Na ocasião, havia concorrido à vaga deixada pelo falecimento de Paulo Gustavo Galvão. Eleito, tomei posse no dia 17 de novembro de 2017, no auditório da Associação Comercial de Campina Grande – Paraíba.   Novel acadêmico, Por Ailton Elisiário (*) Nesta próxima sexta-feira 18 a Academia de Letras de Campina Grande estará empossando mais um acadêmico. Trata-se de Rau Ferreira, que foi eleito para ocupar a vaga de Paulo Galvão, na Cadeira n. 35 cujo patrono é Silvino Olavo. Silvino Olavo era poeta e nasceu em 27.04 1897, na Fazenda Lagoa do Açude, em Esperança. Em 1921 foi para o Rio de Janeiro, onde lá se formou em Direito e escreveu para alguns periódicos. Em 1924 publicou Estética do Direito e Cysnes, seu primeiro livro de poesias. R...

Padres de Campina (Epaminondas Câmara)

Em artigo para o jornal “O Rebate” responde o esperancense Epaminondas Câmara a pergunta “Quantos padres nasceram em Campina Grande”, isso considerado à época da publicação, e sua pesquisa nos idos de 1957. Ao início do artigo, nos chama a atenção por ser a cidade rainha a que mais conta com filhos titulados nas escolas superiores. De fato, Campina possui centros universitários, e não era de se estranhar, que esse Município se destacasse no seio acadêmico. E prossegue fazendo um contraponto com o seu objetivo: “ Seria enfadonho se fossemos nomeá-los. Se é grande o número de doutores, é pequeno o de padres e frades ”. Lembra o articulista que nos tempos do Império ordenava-se um ou dois membros de cada família abastarda, “ em cuja casa grande havia capela e sacerdotes para os ofícios divinos; hoje não há mais tal demonstração de fé que tanto brilho emprestou ao culto público ”. Durante a monarquia, o Seminário de Olinda, o único no gênero até 1854, conferia as ordens maiores a inúme...

Esperança: como era em 1973

  O texto a seguir é um apanhado do “Almanaque da Paraíba”, e apresenta o nosso Município em seu contexto no ano de 1973. Algumas informações estão, por óbvio, desatualizadas em sua historiografia, e outras equivocadas, de acordo com nossas pesquisas, que podem ser consultadas nesse blog. Categoricamente, apresentamos o quadro municipal na sequência que é posta pela revista. Vejamos: 1. Histórico Em épocas muito remotas a região do atual município de Esperança foi habitada pelos Cariris. Com a chegada de civilizados esses indígenas foram “empurrados” para o interior. Mais tarde, os irmãos Diniz construíram três casas de taipa, uma das quais foi celebrada uma missa pelo Frei Venâncio, primeiro missionário da região. Por volta de 1860 foi construída a Capela de N. S. do Bom Conselho, a partir da qual nasceu um povoado que, em 1908 passava a contar com freguesia própria. Em 1925 foi elevado a categoria de Município, quando se desmembrou de Alagoa Nova. Seu primeiro prefeito nome...

O Jornal "Correio de Esperança"

  Do folhetim em questão apenas mencionava, sem nenhum detalhe, o jornalista José Leal, a existência de um “Correio de Esperança”, elencado pela escritora Maria de Fátima S. Araújo na obra “Paraiba, imprensa e vida: jornalismo impresso, 1826-1986”. Também o “Novo Tempo”, jornal estudantil de Evaldo Brasil & companheiros, arrola entre os jornais que circularam em Esperança, talvez reproduzindo a informação anterior. Intensificando as nossas pesquisas, descobrimos no “Sumário da Imprensa”, do Diário de Pernambuco, notícia de sua veiculação, que reproduzimos a seguir: “ Correio de Esperança – temos em mãos o n. 10, ano 1º, do Correio de Esperança , periódico que se publica na cidade de Esperança, na Parahyba do Norte, sob a direção do dr. Odilon Feijó. O interessante periódico é bem impresso e bem redigido ”. O “Correio de Esperança” foi lançado em 1930, era de propriedade de Sales & Andrade, e tinha circulação semanal. A redação e oficina funcionava na Rua Joviniano...

Embaixatrizes do Ginásio de Esperança

  Colhemos no jornal “O Rebate”, em uma visita ao acervo do Instituto Histórico de Campina Grande – IHCG, um recorte em que se destaca as “Embaixatrizes do Ginásio Diocesano de Esperança”. A nota de jornal destaca algumas alunas do recém inaugurado educandário que visitavam a cidade Rainha da Borborema em busca de donativos, acompanhadas pela Professora Adélia Neves Eis a publicação: “ Acompanhados da professora Adélia Pessoa das Neves esteve nesta cidade uma embaixada de gentis alunas do Ginásio Diocesano de Esperança angariando donativos a prol daquele educandário da terra da Virgem do Bom Conselho. Integra a embaixada as seguintes ginasianas: Doracy Araújo, Maria de Lourdes Câmara, Maria do Socorro Costa, Maria do Socorro Gonçalves, Bernadete de Lourdes Freitas e Lúcia Batista. Almejamos bom êxito às gentis ginasianas ”. O Ginásio Diocesano de Esperança foi idealizado pelo Monsenhor João Honório de Melo, que lançou sua pedra fundamental em 1945, quando ainda era pá...

Sol I Centenário, por Evaldo Brasil

  Comemorando o 1º Centenário de Silvino Olavo da Costa Matéria publicada no “Caderno Terceiro” do Jornal da Paraíba em 15 de outubro de 1997, por ocasião das comemorações alusivas aos 100 anos de nascimento do poeta.   A partir desta sexta, na Câmara Municipal de Esperança, será comemorado oficialmente o centenário de nascimento do poeta e advogado Silvino Olavo da Costa. Às 20 horas haverá final do concurso-recital interescolar, cuja premiação será entregue no sábado, também à noite, na sessão solene da Academia de Letras de Campina Grande, que comemora a data com o lançamento de Badiva – uma coletânea de poesias inéditas do autor de Cisnes (1924) e Sombra Iluminada (1927). A solenidade será presidida por Amaury Vasconcelos, presidente da academia, que prefaciou Badiva, obra resgatada pelos pesquisadores Roberto Cardoso e Marinaldo Francisco Delgado. O evento é promovido pela Prefeitura Municipal em conjunto com a academia – cuja cadeira 35 tem Silvino como patron...

Velhos costumes

  Muita gente ao se referir ao modo grosso de algumas pessoas, dizem que “fulano é como papel de embrulhar prego”, não olvidando conhecer que tempos atrás o papel de embrulho era “pau pra toda obra”. Na verdade, ainda alcancei esse tempo em que ele era embalagem para tudo que se comprava nas vendas e bodegas de nossa cidade, sem qualquer escrúpulo ou ojeriza de hoje, quando as sacolas biodegradáveis dominam o mercado. Pois bem. Lendo o jornal “Correio de Esperança”, periódico que circulou em nossa cidade nos anos ’30 do Século passado, deparei-me com uma matéria que me chamou a atenção nesse aspecto, cujo título era “Velhos Costumes”. De interesse histórico, resolvi então reproduzi-lo nesse semanário: “ Dos velhos costumes de nossa terra, um dos que merecem a nossa reprovação é o de embrulhar em papel de jornal o pão, como a bolacha ou qualquer outro alimento dos quais nos servimos sem lavá-los previamente, ou sofre decocção. Referimo-nos ao pão, porque é o que mais comumente...

Rua Epaminondas Câmara

  A homenagem partiu do Prefeito campinense Elpídio Josué de Almeida em seu segundo mandato (1955/1959), através de mensagem ao legislativo mirim de 22 de julho de 1959. Epaminondas nasceu em Esperança-PB, no dia 04 de junho de 1900, onde viveu até os dez anos de idade, até que sua família se mudou para Taperoá-PB. Veio residir em Campina Grande-PB após o falecimento de seu pai, ocorrido em 14 de fevereiro de 1921. Em Campina, com algumas noções de contabilidade, passou a trabalhar no Banco Auxiliar, fazendo carreira por 21 anos. Casou-se com sua prima Isaura, mas não teve filhos. Era católico fervoroso e ajudou a fundar algumas paróquias e associação de moços. Na mensagem Elpídio acentuou o caráter e formação do esperancense: “ Fez por merecer esta modesta homenagem à sua memória. Não disputou cargos eletivos, não exerceu nenhum lugar na pública administração, não pertenceu a facções partidárias, mas prestou a Campina grande um relevante serviço, que exigiu anos seguidos de ...