Muita
gente ao se referir ao modo grosso de algumas pessoas, dizem que “fulano é como
papel de embrulhar prego”, não olvidando conhecer que tempos atrás o papel de
embrulho era “pau pra toda obra”. Na verdade, ainda alcancei esse tempo em que ele
era embalagem para tudo que se comprava nas vendas e bodegas de nossa cidade,
sem qualquer escrúpulo ou ojeriza de hoje, quando as sacolas biodegradáveis
dominam o mercado.
Pois
bem. Lendo o jornal “Correio de Esperança”, periódico que circulou em nossa
cidade nos anos ’30 do Século passado, deparei-me com uma matéria que me chamou
a atenção nesse aspecto, cujo título era “Velhos Costumes”. De interesse histórico,
resolvi então reproduzi-lo nesse semanário:
“Dos
velhos costumes de nossa terra, um dos que merecem a nossa reprovação é o de
embrulhar em papel de jornal o pão, como a bolacha ou qualquer outro alimento
dos quais nos servimos sem lavá-los previamente, ou sofre decocção.
Referimo-nos
ao pão, porque é o que mais comumente vemos envolvido em trapos de jornal
sujos, e que são veículos de micróbios de naturezas várias.
Este
pecado de higiene deve merecer as vistas enérgicas do sr. Prefeito do
município, para que s. s. tome as prontas providências que a higiene requer em
casos idênticos; e também para que a superior autoridade municipal, no
relatório que há de apresentar ao corpo legislativo do município, por ocasião
de sua próxima reunião, dispense alguma atenção ao momentoso assunto e lembre
aos sr. fazedores de leis municipais medidas tendentes à higiene de mercadorias
expostas à venda.
Tudo
pela saúde pública, que é a saúde de cada um de nós”.
Ao que parece, o reclamou
foi atendido, porque décadas depois, havia uma certa separação de tipos de
papeis que serviam para acondicionar alimentos, para aqueles que eram
destinados a mercadorias mais grosseiras, como aquelas ferragens ditas no
início deste artigo.
Talvez o desgosto do
autor do texto publicado no Correio seria pelo uso indevido de seus folhetins, por
algum adversário que não lhe quisesse dar o devido valor, colocando em
condições mais indignas o jornal.
O “Correio de Esperança”
foi lançado em 1930, era de propriedade de Sales & Andrade, e tinha
circulação semanal. A redação e oficina funcionava na Rua Joviniano Sobreira. O
expediente era assinado por Luiz Gil de Figueiredo, tendo como
redator-secretário Severino Torres. O jornal aceitava colaboração franca e
anúncios comerciais. A assinatura anual custava 10$000 e o número avulso $200.
Há notícia de que se
publicava, também, na mesma oficina, folhetos de cordel de propriedade do poeta
Zé Parahybano, que eram agenciados por Severino Gazeteiro em Mulungu-PB, e na
própria redação do jornal em Esperança-PB.
Rau
Ferreira
Referências:
-
ESPERANÇA, Correio (de). Órgão independente e noticioso. Sales & Andrade. Ano
I, Nº VIII. Edição de 22 de março. Esperança/PB: 1930.
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