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A Pedra do Caboclo Bravo


Há quatro quilômetros do município de Algodão de Jandaira, na extrema da cidade de Esperança, encontra-se uma formação rochosa conhecida como “Pedra ou Furna do Caboclo” que guarda resquícios de uma civilização extinta.
A afloração de laminas de arenito chega a medir 80 metros. E no seu alto encontra-se uma gruta em formato retangular que tem sido objeto de pesquisas por anos a fio. Para se chegar ao lugar é preciso escalar um espigão de serra de difícil acesso, caminhar pelas escarpas da pedra quase a prumo até o limiar da entrada.
A gruta mede aproximadamente 12 metros de largura por quatro de altura e abaixo do seu nível há um segundo pavimento onde se vê um vasto salão forrado por um areal de pequenos grãos claros.
A história narra que alguns índios foram acuados por capitães do mato para o local onde haveriam sucumbido de fome e sede. As várias camadas de areia fina separada por capas mais grossas cobriam ossadas humanas, revelando que ali fora um antigo cemitério dos primeiros habitantes. Há relatos de objetos indígenas como esteiras e varinhas marcadas com tinta encarnda, e de pinturas nas paredes.
Em 1874, o comerciante João Lopes Machado visitou a pedra e descreveu suas impressões:

Descobri até a terceira camada, a ossada era sempre de tamanho descomunal. Um chapéu de oito pontos seria pequeno para uma caveira que tive entre as mãos; canelas e ossos da coxa com mais de três palmos; cabelos com mais de vara de comprimento. Também descobri uma tanga de palha de cores, mas que se desmanchava ao mais leve contato. Remeti ao governo da província amostras de tudo isso, acompanhadas de uma descrição da serra e da caverna, que aqui é conhecida pela furna dos caboclos, até hoje sem resposta. O que ainda não pude compreender é como podiam ser para ali conduzidos os cadáveres”.

Esse depoimento não é isolado. O latinista Joaquim Silva, respondendo ao questionário formulado por Ramiz Galvão em 1881, relata igualmente esses achados. E conforme artigo publicado n'A União em 1930, L. Schwennhagem também observou os vestígios dessa civilização desaparecida.
O lugar certamente fora o último reduto dos Índios Cariris, exterminados pelos gentios colonizadores. Porém este sítio arqueológico vem sido profanado desde o Século XVII. Nada mais resta no fundo da caverna senão a areia revolvida e que não pode ser carregada.
A Pedra do Caboclo Bravo chama a atenção não só pela sua importância arqueológica e histórica, mas pela beleza natural que encanta a todos quanto visitam aquelas paragens. Estudos mais aprofundados devem revelar a sua verdadeira origem há muito investigada.

Rau Ferreira

Fonte:
  • ALMEIDA, Horácio. Brejo de Areia: memórias de um município. 2ª Edição. Editora Universitária, UFPb: 1980, p. 33/34;
  • Blog Oficial de Algodão de Jandaíra, disponível em http://algodaodejandaira.blogspot.com;
  • Foto, Pedra do Caboclo: SPA, Boletim 44 – Fevereiro de 2010, p. 4.

Comentários

  1. Como já lhe postei, eu lembro desse poço no quintal do seu Dogiva, mas da história do "veio de ouro" eu desconhecia.
    Essa historia me fez voltar à mente uma outra que fala da família Anisio e que você também conhece.
    Conta-se que quando chegaram de Lagoa de Pedra para residir em Esperança, alugaram ou compraram a budega da esquina que fora do Seu Zizí, e começaram um pequeno negócio. Passou a se chamar a "Budega de Louro".
    Pois bem, depois de um certo tempo compraram a casa de frente à budega esquina da rua que dá para a Rua da Floresta onde na outra esquina ficava a casa de Seu Licínio Curvelo.
    Concluindo a história, os Anísio começaram uma pequena reforma com mudanças de paredes da casa, foi quando no quebra-quebra de uma das paredes encontraram um jarro com uma certa quantidade de moedas de grande valor metálico, sabe Deus se em prata ou se em outra liga de igual valor.
    Fala-se, também, que o vaso no qual estavam as moedas foi adquirida pelo senhor "Seu Dionísio", que colecionava objetos antigos e que era sogro do meu irmão mais velho "Seu Liu", ainda hoje lúcido com 96 anos de vida e que reside no Rio de Janeiro.
    A partir desse foto, comentava-se que os Anísio começaram a melhorar de vida.

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