Quando menino, na casa de meu avô paterno, Dogival
Costa, descobri um poço que ficava em baixo de uma videira. O meu desejo por um
cacho de uvas despertou-me a curiosidade do foço em forma de anel, com tampa de
madeira, onde minha avó Nevinha buscava água “para o gasto”, como se diz aqui
no Nordeste, quando esse fluído é usado para qualquer coisa que não seja na
alimentação.
Aproximei-me da tampa e, nem bem a levantei, quando
ouvi os gritos de minha avó, chamando-me a atenção: “Cuidado menino!”. Era um
poço fundo, cavado há muitos anos, com uns oitenta centímetros de diâmetro, o
suficiente para entrar uma lata de zinco, utensílio muito usado na minha terra
para coletar água.
Passado o susto, fiquei sabendo da construção
daquela casa, do quanto meus avós se empenharam; seu Dogival puxando agave para
construir a casa da Juviniano Sobreira nº 144, e minha vó Nevinha o ajudando
nas feiras (pois ele também era comerciante de roupas) e fazendo artesanato.
Foram dias difíceis, contavam com um certo saudosismo.
Mas o que me prendeu os ouvidos foram as histórias
de ouro. Segundo ouvi falar, quando se estava cavando aquela cisterna (também a
chamavam assim), depararam-se os trabalhadores com um “veio de ouro”. Não era
muita coisa e nem se sabe se era “pirita”, dissulfeto de ferro mais conhecido
como “ouro de tolo”. Enfim, quem retirou o minério – ao que parece –, não
voltou para contar...
Semelhante história vivenciei quando se estava
fazendo o calçamento da rua José Ramalho da Costa, próximo a rua Floriano
Peixoto.
No auge dos meus 12 anos, era muito próximo de
Clodoaldo Silvano Magalhães, filho de Genival do Calçamento, que era o empreiteiro de confiança
de seu Luiz Martins, então prefeito de Esperança-PB.
Todas as tardes, a turma de trabalhadores se reunia
para jogar bola e sendo amigo de Clodoaldo, também comparecia no canteiro de
obras onde entre paralelepípedos se fazia duas traves encenando um campo de
futebol.
Também nesse local, segundo disseram os operários,
havia um veio de ouro. Nada expressivo, segundo fiquei sabendo e nem valia a
pena – disse-me Genival – o que depois foi encoberto pela pavimentação, menos
de dois meses depois.
Histórias como essa sempre alimentam o imaginário
popular. Quem não queria achar ouro perto de casa, não é verdade? Porém, sempre
me questionei: onde está o ouro de Esperança?
Por um acaso, deparei-me com uma publicação inglesa
sobre mineração chamada “Economic Mining” datada de 1895, que faz menção ao
veio esperancense.
Para conhecimento dos leitores, apresento uma
tradução livre deste parágrafo que cita o nosso município, destacado na imagem
deste artigo:
“No Brasil, a platina nativa ocorre nos cascalhos
auríferos de Minas Gerais, associada à iridosmina, platinirídio e uma liga de
paládio e ouro; em grãos nos vermes auríferos da Boa
Esperança na Província da Parahyba do Norte; enquanto o ouro do Gongo Soco jacutinga de
Minas Geraes é frequentemente encontrado misturado com platina, e
ocasionalmente com paládio. Os depósitos plaitiníferos do Brasil são ainda
distinguidos por duas ligas nativas muito raras- orpezita, uma liga de
paládio-ouro que ocorre em Porpez e rádio-ouro. A produção anual é agora muito
pequena” (pág. 586, grifei)
Boa Esperança foi um dos nomes do nosso município
até os idos de 1872, que também já se chamou Banabuyé (1757) e, tão somente
adotou oficialmente “Esperança”, a partir da instituição da freguesia do Bom
Conselho (1908).
Não fosse esse minério, por aqui já transitou o
“ouro branco” (algodão) e a batatinha inglesa, que fizeram a riqueza de muita
gente, o primeiro nos anos 40, e este segundo em meados dos anos 80 do século
passado.
Alguns fatos curiosos gravitam em torno dessa
história. A casa do meu avô foi comprada por um joalheiro da cidade. Em
Esperança há uma “Lotérica Lírio de Ouro”, e até na internet encontramos o blog
de Jailson Andrade, o “Esperança de ouro”. Mas como dizem, nem tudo que
reluz...
Rau Ferreira
Referência:
-
LOCK, C. G. Warnford. Economic
Mining: a practical handbook for the miner, the metallurgist, and the merchant. E & F. Spon. London: 1895.
-
MELO, João de Deus. Esperança
e seus primórdios. Jornal Novo
Tempo. Edição Especial Comemorativa. Ano IV, nº 23, Nov/Dez. Esperança: 1995.
Nas obras da Rua Farmacêutico João Mendes também se levantou um mito de presença de petróleo. Até fiz cordel 49 no tema. Já do ouro, ainda não sabia. Vale um novo cordel! Vale até mineração!
ResponderExcluirComentário de Pedro Dias: Como já lhe postei, eu lembro desse poço no quintal do seu Dogiva, mas da história do "veio de ouro" eu desconhecia.
ExcluirEssa historia me fez voltar à mente uma outra que fala da família Anisio e que você também conhece.
Conta-se que quando chegaram de Lagoa de Pedra para residir em Esperança, alugaram ou compraram a budega da esquina que fora do Seu Zizí, e começaram um pequeno negócio. Passou a se chamar a "Budega de Louro".
Pois bem, depois de um certo tempo compraram a casa de frente à budega esquina da rua que dá para a Rua da Floresta onde na outra esquina ficava a casa de Seu Licínio Curvelo.
Concluindo a história, os Anísio começaram uma pequena reforma com mudanças de paredes da casa, foi quando no quebra-quebra de uma das paredes encontraram um jarro com uma certa quantidade de moedas de grande valor metálico, sabe Deus se em prata ou se em outra liga de igual valor.
Fala-se, também, que o vaso no qual estavam as moedas foi adquirida pelo senhor "Seu Dionísio", que colecionava objetos antigos e que era sogro do meu irmão mais velho "Seu Liu", ainda hoje lúcido com 96 anos de vida e que reside no Rio de Janeiro.
A partir desse foto, comentava-se que os Anísio começaram a melhorar de vida.