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Reminiscências, por Chico de Pitiu


Francisco Cláudio de Lima – Chico de Pitiu – é o autor do livro: 50 Anos de Futebol e etc, uma ode ao esporte local, riquíssimo pela sua narrativa histórica, e raríssimo de se encontrar. A minha edição é de 1994, ano de seu lançamento; a obra tem prefácio do Professor Nino Pereira.

Conheci Chico de Pitiu na calçada da livraria de Audalécio, que também era proprietário da VestBem. A livraria ficava ao lado da Movelaria de seu Otávio, e hoje funciona uma lanchonete.

Chico Cláudio era uma pessoa simples. Cumprimentei-o. Falou-me do livro. Foram poucas palavras. Para mim era a figura de um escritor, algo que para a época era inatingível. Comprei o livro. Mas não o encontrei para pegar o seu autógrafo. Naquele tempo parece-me que ele residia na rua Nova. No entanto, a minha curiosidade pela história não passava disso: uma breve leitura sem grandes compromissos.

De seu livro selecionei as suas “reminiscências”, que passo a transcrever:

“[...] A cidade continua crescendo e em plena fase de desenvolvimento e progresso. Entretanto, já não se vê grupos de jovens correndo pela manhã e indo tomar um recuperador banho no Açude de Joaquim Virgolino, onde tudo era alegria, a maioria contando as músicas da época, sob a batuta do inesquecível Nicinha. Nos domingos, não se vê também, a cidade movimentada e alegria de outrora, com a sua população envolvida no clima nervoso e festivo que procedia os embates futebolísticos no velho campo da “Lagoa”, ou torcendo e gritando por Manoelzinho, Gilvan, Mafia, Naldinho, Arlindão, Petrus, Vavá, Marré, Pedro Bala e Eliezer.

Ninguém vê mais o Professor José Coêlho com sua oratória criativa e brilhante, contando histórias de aventuras e declamando o poema “MÃE” de sua autoria e o mote “Diferença entre o homem e o tempo”, do esquecido poeta popular, o velho João Benedito, aquele que morava ali na antiga Rua do Boi.

[...]

Poucos estão lembrados do velho Zé Nicolau, seresteiro, poeta e alcóolatra. Matava suas mágoas afogado na cachaça e declamando poemas como este:

Se o mundo fosse de roxa,/E a gente nunca morresse/ Só existisse mulheres belas/ E o dinheiro só crescesse,/Que bela vida seria!/Ninguém chorava, ninguém gemia.

Incluo também nessas reminiscências, a figura grandiosa de Silvino Olavo, o poeta maior da terra, que nos momentos de lucidez, iluminava com a sua poesia e o seu saber, os corações e as mentes dos que dele se aproximavam.

Esperancense de escól, distante, não esquecia sua terra, como dizia o Soneto “Retorno”, da sua obra “Sombra Iluminada”, e escrita no Rio de Janeiro em 1927.

Chico Cláudio nasceu em Esperança, no dia 28 de agosto de 1924. Era filho do pedreiro Severino Cláudio dos Santos (Pitiu) e de D. Rosalina Maria da Conceição.

Foi funcionário do Sesp, e dirigente do América de Esperança e do Caobe. Faleceu em 2007. O Posto de Saúde da Família (PSF) do Portal foi denominado em sua homenagem.

 

Rau Ferreira

Referências:

- LIMA, Francisco Cláudio (de). 50 Anos de Futebol e Etc. Ed. Rivaisa: 1994.

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