Roberto
Lyra (1902-1982) nasceu em Recife-PE, e graduou-se em Direito pela Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais (atual UFJ). Ingressou nos quadros do Ministério
Público em 1924, alcançando destaque no Tribunal do Júri, em grandes embates
com os juristas e célebres advogados Evaristo de Moraes e Evandro Lins e Silva,
valendo-lhe o apelido de “o príncipe dos promotores públicos”.
Em
reportagem especial para o “Diário da Manhã”, o então promotor, falando sobre
sua vida íntima, comenta o livro “Sombra Iluminada” de Silvino Olavo.
Silvino
também estudou na mesma faculdade que Roberto, sendo crível que tenham se
conhecido na academia, quiçá tenha frequentado as mesmas salas de aula! Em todo
caso, Lyra o chama de “amigo querido”.
Assim
começa Lyra a sua digressão: “Ultimamente, Silvino Olavo, de passagem pelo Rio, pôs, nas minhas mãos, com uma dedicatória cativante, a sua Sombra
Iluminada. Versos. Sorri, pensando nos autos, nas leis sibilinas, nos
tratados massudos que os deveres profissionais me reservavam para a noite”.
E
prossegue, o também colega, já que Olavo por um tempo foi 1º Promotor da
Capital paraibana:
“Chegou a madrugada com a intimação do repouso
imprescindível ao dia alvorescente. Os olhos sonolentos relancearam pelo livro
de Silvino. O carinho pelo amigo querido... A curiosidade pelo seu talento
festejado... O volume recebido com o
entusiasmo das consagrações inconfundíveis...
Abri, ao acaso, a Sombra Iluminada:
RETORNO
Revejo a
terra onde vivi criança
a
encantadora vila de Esperança,
cuja
recordação me faz feliz...
e onde
joguei meus jogos pueris –
Meu
castanheiro e sua sombra mansa
minha
casinha perto da Matriz,
meus pais
e meus irmãos, quanta lembrança!
minha
menina – a que mais bem me quis!
Beiral de
casas brancas e baixinhas,
onde se
agiram, quando a gente dorme,
num
fetivo rumor, as andorinhas!
Ó vida
boa de ócio ingênuio e lindo,
ao
recordar-te vem-me agora um enorme
desejo
alegre de chorar sorrindo...”
Adormeci, relendo uma porção de vezes esse
soneto. Não sonhei com juízes carrancudos e réus suplicantes. Si Freud soubesse
dos quadros, que o sono me projetou na sua tela ilusória, dir-me-ia um pateta,
preso às recordações mais tolas da infância em plena escravidão da vida pública.
Abençoado Silvino! Como faz bem a luz que
ilumina as sombras de todos nós!...
Rio, março, 1928”.
Em sua
carreira jurídica, Roberto Lyra ocupou o cargo de Procurador de Justiça e na
literatura publicou os livros “Teoria e Prática da Promotoria Pública” (1937) e
“O Ministério Público e o Júri” (1993). Atuou na Comissão Revisora dos
Anteprojetos do Códigos Penal (1940), Processo Penal e Lei de Contravenções
Penais (1963).
Silvino
Olavo, após subir nas letras como um meteoro, feneceu por muitos anos,
acometido de uma doença mental, num hospital de alienados; até que foi
resgatado por seu cunhado Waldemar Cavalcanti, contudo sem deixar de produzir a
sua literatura.
Rau
Ferreira
Referências:
- DIÁRIO DA MANHÃ, Jornal. Edição de 16 de
abril. Recife/PE: 1928.
- FERREIRA, Rau. Silvino Olavo. Epgraf.
Campina Grande/PB: 2010.
- AMPERJ, Site: Uma justa homenagem ao principe dos promotores públicos. Disponível em https://www.amperj.org/blog/2021/08/04/uma-justa-homenagem-ao-principe-dos-promotores-publicos/, acesso em 26/20/2022.
Comentários
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.