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Padre Luiz Santiago |
Onde nasceu o Padre Luiz Santiago? Antes, porém,
precisamos responder quem foi este clérigo polêmico e ousado; filósofo, arqueólogo,
historiador, escritor e piloto de avião, uma personalidade com ideias muito
avançadas para o seu tempo.
Os seus pais Delfim Izidro de Moura e Antonia de
Andrade Santiago uniram-se em casamento no Sítio Lagoa Verde, em Esperança, a 18
de novembro de 1896, de onde seguiram para residir numa propriedade na Meia
Pataca. Fruto desse enlace matrimonial, nasceu em 25 de agosto de 1897 um filho,
a quem deram o nome de "Luiz".
A “Meia Pataca” é uma comunidade rural na divisa de
Esperança e Remígio, dividida por um acidente geográfico, ficando assim chamada
de “Meia Pataca de Cima” e “Meia Pataca de Baixo”. A maior parte pertence a
Esperança, terra agricultável para feijão e batatinha, sendo assim chamada,
pela tradição, por ali ter sido encontrada uma moeda de valor.
Uma áurea de mistério envolve o lugar. O menino
cresceu ouvindo as histórias da passagem de Antônio Silvino, cangaceiro temido
na região; e lendas indígenas, como a “Caricé”, passada por sua escrava forra
Gestrudes, que contava a paixão de Yara pelo agrimensor Morais, moço do serviço
da demarcação de terras das Sesmarias.
Não era incomum, na sociedade patriarcal da época,
que um dos filhos se tornasse padre, médico ou advogado, sendo este primeiro
ofício o mais indicado para aqueles menos afortunados.
Assim, sob a proteção do areiense Dom Adauto Aurélio
de Miranda Henriques, primeiro Bispo da Parahyba, seguiu o jovem Luiz Santiago
de Moura para o seminário, ingressando na turma de 1918, onde permaneceu por
uma década.
Ordenando-se padre aos 31 anos de idade, foi nomeado
no ano seguinte (1929) para a freguesia de Cuité.
A sua formação religiosa obedeceu à risca os
trâmites canônicos exigidos para a época, que vasculhavam a vida pregressa do candidato,
pontuando Crisólito da Silva Marques (2016) que fora revista toda a sua
documentação e formação:
“(...) desde o seu nascimento, se o mesmo seria ou
não filho legítimo de seus pais, a data de seu batismo, e de crisma, que para a
Igreja é a confirmação do batismo”.
Em Cuité e região o padre construiu capelas e
combateu ardorosamente o protestantismo, assumindo ainda as freguesias de Picuí
e Pedra Lavrada.
Foi também pecuarista e responsável pela introdução
do agave no Curimataú criando uma máquina para facilitar o seu manejo.
Como arqueólogo, investigou o passado pré-histórico
e indígena do Curimataú, colhendo vários artefatos, que hoje restam depositados
em um museu. Contribuiu também, a pedido do governo, para a confirmação dos
limites territoriais entre Paraíba e Rio Grande do Norte.
Assim escreve João Suassuna, Presidente que governou
a Parahyba de 1925 à 1930:
“Havendo certa confusão de limites entre a Parahyba
e Rio Grande do Norte, recomendei o padre Luiz Santiago ao presidente Juvenal
Lamartine, para o delineamento de um acordo entre os dois Estados” (MS-AL:
1926, p. 31).
É autor dos livros “Serra do Cuité: sua história,
seus progressos, suas possibilidades” (1936) e “Fatos e lendas do meu sertão”
(1965).
O padre tirou seu “brevet”, tornando-se um dos
primeiros religiosos a pilotar avião no Brasil. Sobre esta faceta, encontramos
uma nota de jornal:
“(...) na nova turma de pilotos do Aero Clube da
Paraíba figura o Padre Luiz Santiago, vigário de Cuité, e primeiro sacerdote
brasileiro a receber o ‘brevet’ de aviador” (A Ordem-RN – Ed. Nº 2.363: 1943).
Faleceu Luiz Santiago em 1989, aos 91 anos de idade,
na Fazenda Ubaia do Município de Barra de Santa Rosa.
Mas retornemos a questão da sua naturalidade, seria
ele esperancense?
Em que pese a sua certidão de nascimento ter sido
lavrada em Remígio, no Cartório de Estanislau Eloy (Livro nº 01, fls. 75), à
época uma pequena povoação, declarou o seu genitor que o filho Luiz nascera “em
seu domicílio em Meia Patada deste Distrito”.
A escolha desse registro pode ter sido motivada mais
por conveniência do que propriamente por direito. Com efeito, a “Lagoa do
Remígio” situava-se mais próxima do que a sede do Município de Esperança, além
disso a influência de políticos remigenses para agregar eleitorado,
fortalecendo as bases daquela localidade, podem ter influenciado a decisão.
Ora, Remígio era um povoado do termo da cidade de Areia,
enquanto Esperança sim, já havia se emancipada desde 1925, e constituía termo
judiciário, cujo “Sítio Velho”, englobava boa parte da Meia Pataca.
A Câmara Eclesiástica, no procedimento “Genere Vita
et Moribus”, submeteu ao processo investigativo não apenas a origem (pureza do
sangue, legitimidade) do pretenso seminarista, como a sua formação religiosa. Em
busca dessa verdade, esmiuçou os documentos existentes na Paróquia de Esperança,
conforme adiante se anota:
“Tendo sido de fato confirmado não só o seu batismo,
como também a data de seu crisma, que foi encontrado em documentação da
paróquia da cidade de Esperança - PB; no qual foi constatado que ele foi
crismado na data de quatro de março do ano de mil novecentos e sete, com nove
anos de idade, cerimônia realizada pelo então Arcebispo Dom Adauto e registrado
todo esse acontecimento pelo padre José Barges de Carvalho, então pároco da citada
cidade, na data de vinte e nove de junho de mil novecentos e vinte e sete,
fazendo-se juntar esse documento aos demais para cumprir as formalidades para a
formação do futuro padre" (Marques: 2016).
Entre os documentos admissionais amealhados para
aquela sabatina, que antecedia ao ingresso do seminário, “foi encontrado ainda,
uma carta do então Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Adauto, pedindo ao
pároco da cidade de Esperança, a real procedência do mais novo candidato ao
sacerdócio e o motivo de ser a cidade de Esperança, é que é o município de seu
nascimento e onde estão assentado os seus primeiros registros" (Marques:
2016).
Em resposta, o Padre José Borges de Carvalho, e mais
cinco esperancenses, testemunham inexistir qualquer fato que desabone a conduta
do neófito, assim como uma certidão lavrada pelo Escrivão João Clementino de
Farias leite, atestava que não havia processo crime que fosse causa impeditiva.
Portanto, não apenas a sua instrução primária teria
sido iniciada aqui, como também a eclesial, participando da vida católica de
nossa Paróquia do Bom Conselho. Ademais, seus pais eram da Lagoa Verde, e
escolheram ainda, por morada, a Meia Pataca, nas confrontações do Sítio Velho e
Mulatinha, territorialidades esperancenses.
Espancando qualquer dúvida, é o próprio Luiz
Santigado que, em sua petição de “Vida et moribus”, dirigida ao Padre Raphael
de Barros, da Arquidiocese da Parahyba, se declara nascido e residente na
freguesia de Esperança, e batizado na Paróquia de Areia.
A historiografia respeita os modernos limites
municipais e, nesse caso, resta claro que atribuir a cidadania esperancense
seria mais adequado, não apenas por ser este o seu local de nascimento, como
ficou bem esclarecido, como ter o padre se declarado cidadão de Esperança,
cujos registros eclesiais dão conta de sua vida religiosa em nossa comunidade.
Rau Ferreira
Referências:
- BRITO, Vanderley; OLIVEIRA, Thomas Bruno. Breve
biografia do pesquisador Pe. Luiz Santiago. Boletim Informativo da Sociedade
Paraibana de Arqueologia. v. 19, p. 1-11. Campina Grande/PB: 2008.
- MARQUES, Crisólito da Silva. Fé e poder:
imaginário coletivo sobre o padre Luiz Santiago na cidade de Cuité -PB -
(1929-1941). 2016. 229 f. Dissertação (Mestrado em História) - Universidade
Federal da Paraíba, João Pessoa: 2016.
- IBGE, Site. Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/painel/historico.php?lang=&codmun=251270&search=||infogr%E1ficos:-hist%F3rico,
acesso em 18/12/2017.
- SUASSUNA, João. Mensagem à Assembleia Legislativa
do Estado. Imprensa Oficial. Parahyba: 1929.
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