De muito conheço o filósofo, o
sonhador dos "Cysnes".
Sob o mesmo céu bebemos o encanto
de uma natureza que Ihe deu o vigor inicial de sua encantadora poesia.
Os mesmos aspectos da vida nos
foram familiares em começo, e as luzes primeiras do estudo se repartiram
conosco na comunhão do pensamento, na eucaristia da ideia que lhe fortaleceu a
nascente vocação para o sacerdócio do ritmo.
Cedo a admiração e o aplauso dos
amigos rodearam-no como a um ídolo vivo, sem que a modéstia se lhe fugisse e o incenso
dos elogios o desviasse para as satisfações, tão humanas e efêmeras, da vaidade
deleitada.
E não as procurava.
As grandes cóleras, nunca as
teve. As ruidosas alegrias, se as sentiu, revelou-as com sobriedade. Algumas
vezes, talvez as ocultasse, para saboreá-las sozinho, longe da importunação de um
mundo que a todo prazer ajunta o veneno de sua maldade.
Sempre foi um sereno, na reserva
dos gestos, na simplicidade das palavras.
Acostumou-se a ver o mundo,
mantendo-se acima das indignações que lhe pudesse excitar a gravidade de suas injustiças
e alheio aos arrebatamentos em que o pudesse
envolver o tumulto de seus prazeres.
Essa serenidade tornou-o
filosofo, gerou-lhe um sentimento único, comunicou-lhe um gosto precioso que o
faz fugir ao banal e a tudo que ponha embaraço entre a sua curiosidade de
artista e o segredo de suas meditações.
Os "Cysnes" refletem,
por vezes, num só verso, uma filosofia cheia de resignadas indiferença, talvez
desinteressada pelas imperfeições da humanidade.
João Pessoa, 15.2.1925
Samuel Duarte
Fonte:
- A UNIÃO, Jornal. Cysnes, Samuel Duarte.
Edição de 15 de fevereiro. Parahyba do Norte: 1925.
Assim escreveu Samuel. Que diria Rau Ferreira, Simone Vieira, Professor Alex ou Gustavo Tavares, Maria das Graças Meira Duarte? Eu precisaria reler Silvino, mas Samuel se ampara em um "talvez".
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