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Cantoria de João Benedito

 

João Benedito Viana – João Benedito (1860/1943), cantador e repentista esperancense, pertence à terceira geração de poetas populares. Sabia escrever pouco, pois era da escola matuta; vivia de fazer repente e garrafadas.

Era também curador, tratava os animais com ervas, e ensinava o povo: “cachorro mordido de cobra só pode beber água depois de uma hora” e “banho de fumo com cachaça para varíola”.

Nos idos de 1910, fazia parceria com Antônio Lamparina, da cidade de Areia, fazendo repentes nas feiras da região.

Em suas andanças, aceitou desafios com grandes mestres do repente, como Romano da Mãe-D’água; Nicandro, da Cangalha e seu irmão Hugolino do Sabugi; José Patrício, discípulo de Romano; Silvino Pirauá Lima também discípulo de Romano, Claudino Roseira, natural de Soledade, Paraíba; Zé Duda, mestre de cantoria de grande renome

Também cantou Josué da Cruz (1904/1968), famoso cantador do Município de Serraria, que residiu muitos anos em Esperança, onde João Viana tinha o seu marco de defesa com quem “quase perdia a ribeira”, exaltando as qualidades do poeta, no seu modo de dizer.

Disputou ainda com Antônio Correia do Mogeiro/PB (1887/1959) e o não menos ilustre José Alves Sobrinho (1921/2011).

Chagas Batista registra o desafio de João Benedito com Antônio Correia, do qual extraí as seguintes estrofes:

 

Antônio Corrêa

- Benedito eu fiz um forte

Guarnecendo esta cidade

Onde há perigos enormes

Com grande rigoridade,

Aqui prendo cantadores,

Sem escolher qualidade.

 

João Benedito

- Antônio eu nunca encontrei

Forte que não destruísse,

Nem peso que eu não erguesse,

Perigo que eu não investisse,

Nem cantador de seu jeito

Que uma hora me resistisse.

 

E Zé Alves falando do companheiro de viola, disse que ele foi “Cantador repentista de muito talento com quem cantei e dele recebi grandes lições de vida”, citando os versos a seguir que numa cantoria lhe deu em resposta:

O senhor pensa que veio

Aqui gozar regalias

Mas se engana, você veio

Apenas passar uns dias,

Chegou aqui nada trouxe

E volta com as mãos vazias”.

 

Saro Amâncio que o conheceu bem, acompanhando o velho cantador em muitas de suas apresentações, lembrou que Benedito andava por Alagoa Nova, observando as coisas que haviam na seguinte rima:

Tapioca é do Pintado

Bolo de Joaquim Mané

Laranja é do Ribeiro

Farinha de São Tomé

E abacaxi verdadeiro

Vem das bandas de Sapé”.

 

No casamento de sua filha Eulália, já ao amanhecer do dia, João Viana cantou uma moda. A voz era arrastada, pois o poeta tinha idade avançada. Contudo, impressionou os poetas Serrador e Canhotinho que ali estavam cantando.

Trovador afamado e temível, João Benedito era considerado a “aula dos cantadores” e considerado “um professor” por seus rivais, sendo um dos maiorais do repente paraibano.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

-         ALMEIDA, Átila Augusto e SOBRINHO, José Alves. Dicionário bio-bibliográfico de repentistas e poetas de bancada Volumes 1-2. Ed. Universitária: 1978, p. 250.

-         CASCUDO, Luiz da Câmara. Vaqueiros e cantadores: folclore poético do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará Vol. 6. Ed. Globo: 1939, p. 153.

-         FILHO, F. Coutinho. Repentistas e glosadores: (Poesia popular do nordeste brasileiro). Ed. A. Sartorio & Bertoli: 1937.

-         LIMA, Egídio de Oliveira. Os folhetos de cordel. Editora Universitária/UFPb. João Pessoa/PB: 1978.

-         SOBRINHO, José Alves. Cantadores, Repentistas e Poetas Populares. Bagagem. Campina Grande/PB: 2003.

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