O “Papafigo” é uma
dessas lendas que prolifera no Nordeste brasileiro, com entrada na Paraíba, Pernambuco
e Bahia, e da qual se aproveitam as mães para trazer os filhos maldizentes às
rédeas curtas, e fazer com que o “moleque” não vá para longe, resguardando em
casa sua, para não dar o que falar a vizinhança.
Thomas Bruno – nosso confrade
de academia – em crônica para a União (04/07), citando Câmara Cascudo, nos
informa que se trata de um velho, vestido de trapos que, sofrendo de um mal
incurável, sai no crepúsculo a procura de crianças, para comer-lhes o fígado; e
acrescenta o relato de Adhemar Vidal, que a sua busca se restringia a meninos
malcomportados, fazendo-lhe promessas de ir a certo lugar, ou atraindo lhes com
doces e guloseimas.
Dizia-se, ainda, que
aguardava o enterro dos “anjinhos” nos cemitérios “para a sua saciedade”. E que, segundo Gilberto Freyre, tinha em
toda parte pessoas que pegavam as crianças num saco de estopa.
Também o afirma Vidal
em “Lendas e Supertições” que “Existia
compromisso entre ela e o Papa-figo que ninguém via, não se sabia aonde morava,
nem o que fazia, nada e andaa apenas se tinha a certeza de sua maléfica ação
contra os meninos da cidade” (O Cruzeiro: 1950).
Na minha mocidade, o Papafigo
andava em uma Kombi. Dizia-se que era portadores de uma doença que fazia
crescer as orelhas, e que só com o fígado das crianças, poderiam diminuir a
sequela. Aliado ao papafigo, há o mito do “Velho do Saco” que de igual modo
levava cativa as crianças.
Lembro certa feita que
saíamos do Estadual “Padre Zé” quando nos deparamos com um veículo desses. A correria
foi tal que nem "bala pegava". Todos nós da 6ª série nos separamos,
cada um para a sua casa, numa desembalada carreira.
Essa lenda hoje não faz
sentido no imaginário popular, que a modernidade tratou de apagar, como embuste
do pederasta que sempre foi, e que para manter oculta a sua identidade, dava um
fim aos pequenos.
Rau Ferreira
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