Luar
Consolador é mais um desses poemas de Silvino Olavo que publicados na imprensa
foram revistos pelo autor sob outro título.
O
exemplo mais recente foi a sua escrita “Dó”, que inicialmente titulava o livro “Sombra
Iluminada” (1927) e, passou a ser os versos de abertura desta obra.
Dedicada
à memória de seus treze irmãos, dele já demos notícia em nosso blog, onde
Antonio Fasanaro foi o primeiro a ler e comentar os seus manuscritos, inclusive
com alguns versos inéditos que foram omitidos na edição carioca.
A
despeito do luar muito já se tem decantado, este véu que cobre a noite e
protege os amantes. Sob a luz da lua já se eternizaram sentimentos, o que se
constitui num tema bem recorrente em nossa literatura.
Também
Silvino se coloca este estes que cultuam a noite e suas nuances.
Para
ele o luar é macio e acariciador; é a música que ronda nossas almas e é a própria
essência que atenua a dor (Nem tudo é silêncio na alameda/Oração do amor e da
morte).
Nestes
versos, o vate enfatiza o seu efeito “consolador”. A sua musa – alma gêmea – repousa
no silêncio das noites misteriosas que, ungindo o mundo, assoma qual sorriso de
Deus num perdão soberano.
É
todo ele envolto num mistério celestial evocativo da natureza e do espírito
divino que consola o coração humano. Eis os versos:
Pelo silencio azul das noites
misteriosas
há de haver com certeza ouvidos que me
ouvem
bocas cheias de amor, de vozes que me
louvem
e mãos celestiais que me desfolhem
rosas...
Quem sabe se não há estrelas que noivem
no deslumbrante umbral das noites
luminosas,
às vozes que, ao luar, escuto – harmoniosas,
e que me parecem vir da alma exul de Bethovem?!
Meu consolo maior na vida indiferente
vem-me desse luar quando desnatura a coma
qual sorriso de Deus, num perdão soberano...
E eu me fico a pensar nalgum prêmio
indulgente
que Deus me dá, talvez, pelo esquisito
aroma
que eu ando a derramar para o consolo
humano.
Na
versão do “Brasil Social”, de cujo enxerto trago este poema, o segundo verso da
terceira estrofe está escrito “desnatura
coma”. Na edição de 1985, que deu à lume Marinaldo Francisco e Roberto
Cardoso, lê-se “assoma”. Fui conferir no original! E olha que para a minha
surpresa, o correto é “assoma”.
Soma-se
a isso outro erro, não deste jornal agora, mas de uma outra revista, salvo
engano, da língua portuguesa de 1928, que trazia no poema “Retorno”, a frase “a minha vivenda perto da Matriz”, quando
o certo seria “a minha casa”.
São
erros de edição que ocorrem muitas vezes na transcrição do que foi envidado
pelo autor e do que é pra ser publicado, quando não se tem uma correção
apropriada. Mas como errar é humano...
O
“Luar consolador” ou a “Unção” faz parte da produção silvinolaviana que nestas
pequenas linhas buscamos desvendar.
Na
opinião de Graça Meira, é preciso reler muitas vezes para se captar o sentido
das palavras dentro do contexto poético que encetou o autor.
Silvino
ainda continua um mistério, passados quase um século de vetusta inspiração que
nos deu Cysnes/Sombra Iluminada.
Rau
Ferreira
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