Os fundadores - Jornal da Feira, Ano XI, Nº 127 |
A Feira de São
Cristovão, no Rio de Janeiro, reúne o que há de melhor no Nordeste. Desde a
culinária a arte popular com o repente e o cordel. Todos os dias centenas de
pessoas visitam aquele espaço em busca de suas raízes ou pelo prazer de
(re)descobrir uma parte do Brasil.
Tudo começou por
acaso. Era o ano de 1945, ano de seca no Nordeste e de retirantes que acorriam
a cidade grande (Rio) em busca de uma oportunidade de emprego. A maioria se
destinava a construção civil, já que “tinham pouco estudo”. O desembarque acontecia
no campo do São Cristovão, de onde os Nordestinos tomavam rumo na vida.
A Paraíba era presença
garantida na metrópole carioca. O vai-vem era intenso. Pessoas que fugiram das
agruras do sertão, famílias inteiras que viajavam de “pau de arara” na ilusão
de conseguir melhor destino daquele que lhes reservava às áridas terras do
Norte.
Muitos viajavam apenas
para acompanhar os parentes, garantir o alojamento e lhes conseguir um
trabalho. Levavam os “produtos da terra”, tais como farinha, rapadura, fumo e
cachaça. Lembrancinhas, mimos e agrados que a parentela encomendava e que se
apreciava com certo ar de saudosismo.
Nessa empreitada, se
esforçava João Lourenço da Silva (Macaco) e seus companheiros de jornada
Aluízio do Nascimento (Índio) e Dorgival Severiano (seu Dorge) encima dos
caminhões, com caixotes e malas de mercadorias variadas, naquele que se tornava
o encontro dos conteremos.
Reza a lenda que um
proprietário de armazém nos arredores daquele campo, encomendara uma carga
daqueles produtos. Chegando os paraibanos, não mais encontraram o comprador da
mercadoria e, para não ficarem no prejuízo, resolveram vender para os
companheiros nordestinos.
João Batista de
Almeida – o João Gordo – foi o primeiro a montar um tabuleiro com carne de sol
e fumo, seguido dos colegas João Lourenço (Macaco), Índio e seu Dorge.
Raimundo Santa Helena vendo
um amontoado de gente fez a leitura de um cordel que falava no final da guerra,
que chamou a atenção dos transeuntes. O cordelista lembra a data de 02 de
setembro de 1945, recitando os versos:
“Hoje terminou a guerra
De irmão contra irmão
Voltarei pra minha terra
Vou voltar no meu sertão
Corpo e alma decepados
Pensando nos fuzilados
Desconhecidos soldados
Fazer guerra, nunca irmão”.
Nessa época o cordel
desempenhava um papel importante, pois era a forma mais simples de se
transmitir a mensagem, para muitos considerado o “correio” do sertão e “jornal
do pobre”.
O blogueiro Jailson
Andrade, filho de Pedro Lourenço, afirma em sua narrativa que o encontro era
animado com música e comidas típicas, que se tornou o maior atrativo da feira.
Tombada em 2003, a
feira passou a se chamar Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. E desde
2007 é considerado patrimônio cultural pelo IPHAN/Rio.
O sucesso que hoje
completa 73 anos se deve a João Lourenço e seus companheiros que transformaram
uma situação de adversidade, pois não tinham a quem vender as mercadorias
encomendadas, fundaram uma das maiores feiras de comercialização do Brasil.
João Lourenço é filho
de Esperança, de família tradicional esperancense. Os outros fundadores, também
paraibanos, eram de Alagoa Grande (João Gordo), São João do Cariri (Aluísio) e
Puxinanã (Dorge).
Rau Ferreira
Referências:
- NEMER, Sylvia. Feira de São Cristóvão: foi assim que começou. Anais
do XV Encontro Regional de História. ANPUH-RIO. Rio de Janeiro/RJ: 2012.
- Jornal da Feira – Ano XI, Nº 127. Rio de Janeiro/RJ: 2015.
- Jornal da Feira – Ano XI, Nº 130. Rio de Janeiro/RJ: 2015.
- Jornal da Feira – Ano XII, Nº 133. Rio de Janeiro/RJ: 2015.
Pesquisa na Web:
https://extra.globo.com/noticias/rio/livro-com-historias-sobre-os-fundadores-da-feira-de-sao-cristovao-sera-lancado-no-senado-federal-esta-semana-3328619.html,
acesso em 19/09/2018.
http://www.jb.com.br/index.php?id=/acervo/materia.php&cd_matia=575762&dinamico=1&preview=1,
acesso em 19/09/2018.
Um pedacinho da nossa história Esperancense.
ResponderExcluirVerdadeiro fundador da Feira,3 foi João Batista de Almeida,chamado de João Gordo.
ExcluirSou filho de João Batista de Almeida,chamado João Gordo,nascido no sítio Camucá, próximo a Lagoa Nova.
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