Parte IV
Antonio Silvino |
A passagem de Antonio Silvino pelo Sítio Cabeço do município de Esperança se deu no dia 19 de novembro de 1914, pouco tempo antes de ser preso e levado a julgamento no Recife. Ali aconteceu um dos fatos mais marcantes na vida do cangaceiro, por nós narrado na 3ª Parte deste relato.
Segundo consta, o Capitão atirou num animal inocente que o perseguiu exigindo vingança. A história encontra-se registrada em um folheto de cordel por Francisco das Chagas Batista. Eis o trecho em questão:
“Aos dezoito de novembro
Eu em Pocinhos Cheguei;
Que o Padre Antônio Galdino
Desse-me um jantar, mandei;
E que me servisse à mesa
Ao mesmo padre obriguei.
Ao retirar-me, esse padre
Lançou-me a excomunhão,
Missa de corpo presente
Cantou em minha tensão
Na noite do mesmo dia
Me apareceu uma visão.
Eu estava em uma casa
Jogando bem descuidado
Quando apareceu-me um homem
Com um objeto embrulhado;
E me disse: - Eis um presente
Que para si foi mandado.
Ergui a vista, porém,
Já o homem não avistei;
Abri o pacote, e dentro,
Um par de algemas achei;
Fiquei tão impressionado
Que ali quase me assombrei!
Compreendi que o padre
Botara-me urucubaca!
A estrela que me guiava
Via-a no céu mais opaca;
De minha vida a corrente
Conheci que estava fraca.
Na manhã do outro dia
Eu na estrada encontrei
Com o boi de Cristiano;
Bem à testa lhe atirei;
Visto não pegar o “gringo”
No boi dele me vinguei.
Depois de andar oito léguas
De onde o boi tinha ficado,
Debaixo de um umbuzeiro
Sentei-me um pouco enfadado,
Quando vi chegar o boi
No qual eu tinha atirado.
Esbarrou perto de mim
Ameaçando me dar,
Chegou esvaindo em sangue
E dando para urrar;
Como quem vinha somente
Para de mim se vingar.
Quando vi aquela cena
Perdi logo a esperança;
Conheci minha vida
Estava numa balança;
O urro do boi dizia
Meu sangue pede vingança!
Conheci que aquele boi
Da morte era o mensageiro;
Quis atirar-lhe, e meu rifle
Mentiu fogo; então ligeiro,
Me retirei e não quis
Que o matasse um companheiro.
O sítio Cabeça do Boi ou simplesmente Cabeço situa-se na extrema dos municípios de Esperança e Pocinhos. Esta propriedade constava do decreto de criação da Paróquia do Bom Conselho em 1908. E o marco nº 3 (de Esperança), até a década de 50 situava-se à margem do rio cabeço, na fazenda do mesmo nome.
Fonte:
- BATISTA, Francisco das Chagas. Cordel: Historia completa de Antonio Silvino, sua vida de crimes e seu julgamento.Rio de Janeiro/RJ. Ed. Livraria H. Antunes: 1960;
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Mobral. Esperança/PB. Ed. Unigraf: 1985;
- ESPERANÇA, Paróquia de. Livro Tombo nº I. Esperança/PB: 1908, p. 01/02.
- OLIVEIRA, Bismark Martins de. Cangaceirismo no Nordeste. Senado Federal. Brasília/DF: 1988.
- MEDEIROS, Coriolando de. Dictionário Corográfico do Estado da Paraíba. Instituto Nacional do Livro. Ministério da Educação e Saúde Pública. 2 ed. Imprensa Nacional: 1950;
- SERAFIM, Péricles Vitório. Remígio, brejos e carrascais. Ed. Universitária: 1992, p. 124.
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