Pular para o conteúdo principal

Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cysnes.

O poeta e jornalista Evaldo Brasil escreveu um belíssimo cordel. Na sua composição ele imaginou um encontro surrealista entre o Índio Carriri (pseudônimo de Irineu Joffily) e o poeta dos Cisnes, Silvino Olavo.
Segundo o seu autor, em 1969 Silvino teria deixado o ostracismo e retornado à pátria celestial. “Imagina-se aqui uma saída modesta, uma chegada triunfal e um diálogo sobre as lutas de Irineu e o planejamento da reencarnação deles, em missão”, justificou.
Em sete estrofes, ele desenha a saga destes dois paraibanos ilustres e sua chegada ao céu.
Neste ano em que se comemora 40 anos de morte de Silvino Olavo, nada melhor do que lembrar a sua passagem em versos.

Rau Ferreira

Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cisnes
(Irineu Joffily recebe sorrindo Silvino Olavo da Costa)
I
Quando Silvino morreu
Sem registro de emoção
Vivia fora do glorioso
Tempo da emancipação.
Imagino pouca gente
No enterro daquele ente
Em modesta situação.

II
Quando Silvino ascendeu
Teve alta proclamação
Pois voltara a sua pátria
De onde veio em missão
E com fogos de artifício
Nobre arte e duro ofício
Foram a sua redenção.

III
Um cordelista foi por lá
Numa noite sem dormir
Foi só pra testemunhar
E avistou o Índio Cariri
Com o Poeta dos Cisnes
Eles caminhavam firmes
A comentar dos daqui.

IV
Irineu recebe sorrindo
Silvino Olavo da Costa
Quer saber da Paraíba
Do povo que ele gosta
E o poeta recuperado
Do viver atormentado
Na saudade se acosta.

V
Fala de uma abolição
Que não era a de Irineu
Fala de uma república
Do quanto ela pereceu
Do povo que ainda sofre
Limpeza de tanto cofre
De como tudo se deu.

VI
E Irineu sem desespero
A sorrir para o poeta
Explica que só o tempo
Supera tudo e afeta
Quem manipula a razão
E o povo em expiação
Como ensinou um profeta.

VII
E os dois ladeiam um rio
Como se fossem crianças
E se lançam em desafio
Renovando as alianças:
De quando assim retornar
Cada missão retomar
Num fio de esperanças.

Evaldo Pedro Brasil da Costa
(15 de Abril de 2008)

Fonte:
- Cordel 49.55: Um encontro do Índio Cariri com o Poeta dos Cisnes (Irineu Joffily recebe sorrindo Silvino Olavo da Costa), por Evaldo Pedro Brasil da Costa, 15 de abril de 2008.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

História de Massabielle

Capela de Massabiele Massabielle fica a cerca de 12 Km do centro de Esperança, sendo uma das comunidades mais afastadas da nossa zona urbana. Na sua história há duas pessoas de suma importância: José Vieira e Padre Palmeira. José Vieira foi um dos primeiros moradores a residir na localidade e durante muitos anos constituiu a força política da região. Vereador por seis legislaturas (1963, 1968, 1972, 1976, 1982 e 1988) e duas suplências, foi ele quem cedeu um terreno para a construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes. Padre Palmeira dispensa qualquer apresentação. Foi o vigário que administrou por mais tempo a nossa paróquia (1951-1980), sendo responsável pela construção de escolas, capelas, conclusão dos trabalhos do Ginásio Diocesano e fundação da Maternidade, além de diversas obras sociais. Conta a tradição que Monsenhor Palmeira celebrou uma missa campal no Sítio Benefício, com a colaboração de seu Zé Vieira, que era Irmão do Santíssimo. O encontro religioso reuniu muitas...