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A Civilização da Farinha

  Epaminondas Câmara nasceu em Esperança, na Paraíba. Descendia do tronco dos Oliveira Lêdo pelo lado materno; e do açoriano Francisco de Arruda Câmara. Era assim, pentaneto de Francisco e octaneto de Teodósio, sendo o cristão novo (marrano) Bartholomeu Ledo seu decavô. Tinha, portanto, uma descendência judia por ser Zera Ysrael (semente de Israel) ou Bani Anosim, pois foram forçados a se converter ao cristianismo. Entre tantos e tantos escritos deste historiador, chama-nos a atenção a descoberta, na Paraíba, da “Civilização da Farinha” que, no dizer de Câmara Cascudo, antecedeu a cultura do couro. A mandioca já era uma antiga conhecida dos índios. Dela os aborígenes faziam a farinha d’água, o pão de guerra, a carimã e o beiju. Na época dos escravos, os trabalhadores eram alimentados com dois punhados de farinha seca, umedecidos na boca com suco de laranja. Encontramos este produto, no ano 1624, não unicamente como indígena, tendo-se popularizado, ao ponto de ser utilizada n...

O beco de Mané Jesuíno

  Manoel Jesuíno de Lima hoje dá nome a uma rua do comércio de Esperança-PB. Mas nem sempre foi assim. Aquele local no passado era uma passagem estreita entre as ruas João Pessoa (rua Nova) e Solon de Lucena (rua do Sertão). Quem foi dessa época lembrará que em alguns pontos as suas extremidades distavam pouco mais de metro e meio. Ele nasceu em 1860. Era casado com Luiza Maria da Conceição (1862), de cujo consórcio vieram os filhos: Cassimiro Jesuíno de Lima, Francisco Jesuíno de Lima, Porfíria Jesuíno de Lima, Sebastiana Jesuíno de Lima e Manuel Jesuíno de Lima. Sobre o seu antepassado, nos informa Eliomar Rodrigues de Farias (Cem), autor do livro-genealogia da família Lima: “ Meu tio avô Manuel Jesuíno de Lima, trabalhou como Oficial de Justiça. Ele não tinha comércio em Esperança, era Artesã e um excelente afinador de violão e tocava também em bares de Esperança na época. Quanto ao comércio existente vizinho aos fundos do cinema de Seu Titico, pertencia ao pai Manuel Jesu...

Não foi para isso que aprendi francês e música

  Excerto do romance “Eu e Elas” de Júlia Lopes de Almeida em que cita o nosso poeta João Benedito. Por óbvio que o fato aqui mencionado é apenas uma alegoria literária, no entanto devido a sua importância, trago ao conhecimento dos nossos leitores: “ Não foi para isso que aprendi francês e música. Música eu sei e até muito melhor do que ele – que só de solfejo tive dois anos – e entretanto, outro dia, quando eu disse na sala que João Benedito é um êmulo de Wagner, meu marido sussurrou-me ao ouvido rapidamente: - Não digas asneiras; o João Benedito não é compositor! – Como se também não fosse um grande pianista! Terá ele ciúmes do João Benedito? Quem sabe?... Só o ciúme explicaria alguns dos seus atos, com o não gostar, quando se vê coagido a levar-me a certos banquetes, que eu fique perto de pessoas de mais consideração. Pensará ele, porventura, que eu não tivesse percebido que, sexta-feira, no jantar do Souza, ele tanto andou e tanto fez que mudou o cartão o meu nome para j...

O testamento do Padre Zé

  Um testamento é a manifestação da vontade daquele que, dispondo de seu patrimônio, registra em vida o destino do seu legado post mortem . Por ele também se atribui direitos e deveres a que o testador fiel tem o compromisso de obedecer. É um documento que goza da proteção legal. O Padre Zé Coutinho já não gozava de boa saúde. O inchaço nas pernas o impedia de deambular livremente pela cidade, eis porque fazia uso de uma cadeira de rodas quando percorria as ruas enladeiradas de João Pessoa angariando fundo para as suas obras sociais. Sofrera também um pequeno derrame cerebral “que durou três dias”. Os médicos lhe aconselharam repouso absoluto; não deveria, pois, buscar socorro para os seus pobres. Porém o vigário não se continha, e sentindo-se melhor, saía de encontro ao povo nas portas de bares e dos cinemas recolhendo algumas moedas. O seu estado de saúde inspirava-lhe cuidados. Ele tinha consciência das suas limitações, tanto que solicitou ao amigo e conterrâneo Chico Sout...

João Thomaz Pereira

  João Thomaz Pereira nasceu no dia 26 de outubro de 1912, no Município de Esperança, na Paraíba. Filho do casal Manoel Thomaz Pereira e Ludmila Pereira da Trindade e neto de Enéas Valdevino da Trindade Cunha (1842-1929) e Antônia Francisca Dulcelina da Trindade. Eram seus irmãos: Maria Brígida Pereira, Corina Matilde Pereira, Cassela, Clotilde Pereira da Trindade, Joaquim Thomaz Pereira e Antônia Pereira da Trindade. Seu Enéas foi alferes do 27º Batalhão de Caçadores, sediado no “Brejo de Areia”. Como membro da ordem militar, recebeu a sua espada em 1862. Na divisão administrativa, foi “Juiz de Paz” do 2º Distrito de Esperança (1913-1922). Registra-se em seu segundo livro: “ Esperança, antiga Banabuié, está situada no agreste paraibano, a 30 Km de Campina Grande e a 147 Km da capital João Pessoa. Foi nessa pequena cidade do agreste que o autor passou sua infância e parte de sua juventude ”. Órfão aos sete anos de idade, cursou o ensino fundamental em Bananeiras-PB. E aos...

Sol e sua vida judiciária

  Transcrevo a seguir a coluna “Vida Judiciária” que se publicava no Jornal “A União”, órgão oficial do Estado da Paraíba, nos anos 20 do Século passado. O destaque fica por conta da participação de Silvino Olavo no Conselho Penitenciário. Este órgão era composto por intelectuais e representantes dos governos estadual e municipal. Conforme destacou o Presidente João Suassuna, em mensagem à Assembleia Legislativa para o ano de 1926, eram membros: “[...] os srs. Drs. José Américo de Almeida, consultor jurídico do Estado; Adhemar Vidal, procurador da República; Silvino Olavo, 1º Promotor da capital, ora substituindo o dr. Manuel Paiva, procurador geral do Estado; Irineu Jóffily, advogado; Newton Lacerda e Joaquim de Sá e Benevides. O Dr. Arthur Urano, diretor da Cadeia, funciona como secretário” (MSAL: 1926, pp. 58/59). A Dra. Fátima Saionara Leandro de Brito, em sua tese de doutorado para a Universidade Federal de Minas Gerais, ao tratar das “Vidas errantes entre a loucura e a cr...

Jóffily e a feira de Banabuyé

  Irineu Jóffily, de quem não desconhecemos a sua origem – que o diga o seu neto Geraldo, que afirma a sua naturalidade esperancense, inclusive indicando-lhe o local de nascimento – tinha um apreço especial por essa terra. Ele sempre vinha a Esperança, pois aqui residia o seu cunhado, Bento Olímpio Torres, chegando a pernoitar algumas vezes naquele casarão, o qual em seu frontispício tinha o brasão da família “Brasil”. O certo é que a sua família costumava passar “os invernos em um pequeno sítio à sombra de imensa rocha, que guarda um pouco de umidade para os terrenos do nascente. O local era conhecido por Banabuié”. É o próprio Jóffily, historiador responsável pelos contornos da Parahyba, que nos informa que “Esperança [...] era simplesmente uma fazenda de criação, [...]” onde “As gameleiras que a rua principal estava arborizada foram estacas dos currais da fazenda” (Notas sobre a Parahyba: 1892, p. 10). De fato, a boa localização fez com que essa paragem fosse escolhida p...

Sol: a rosa da minha vida

  Silvino Olavo – o poeta dos Cysnes –, publicava em muitas revistas e jornais, encontrando-se, em alguns versos, algumas diferenças, não se sabe ao certo se em razão da transcrição ou mesmo do esmero do próprio autor, em face de eventual revisão de seus escritos. Assim é que encontramos “vivenda” ao invés de “casinha” no poema Retorno, e algumas poucas mudanças, tal qual a que nos deparamos ao ler a “Revista da Cidade”, que se publicava no Recife dos anos 20 do Século passado. Nela há o magistral poema “A rosa da minha vida” escrita para aquela revista, como se registra no mesmo periódico: “Silvino Olavo é um dos expoentes do modernismo paraibano. Artista de emoção rara, fina, foi para a Revista da Cidade que ele escreveu estes lindos versos” (Revista da Cidade, Ano II, Nº 53). A dúvida seria se o poeta teria escrito, de forma exclusiva, o poema em questão para a revista ou, como era de seu costume, o teria enviado para que se publicasse. Prefiro a segunda hipótese, por co...