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Sol: a rosa da minha vida

 

Silvino Olavo – o poeta dos Cysnes –, publicava em muitas revistas e jornais, encontrando-se, em alguns versos, algumas diferenças, não se sabe ao certo se em razão da transcrição ou mesmo do esmero do próprio autor, em face de eventual revisão de seus escritos.

Assim é que encontramos “vivenda” ao invés de “casinha” no poema Retorno, e algumas poucas mudanças, tal qual a que nos deparamos ao ler a “Revista da Cidade”, que se publicava no Recife dos anos 20 do Século passado.

Nela há o magistral poema “A rosa da minha vida” escrita para aquela revista, como se registra no mesmo periódico:

“Silvino Olavo é um dos expoentes do modernismo paraibano. Artista de emoção rara, fina, foi para a Revista da Cidade que ele escreveu estes lindos versos” (Revista da Cidade, Ano II, Nº 53).

A dúvida seria se o poeta teria escrito, de forma exclusiva, o poema em questão para a revista ou, como era de seu costume, o teria enviado para que se publicasse. Prefiro a segunda hipótese, por conhecer a forma como ele pretendia dar vasão as suas produções.

Mas o que nos chama a atenção nos versos, como dito alhures, são as estrofes modificadas, já que também o encontramos em seu segundo livro: Sombra Iluminada (1927).

Para que o leitor possa entender melhor, destacamos as suas diferenças no quadro a seguir:

 

“A rosa da minha vida” na Revista da Cidade.

 

Minha vida é uma rosa

toda feita de pétalas de Dor;

és a ânfora gloriosa

que há de guardar a essência desta flor...

 

Um dia, num transflor,

há de murchar a rosa dolorosa

e reflorir, depois, do místico esplendor

de uma estrela radiosa...

 

Serás, então – Maravilhosa! –

o céu – estojo de ouro, em esplendor,

que  há de ostentar a estrela luminosa

como rosa de outr’ora – meu amor!

 

Silvino Olavo

 

 

“A rosa da minha vida” em Sombra Iluminada.

 

Minha vida é uma rosa

Toda feita de pétalas de dor

E perfumada de amor...

És a ânfora gloriosa

Que há de encerrar a essência desta flor.

 

Um dia, num transflor,

Há de murchar a rosa dolorida

De minha vida

E reflorir depois no mágico esplendor

De uma estrela inatingida...

 

Serás então – Esplendorosa,

O céu imortalizador,

Que, em resplendor,

Estará a rosa luminosa

Na glorificação do nosso amor.

 

Silvino Olavo.

 

Como podemos ver, há diferenças não apenas de palavras, mas na própria composição do poema, quiçá em seu sentido, ainda que mínimo, a denotar talvez uma revisão antes de sua publicação definitiva, ou mesmo que a sua intenção era – de fato – dar exclusividade à Revista da Cidade.

Em todo o caso, para que o leitor dele tenha conhecimento, achei por bem trazer as duas versões, e que cada um tire suas próprias conclusões.

 

Rau Ferreira

 

 

 

Referência:

- CIDADE, Revista (da). Ano II, N. 53. Ed. 28/05. Recife/PE: 1927.

- OLAVO, Silvino. Sombra Iluminada. Ex libris. Rio de Janeiro/RJ: 1927.

Comentários

  1. Quero crer a publicação na revista como ensaio e no livro como versão final. Hoje, com a virtualidade de nossos blogues, ajustamos ad ataernum nossos escritos, mas à época de Silvino, considerando ainda seu namoro com o parnasiano, o livro se faz versão final.

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