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A inauguração da Luz Elétrica em Esperança

A inauguração da Luz Elétrica em Esperança foi um dos eventos mais concorridos de nossa municipalidade, à época uma pequena vila pertencente à Alagoa Nova, que ansiava por uma independência política, já que demonstrava, no seu aspecto comercial e tributário, superioridade àquela Edilidade.

Para a imprensa oficial, o povoado de Esperança era um centro comercial e agrícola por excelência, com população relativamente densa e que se caracterizava pelo seu espírito de iniciativa e laboriosidade.

Assim é que, a pretexto de se inaugurar a luz elétrica, foi João Suassuna convidado para comparecer às festividades, que aconteceriam no dia 24 de maio de 1925, aguardando-o, em Campina Grande, o Sr. Silvino Olavo e seus conterrâneos Leonel Leitão e Theotonio rocha, que regressaram até Esperança na sua companhia e de seus colaboradores.

Desembarcando por volta das 18 horas, na residência do Sr. Manuel Rodrigues de Oliveira, o governador foi recebido pela comitiva, ao som do hino da Paraíba, entoado pelas crianças da Escola Pública, dirigido pelos professores Francisco Sales e d. Amélia Veiga, passando pelas ruas “artisticamente enfeitadas”.

Com efeito, na frente da residência de Manuel Rodrigues fora “armado um grande arco em que se viam as efígies dos srs. Drs. Epitácio Pessoa, Solon de Lucena e João Suassuna, e onde se lia em dístico elétrico: Ave! Tríade luminosa”.

Saudou-o o Sr. Severino Diniz, acadêmico de direito, que em nome do povo esperancense, expressou ao governador o seu apreço:

Nunca a alma coletiva do povo esperancense, no longo caminhar das suas aspirações, se sentiu tão profundamente abalada, como nesse momento, diante de um acontecimento jamais registrado no mourejar de sua monotonia aldeã.

Somos o que v. excia. vê com os olhos da consciência: uma pequenina parcela da família paraibana, a lutar por si mesma nos embates pacíficos do trabalho, que aperfeiçoa o caráter e tonifica o espírito.

Esperança ainda há de ver romper gloriosa a alvorada dos seus anseios [...] porque os chefes do governo e do partido prosseguem irmanados nos mesmos ideias sempre lealdosos, olhos fitos na grandeza social da Paraíba, nesse emblema de virtudes cívicas que é Epitácio Pessoa”.

Suassuna, da sacada do palacete, agradeceu a saudação de improviso, afirmando que o sentimento que o empolgava por tamanha demonstração de carinho e pela visão de progresso e de energia que ali encontrara. Declarou conhecer as aspirações daquela gente, as quais seriam satisfeitas, de acordo com as providências legais.

Deveras, é de se presumir que tanto Silvino Olavo, como o Cel. Elysio Sobreira, tenha de antemão lhe falado acerca da emancipação da vila, e de quanto o comércio local necessitada de sua criação, pois os auspícios locais exigiam uma tomada de decisão.

Naquela mesma noite, em residência do Sr. Manuel Rodrigues, foi ofertado um banquete ao chefe do executivo, discursando ao champagne o Dr. Silvino Olavo, iniciando a sua oração declamando:

Esperança – lírio verde da Borborema, terra de juventude e de fé, sente-se hoje transfigurada ao justo orgulho que domina, na honra de receber, no seio da sua simplicidade comovida, uma das figuras mais representativas da sã política nacional.

Quis a lealdade generosa dos meus conterrâneos que fosse eu o intérprete dos seus sentimentos na solenidade presente, não tanto, talvez, por me saberem um dos mais cálidos entusiastas das vossas heroicas virtudes (e nisto, creio, não levo vantagem a nenhum dos filhos desta terra) como por me acreditarem, mercê deste mesmo sincero e crescente entusiasmo, um dos mais abrasados no zelo da nossa honrosa amizade e um dos mais intransigentes na fidelidade ao vosso iluminado pensamento político”.

E conclui o orador-poeta, após longa fala:

E vos faremos desde já um juramento: Esperança, árvore nova, não consentirá em ser forca dos arbustos que vicejam à sua sombra... E se o fizer, que o anátema da natureza caia sobre ela com todas as suas cóleras e tempestades e os duendes e espectros fantásticos bailem no seu sono atormentado; porque Esperança, árvore nova, tem a nobreza de querer ser também árvore boa, para prodigalizar, com a esplendidez nutridora do fruto, a fecundidade da semente e a espiritualidade do perfume”.

O governador agradeceu, respondendo cada uma das interjeições olavianas, reportando-se que após a formatura, logo procurara se empregar. Agradecido, com muito entusiasmo, brindou aos donos da casa, que lhe acolheu junto com a sua comitiva, com “tão fidalga hospitalidade”.

A luz elétrica de 220 v era fornecida por um dínamo de 56 amperes, produzido a partir de um motor a gás de 22 HP. Foram instalados 60 postes que forneciam 2.000 velas de iluminação pública.

Após conhecer as instalações, percorreu João Suassuna as ruas da vila, dirigindo-se depois à residência do Sr. Inácio Rodrigues, onde se realizou um baile promovido pela sociedade esperancense em honra ao eminente hóspede.

Pela manhã do dia 23 daquele mês e ano, tocou a “Alvorada” a banda de música de Campina Grande, especialmente contratada para o ato, em frente da casa em que estava hospedado o Dr. João Suassuna.

Após o café, o presidente do Estado visitou o Tanque do Araçá, obra realizada no governo Camilo de Holanda, e ampliada na administração do Dr. Solon de Lucena, que abastecia a população.

Visitou, ainda, um espaço reservado a construção de um tanque novo e a Capelinha construída sob a invocação de N. S. do Perpétuo Socorro, que fica na parte superior do lajedo.

Fez visita, ainda, o governador, a Sra. Maria Sobreira, genitora do Cel. Elysio Sobreira, seu ajudante de ordens, e ao Padre José Borges.

Pouco depois das dez horas, o governador foi levado até a usina de luz, de propriedade do Sr. José Barreto, oficiando na cerimônia de inauguração o vigário José Borges. Na ocasião, o Dr. Antônio Botto, diretor d’O Combate, agradeceu ao governador a sua presença, realçando palavras de estímulo ao espírito de progresso do Sr. Manuel Rodrigues, que “tem sido um dos batalhadores daquela terra”.

O almoço foi servido às 11 horas, mais uma vez, felicitando o governador o Dr. Silvino Olavo, cujas palavras reproduzimos a seguir:

Esperança por seu intermédio se dirige mais uma vez para felicitar, na figura bondosa e preclara do sr. presidente, a magnânima figura de Epitácio Pessoa.

Entra assim com o seu contingente humilde e entusiasta no coro das manifestações que o Estado, naquele dia, da metrópole ao mais obscuro recanto do seu território, prestava ao consagrado representante da nacionalidade. Não pretendo perfilar o vulto de Epitácio Pessoa, depois dos discursos proferidos e em que fora posta em merecido relevo a individualidade do ex-presidente da República, Esperança, feliz, transbordante de júbilo e de entusiasmo, agradece aos poderes superiores a ideia de lhe haver batizado com tão significativo nome.

Parece que o senso divinatório das coisas que sugeriu o nome desta terra, guiara os passos do sr. presidente penetrando nas suas ruas; e parece que esse mesmo senso divinatório que faz com que o sr. presidente receba felicitações por motivo da data natalícia do super homem. Esperança fica sonhando, fica dormitando na fruição dos proventos do seu trabalho honesto e pacífico, confiando nas esperanças que s. excia. lhe conferira”.

Em resposta, o presidente disse estar emocionado pela coincidência de visitar a “bela flor dos brejos, em pleno mês de maio”.

Nessa recepção, estavam presentes representantes de Alagoa Nova, o Dr. José Gaudêncio, que acentuou ter Esperança posição geográfica privilegiada.

Pouco depois do meio dia, o Dr. João Suassuna partira para Taperoá, tendo por companhia o Dr. Silvino Olavo.

E emancipação viera pouco tempo depois, em 1º de dezembro daquele ano, após aprovação do projeto do Deputado Antônio Guedes.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- A UNIÃO, Jornal. Órgão Oficial do governo do Estado. Edição do dia 29 de maio. Parahyba do Norte: 1925.

- ERA NOVA, Revista. Imprensa Oficial. Parahyba do Norte: 1925.

- ESPERANÇA, Revista 60 Anos de. Editor Assis Diniz, G.G.S. Gráfica. Edição de 1º de dezembro. João Pessoa/PB: 1985.

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