“Existia em Esperança – uma coisa muito interessante, pra juventude tomar
conhecimento – aqui em frente, onde havia uma loja, morava seu Joaquim Soldado;
ele tem um filho que é seu Zé Soldado, ele tá com 95 anos. E seu Joaquim tinha
um jumento, e ele ia sempre aqui para o Cabeço, no nosso município, vizinho a
Pocinhos, e seu Joaquim vendia pão, vendia aliado, que eram uns biscoitos
grandes assim, que as padarias não vendem mais, e seu Joaquim vendia um bocado
de coias.
Ele chegava nos trabalhadores do sítio e aí encostava a jumenta e os
cabras só comendo, os trabalhadores, comendo, comendo e daí a pouco um pedaço,
na hora de pagar, aí seu Joaquim, calado perguntou:
- Tu comeu, quanto?
E o cabra respondeu:
- Eu comi dois.
- E você? Dizendo com outro.
- Eu só comi um, respondeu.
Aí seu Joaquim escutava tudinho e puxava um crucifico assim de uns 40 cm
e dizia: tu jura? Tu jura? Eu sei que eles tinham que dizer a verdade.
São algumas figuras folclóricas da cidade de Esperança que a gente não se
esquece nunca.
Seu Joaquim Soldado era o homem que mais gostava de banda de música, ele
e Inácio Vicente que ainda tá vivo aqui. Quando a banda música saiu, ele saia
atrás. Seu Joaquim com um cacetezinho.
E seu Luiz Martins era prefeito e toda festa que tinha o Pastoril seu
Luiz fazia o palanque ali em frente a Matias Grangeiro; e seu Luiz tinha que
botar uma cadeira para seu Joaquim para seu Joaquim passar a noite escutando a
banda de música, toda festa tinha banda de música.
Seu Luiz Martins mandou ir no sítio pegar um pedaço de pau de jucá e dava
pra seu Joaquim acompanhar a banda de música, isso os oito dias de festa. Seu
Joaquim de tanto acompanhar a banda de música (batendo com o cacete no chão),
comia metade do pau porque ia gastando de tanto ele acompanhar a banda de
música.
Eu vendo a juventude aqui, fico pensando, a maioria não gosta de cantador
de viola hoje. É uma cultura tão importante, uma cultura tão fina, é um dom que
Deus deu aos poetas, assim como deu a Evaldo, deu a...
Mas o cantador de viola, quando eu tinha dez anos, meu pai me pegava na
mão e ouvia as cantorias. Em Patos tinha um cantador, que eu e Pedro Paulo nós
trouxemos o filho dele, chamado...
Preste a atenção o que é o cantador de viola e um menino olhou pra ele e
disse: “mas isso é um velho”, quando chegou a vez dele, ele disse:
“Admiro
a mocidade,
Não
querer envelhecer
Velho
ninguém quer ficar
Moço
ninguém quer morrer
Sem
ser velho não se vive
Bom
é ser velho e viver”.
E hoje está tão esquecido. Ascendino Silva, aqui de Picuí, ele fez uma
estrofe:
“As
estrelas são safiras
Encravadas
no infinito
Que
a mão do criador
No
seu trabalho bendito
Deixou
do lado de fora
Pro
céu ficar mais bonito”.
Tem coisa mais bonita? Eh, meu amigo, são pequenas coisas. Eu gosto muito
da história de Esperança viu, mas se a gente for juntar tudinho tem muita coisa
que a gente podia dizer. Eu conclamo a mocidade, a juventude a estudar bem a
cantoria de viola, porque é muito importante”.
Odaildo Taveira
Referências:
-
SEE, Sociedade de Estudos Espíritas de Esperança. Charau dos 20 Anos. Realizado
em 29 de março, em parceria com o Fórum Independente de Cultura (FIC).
Esperança/PB: 2015.
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