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Sol em crônica sincera, de Orris Barbosa

Um crítico e três poetas”, este é o título da crônica “tão sincera quanto brilhante” produzida por Orris Barbosa publicada na revista “Ilustração”, quinzenário da Parahyba, que circulava na já então capital “João Pessoa” (pós-revolução), sobre “letras, artes e mundanidades” com direção de Eudes Barros, gerência de Mardokêo Nacre e M. Figueiredo e fotografia de Ariel Farias.

“ILLUSTRAÇÃO possue um corpo de redactores e colaboradores effectivos constituído das maiores expressões intellectuaes da Parahyba”.

A edição em comento tem participação de Lopes de Andrade, Tercia Bonavides, Pedro Baptista, Adelmar Tavares, Eduardo Martins e outros.

O artigo, na verdade, era uma republicação do que se produziu no “Diário da Manhã”, jornal recifense, sobre os três poetas da geração sertanista fulgurante: Silvino Olavo, Peryllo Doliveira e Eudes Barros.

Em um ligeiro ensaio crítico, Orris Barbosa, autor de “Secca de 32: impressões sobre e crise nordestina” (Andersen-Editores: 1935) “exacta posição das escolas que abraçaram e das tendências que lhes orietaram a sensibilidade lyrica e os processos estheticos”.

Dos poetas mencionados, trago à lume os comentários de Orris sobre Silvino Olavo, que é nosso objeto de estudo, entrelaçado da forma como se encontra, com o seu colega de redação, o também poeta Peryllo Doliveira.

Eis a síntese estética do cronista, ao comentar “Caminho cheio de sol”, de Peryllo:

“[...] Nem Silvino Olavo, nem Eudes Barros, nem Peryllo Doliveira é poeta moderno. E nenhum dos três está filiado a qualquer grupo. E todos os três, melancólicos. Intimistas. Fazendo poesia interior, cujos temas melhores estão dentro de si mesmos. Portanto fazendo poesia séria, subjetiva, onde a personalidade filosófica de cada um se debate, analisando em frente à vida. E em Silvino Olavo é onde há mais finura de interpretação da vida interior, poesia feita meditadamente. [...].

Com relação a Silvino Olavo, Peryllo também se aproxima dele pelo ar de misticismo que paira no ambiente de seus poemas. Mas se distanciam um do outro por isto: enquanto Silvino Olavo espera pela felicidade, Peryllo se recorda do tempo em que a esperava...

Silvino Olavo fez publicar naquela mesma revista (Ilustração-PB) um poema inédito, em homenagem à José Pinto. O seu “Retrato”, escrito em Campina Grande, nos idos de 1935, fala da luta e das adversidades da juventude:

“Não fosse nunca a Vida – o hálito vital, -

Senão graça, candura... e sorrisos felizes;

Pois que é certa a tristeza, e é risito o ideal,

À delenda cristão das Dioceses em crises...!”.

Por esse tempo, Olavo se encontrava internado no Recife-PE, e sua interdição havia sido declarada pelo Dr. Belino Souto, juiz da capital paraibana, ocupando ele uma das alas de pensionistas do Sanatório “Clifford Beer”, dirigido por Onildo Leal.

A amizade de Peryllo e Silvino não permitiu que se dedicasse ao amigo um poema, ofertou-lhe d’Olivira todo um livro: Caminho cheio de sol (1928).

Silvino lembrando-se do amigo, assim escrevera:

“Sua voz tinha a força serena dos salmos e a beleza solene dos oratórios acesos, (...) o sofrimento fluía de sua vida como se evolam das flores os perfumes, como na garganta de um passarinho que morre sussurra a nota silenciosa de um sofrimento musical” (Silvino Olavo).

Orris apesar de sua crítica a Peryllo Doliveira exercitada no Jornal “A União”, não se afastou de sua amizade com o poeta de Araruna:

“[...] amizade que dedico ao autor das Canções que a vida me ensinou, não me impediu, entretanto, que lhe fizesse restrições quando da sua publicação de um segundo livro de poemas apparecido há dois anos. Effetivamente Caminhos cheio de sol é um pedaço da vida do poeta parahybano em que o autor fez um esforço desesperado e dolorido para se julgar feliz”.

Orris estava compondo um artigo para A União quando recebera um telegrama de Silvino Olavo dando conta da morte de Peryllo.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- A UNIÃO, Jornal. Edição de 14 de setembro. Parahyba do Norte: 1930.

- A UNIÃO, Jornal. Edição de 29 de agosto. Parahyba do Norte: 1930.

- ILUSTRAÇÃO, Revista. 1ª Quinzena de agosto. Nº 27. João Pessoa/PB: 1936.

- ILUSTRAÇÃO, Revista. 1ª Quinzena de junho. Nº 25. João Pessoa/PB: 1936.

- MARTINS, Eduardo. Peryllo Doliveira: obra poética. João Pessoa/PB: 1983.

- MARTINS. Eduardo. Obra poética. Silvino Olavo. Mídia Gráfica e Editora. João Pessoa/PB: 2018.

- MAURÍCIO, João de Deus. A vida dramática de Silvino Olavo. Unigraf. João Pessoa/PB: 1992.

- OLAVO, Silvino. Criadores e criaturas. Jornal A UNIÃO, edição de 19 de abril. João Pessoa/PB: 1931.

CÂNDIDO, Gemy. História Crítica da Literatura Paraibana. A União. João Pessoa/PB: 1983.

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