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A minha infância, por Glória Ferreira


Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas.

Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho.

A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna.

O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade.

Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores.

Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha.

Quando desci colocava água em casa, meia lata, ia com minha mãe porque ainda era pequena e o tanque era perigoso. Colocava lenha em casa e ajudava fazer os queijos.

Brincávamos muito, não tínhamos brinquedos, minha mãe fazia com uma melancia uma boneca. Só entrava em casa para comer e dormir.

Lá também tinha uma casa mal assombrada, casa feita de pedras, muito antiga. Tinha um sótão onde subíamos e escorregava o dia todo, bem perto tinha muitos coqueiros onde sempre íamos pegar cocos. Subia muito alto e Marizé esperava o coco embaixo.

Também tinha o Riacho do Negro, onde eu sempre ia, a Pedra do Caboclo onde os índios moravam só que nunca tinha coragem de descer.

Sabe? Eu tinha muita vontade de possuir uma boneca. O filho do morador foi para o Rio de Janeiro, eu pedi para ele trazer para mim uma boneca. Esperei o dia todo quando ele voltou, trouxe-me uma boneca que chorava. Fiquei muito feliz. Este foi o meu primeiro brinquedo. Foi José de seu Severino que me deu.

Lá tudo era lindo como eu gostava, foi lá que eu vivo os melhores dias da  minha infância e da minha vida.

Criei uma cabritinha, o seu nome era “Bitinha” e eu adorava. Quando vi para Esperança estudar chorei muito, pois estava deixando Bitinha. Também gostava muito de pássaros. Criava rolinhas dentro de casa.

Andava muito pela fazenda com os filhos dos moradores, até hoje lembro de todos. Vou citar alguns: seu Antônio Guedes, vaqueiro Zacarias, seu Severino Grande etc. Seus filhos: Maria, Manoel que passava sempre com o burro para pegar água e eu ia na garupa do burro e ele sempre dizia: - o burro está cansado.

 

Glória Ferreira

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