Por Maria Violeta da Silva Pessoa
O texto a
seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que
guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta.
É o próprio
neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a
esperancense:
“Maria
Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e
falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva
(Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora).
Casou com o
comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5
filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina
Helena).
Após à
aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã.
Nos anos 90
publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais
abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança” (via
WhatsApp em 17/01/2025).
Devido a
importância histórica do texto produzido por Maria Violeta, fiz questão de
publicar na íntegra:
“Esperança
que o poeta cantou “Lírio Verde da Borborema”.
Esperança
de clima saudável, povo ordeiro, cidade pequena que é tão grande quanto a
esperança e a alegria de viver na Esperança.
Como é
gratificante lembrar esta terra onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer a
esperança de uma nova Esperança.
Quanta
lembrança feliz.
Lá vem
Pichaco com o seu tabuleiro cheio de coisas gostosas: “Olha a cocada, pé de
moleque, soda, doce de coco”. E o preto na sua voz sonora vendia guloseimas que
adoçavam a nossa vida. Dos filhos de Pichaco um tinha uma voz bonita e cantava
nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família
numerosa, vozes de ébano.
Aquela
pessoa de estatura pequena, roupa suja de tina era Chico Pintor que pintava
coisas maravilhosas.
Entre as
figuras que circulavam a cidade tinha Elvira que ficava no vai-e-vem sem nada
entender e muitas vezes sendo desentendida. Celestino era um preto que muitas
crianças temiam pelo seu aspecto impressionante. Ele era doente e aparecia
geralmente aos sábados para pedir esmola. Messias era feito, baixinho, vaidoso
e com o seu paletó bem comprido, gravata colorida pensava ser o galã da cidade.
O cinema
era a principal diversão e no dia que funcionava saiam meninos com os cartazes
e duas campainhas andando pela cidade, tocando para chamar a atenção das
pessoas e todo mundo ia para janela apreciar os cartazes do filme daquele dia.
Imaginem a pronúncia dos nomes dos artistas, era para fazer inveja a inglês. O
povo vestia as melhores roupas para ir ao cinema e o interessante é que durante
todo o tempo da projeção do lado de fora tocava uma campainha.
O São João
era a festa mais gostosa, depois do terço do Coração de Jesus o Sr. Zuca (se
não me falha a memória) ao som da concertina “Borboleta não é ave, Borboleta
ave é...” puxava o povo rumo ao Grupo Escolar para o ensaio, o Sr. Benício
marcava a quadrilha e lá vai alegria durante um mês inteiro.
O Natal com
o seu pastoril, o Ano Novo com fogos de artifício, os perus, bolos e votos de
felicidades.
Festa da
padroeira, novenas, a voz sonora de Lilia Lacerda e o violino tocado pelo Sr.
Titico, pavilhões, retretas, algodão doce, banda acordando a cidade e fogos
subindo ao céu na esperança e glória da nossa Esperança.
Ainda bem
criança lembro-me de um carnaval em que Fausto, jovem que comandava as festas
do clube, organizou um bloco de moças e rapazes trajados de marinheiros que
desfilavam pela cidade. O padre não gostou e mandou tocar o sino em acordes de
finados como protesto moral pelos bons costumes (Como é que moças podiam vestir
roupas masculinas?).
Na
sexta-feira santa a maioria das mulheres vestiam roxo e a procissão era um ato
de fé marcante. No sábado de aleluia, no final da rua conhecida como “Chã da
bala” estava o judas com tudo que tinha direito para ser malhado, após a
leitura do seu testamento. Vinha o domingo de Páscoa com a alegre festa da
ressureição.
Minha terra
também destacava-se pela qualidade da batata inglesa que era exportada para São
Paulo. Lá colhi uvas, laranjas, jaboticabas, cajus, goiabas, pinhas, verduras,
legumes etc. Tudo era sadio, sem tóxicos e os sabores eram deliciosos. Onde
está a batatinha, fonte de economia de nossa terra?
Esperança
de doces recordações, povo simples e bom, onde estão minhas raízes, berço de
minha vida que alimenta os meus dias de saudades na esperança imorredoura de
ser filha de Esperança.
Maria Violeta Pessoa
Fonte:
- O NORTE,
Jornal. Edição de sábado, 24 de novembro. João Pessoa/PB: 1990.
"Imagino que o Pichaco em referência era o pai dos pichacos que conheci: (Honório, Adauto(o doido), Zé Luis da sorda e Pedro Pichaco(o mandrião).
ResponderExcluirQuanto ao Chico Pintor, era um baixinho de excelente qualidade em pintura e que também era...
A Elvira em referência era "Elvira Doida" uma pedinte que vivia rua acima, rua abaixo.
Desse tal Celestino, não lembro.
O Messias citado, era o "Garrancho" do qual já falei dele noutro texto.
Sobre os cartazes dos filmes a passar, também lembro.
O sr. ZUCA era o ZUCA Ferreira, pai de Zé de Zuca que tinha uma concertina (um fole) que era chamado para tocar nos bailes dos sítios e na cidade... Borboleta não é ave, borboleta ave é, borboleta só é ave na cabeça da mulher.
Na época, o Sr. Benício já marcava as quadrilhas.
Seu titico com o seu violino era uma atração em festas e no coral da igreja.
Também fico a lembrar que não se admitia mulher vestir roupa de homem. Lá na minha família, pelo menos, nunca vi uma das sete minhas irmãs vestirem calças comprida, o meu pai não admitia tal gesto.
Assim, era aquela época!
Sobre Chico pintor:
... E que também era um baita de um Artesão, como mostra alguns dos seus trabalhos"
Comentários de Pedro Dias do Nascimento, via WhatsApp em 14/02/2024.