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Padre Zé e o Cinquentenário da Escola das Neves

Quando a Escola das Neves, que funcionava na Capital paraibana, completou cinquenta anos, o Padre Zé Coutinho escreveu uma emocionada carta que foi publicada no Jornal O Norte em 13 de novembro de 1956.

O fundador do Instituto São José iniciou os estudos primários no Colégio Diocesano Pio X, quando aquele educandário funcionava como anexo ao Seminário Arquidiocesano da Parahyba. Depois matriculou-se no Colégio N. S. das Neves, naquela mesma cidade, pois ainda havia uma seção para estudantes do sexo masculino. Retornou, depois, para o Pio X para fazer o curso secundário.

A missiva – endereçada a Benedito Souto – trazia o seu depoimento sobre aquele tradicional educandário: “Também, fui aluno do Curso Masculino, de Julho de 1906 a Novembro de 1907, ao lado de Alceu, Antenor e Mirocem Navarro, Mário Pena, Paulo de Magalhães, João Dubeux Moreira, Ademar e Francisco Vidal, Otacílio Paira, Mário Gomes, Gasi de Sá e tantos outros” – escreveu o Padre Zé.

Era professora a Irmã Maria Anísia que depois foi transferida para o Colégio de Goiana; e inspetora dona Florinda, e depois a Irmã Ângela: “Todos nós queríamos, muitíssimo, a Irmã Anísia e à sua auxiliar. Ambas eram a meiguice e a bondade personificadas com os seus carinhos de verdadeiras mães para com aqueles pequerruchos”, anotou.

O velho padre, que era “tido e havido como menino que não dava para nada”, foi mandado estudar na Escola das Neves, apenas para aprender as quatro operações da matemática, as “contas” como se dizia naquela época, e no final de ano ser devolvido aos pais, com quem iria “plantar batatas” no Engenho Freixeiras.

No entanto, progrediu bastante nos estudos, alcançando boas notas o que antes não conseguira no ensino primário, quando iniciara em 1905, isto “apesar dos ingentes esforços dos meus queridos mestres, Clérigos Baltazar Nogueira, Ney Ferraz e, depois, o secular João Pires de Freitas”, confessou.

Explicava assim o seu desempenho “à solicitude inexcedível de tão boas religiosas e, sobretudo, à grande amizade que (...) como todos os outros meus colegas, dedicávamos a tão boa mestra”.

Este fato muito animou os tios Dom Santino e Monsenhor Odilon Coutinho, responsáveis por sua formação, tendo assim permanecido mais um ano naquele educandário.

No final de 1907 foi “ouro sobre azul”, saindo-se bem o vigário, futuro benemérito da ação social na capital, e hoje candidato a santo, tanto que os tios lhe inscreveram para o Exame de Admissão, sendo “aprovado, com plenamente grau sete, nota muito alta naquela época, porque havia até, simplesmente grau um, tendo tomado batina num domingo de carnaval, em primeiro de março de 1908, continuando, porém, como aluno (...) do Colégio Pio X”.

Atribuía, destarte, o bom desempenho escolar à Irmã Anísia, pois foi ela quem definitivamente firmou seus passos para os estudos que culminaram com a vida religiosa.

Quando o Padre Zé foi preso, acusado de comunista, foi ela quem lhe escreveu, fazendo-se solidária em momento tão difícil para aquele religioso. E quando a Câmara de Vereadores o proclamou “Cidadão Pessoense”, foi a Irmã Anísia quem imediatamente o telegrafou.

A freira, que na vida civil se chamava Germana, nome que significa “irmã”, na concepção do Padre Zé, deveria se chamar “Materna”, porque sobretudo foi como uma mãe para ele.

A sociedade paraibana deve muito da educação religiosa, moral e secular ao seu mais antigo colégio feminino, lembrando o vigário as dirigentes e professoras, a Superiora Irmã de São Leão, a Irmã do Santo Espinho que “morreu em odor de santidade”, a Irmã Tereza e seu piano de artista; a Irmã Marta do Sagrado Coração “que com sua inteligência extraordinária dominava toda a cidade pessoense”.

Ao final da carta, personaliza na Irmã Odília, uma das fundadoras do Colégio das Neves, que ali estava há cinquenta anos, todo o gesto de carinho e gratidão, parafraseando Zé Américo, quando escreve: “A Paraíba deve mais a estas dedicadas preceptoras, que a todos seus estadistas e guerreiros”.

A Escola das Neves, situada na Praça Dom Ulrico, fundada por Beaurepaire Rohan, presidente da Província da Parahyba, através da Lei nº 13 de 04 de novembro de 1858, serviu muito ao nosso Estado à educação profissional feminina, antes de se tornar escola mista.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- O NORTE, Jornal. Edição de 13 de novembro. João Pessoa/PB: 1956.

- O NORTE, Jornal. Edição de 15 de julho. João Pessoa/PB: 1957.

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