Evaldo Brasil, ativista cultural do nosso município, em
um comentário sobre a publicação “Zé Limeira em Esperança”, imaginou o
confronto entre o “poeta do absurdo” e o “poeta do tempo” (João Benedito).
Disse o adido cultural: “Terça, segunda e primeira; o
João bateria no Limeira?”. Passemos a conjecturar este encontro.
Zé Limeira ficou muito famoso com a publicação de Orlando
Tejo, livro esse já na sua 11ª edição; a quem conhecera nos anos 40 do Século
passado, registrando-lhe os versos.
João Benedito – por mim biografado – não é menos conhecido;
dele já dei conta uma centena de vezes, também de sua capacidade de versejar, poeta
que era, considerado “o professor dos cantadores”.
Se até as pedras se cruzam, imaginem dois peregrinos como
estes! Enfim, Nêumanne Pinto, escrevendo para o Jornal do Brasil, sobre o
conterrâneo poeta, nos informa:
“Zé
Limeira houve um, o que deu origem ao mito todo, e Zé Alves o conheceu, teve
até oportunidade de duelar com ele. Da mesma forma, Otacílio que o encontrou
algumas vezes, e Heleno Firmino, que chegou a hospedá-lo em um sítio distante
poucas léguas de Esperança, pequena cidade na área de influência de Campina
grande, na Paraíba” (Edição nº 26/1976).
O próprio Orlando Tejo registra o
ressentimento de Zé Limeira porquanto já “botaro João Benedito” nos livros,
enquanto que o “poeta do absurdo” era praticamente desconhecido:
“Apois é, mestre, um dia os filósofo bota eu no livro, por modo já
botaro João Benedito, Pinto do Monteiro, Louro Batista, e um magote de camarada
que canta que nem eu”.
De Limeira, citemos os versos:
Getúlio foi home bom
Fazia carnificina
Gostava de comê fava
Misturada com risina
Sofre, mais ainda foi
Delegado de campina.
E de João Benedito, reproduzo a sextilha a seguir
Eu derrubando o forte,
Se o gigante me enfrentar,
Com tenção de dar-me fim,
Com um murro hei de o matar;
Caso você esteja em casa,
Trate de se arretirar.
Dito isto, não é pouco provável que tenham se cruzado, e
muito menos que se conheciam. Ademais, era comum que os repentistas ouvissem
falar da fama do outro, e quere desafiá-los, aumentando assim o seu repertório
de vitórias.
Agora, de vencer ou não vencer, de deitar a viola perante
a invencibilidade do outro cantador, ou sua poesia mais estreita, isso não digo!
Embora considere, na arte da cantoria, o Benedito muito superior.
Rau Ferreira
Referências:
-
BRASIL, Jornal (do). Edição de 04 de maio. Rio de Janeiro/RJ: 1976.
-
BRAZILIENSE, Correio. Cantoria, coice divino. Edição de 07 de agosto.
Brasília/DF: 1980.
- FERREIRA,
Rau. Cantares de João Benedito. Edições Banabuyé. Esperança/PB: 2020.
-
TEJO, Orlando. Zé Limeira: poeta do absurdo. Cia. Pacífica. Recife/PE: 1997.
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