Transcrevo a seguir reportagem especial do jornal "O Imparcial", publicado na então capital federal do país (Rio) em 09 de de junho de 1923, acerca da visita da Turma de Direito à Penitenciária de S. Paulo, com destaque para o nosso poeta Silvino Olavo:
"Conforme noticiamos regressou, anteontem, a embaixada acadêmica carioca, que fora a São Paulo em excursão de estudos.
A respeito do que viram e
aprenderam nessa viagem os estudantes da Universidade, teve a gentileza de nos
conceder a entrevista abaixo o distinto acadêmico Silvino Olavo, que fez parte,
como orador, da turma itinerante.
“Trago de S. Paulo uma impressão
inextinguível de progresso e de beleza. Nunca, na minha vida acadêmica, me foi
dado ensejo de recolher em minha alma mais avultada soma de júbilo, como
durante esses dias de festividade, e fortes emoções na capital paulista e na
cidade de Santos.
A cativante gentileza dos nossos
colegas do tradicional “Centro Onze de Agosto” – um dos poucos que tem
verdadeira capacidade realizadora nesse país – constituiu-nos devedores
eternos.
O programa das festivas
homenagens, foi o que se pode chamar um programa cheio. Mal descansávamos das
refeições, tínhamos a cumprir um dos seus capítulos indispensáveis.
O Mosteiro de S. Bento foi a
minha primeira visita. Depois foi o monumento do Ypiranga.
No Museu, tive a felicidade de
satisfazer a minha curiosidade de conhecer o original do quadro da
Independência de Pedro Américo. Enchi-me de entusiasmo diante daquele prodígio
de arte. A Faculdade de Direito, que eu já conhecia, no seu aspecto vetusto, e
que não deve ser transformada para que possamos ler melhor nas suas linhas
antigas a magnitude da sua tradição gloriosa, súbito acordou-me no espírito a
memória das grandes capacidades que por ali transitaram, permitindo-me, assim,
a citação de todas elas quase, no discurso que pronunciei na sala do Centro. As
obras da grande Catedral estilo gótico, vão num adiantamento que excede a relatividade
de uma obra que há de ser feita num século para durar “ad secula”.
Terminamos o primeiro dia da
nossa excursão com um passeio através da cidade num corso prolongado por todas
as avenidas. À noite, um espetáculo de gala nos foi oferecido, no teatro Boa
Vista, com a Companhia Italiana de Operetas Léa Cardini, na peça de Rocco Galdieri,
“A princesa do atelier”, musicada pelo compositor paulista Francisco Casabona.
Não podemos reprimir o nosso
entusiasmo pelo trabalho da graciosa artista e fomos em comissão, no fim do
segundo ato, prestar publicamente, no palco a nossa homenagem. O meu amigo Rego
Monteiro, tomando “pose” de... ator, deitou o verbo e falou sobre a arte
italiana, recebendo, ao fim, muitas palmas.
No dia seguinte, fizemos a nossa
visita principal, móvel mesmo da viagem: à Penitenciária Modelo, no gênero, um
dos melhores estabelecimentos da América do Sul.
Após o Hino Nacional, que, a
chegada, executou a banda musical dos sentenciados, entraram estes no exercido de
diversos números de ginástica, no palco interior.
Achei-os muito interessantes e
originais, acompanhados por música adaptada pelo professor da banda.
Estes exercícios se praticam às
quintas e aos domingos, dois a dois, entrando, depois os sentenciados num banho
frio. Terminaram numa linda evolução, da qual resultou a formação da bandeira,
desenhada pelo jogo das bandeiras com as cores nacionais, em torno a uma colunata
representando a República, lendo-se ao centro esta inscrição: “À mocidade
acadêmica – homenagem dos sentenciados”.
Improvisou, nesse momento, uma
linda oração, sobre as bases da Fé, da Esperança, da Vontade, e do Amor, o
acadêmico Pedro Calmon.
Após, divididos em grupos, guiado
cada qual por um dos diretores, percorremos todos os departamentos do grande
edifício.
Tive a impressão de que o
delinquente que passa por aquele cadinho nunca mais reincide, porque ali se dá
inteiro cumprimento a estas palavras que estão inscritas no frontispício da
Penitenciária: “Aqui o trabalho, a disciplina e o amor resgatam a falta cometida
e reconduzem o homem à comunhão social”.
O Dr. Franklin Piza teve, por
parte dos acadêmicos, as mais eloquentes provas de admiração pelo magnífico
sistema que o seu grande descortino científico tem sabido praticar com as
vantagens reais dentro do estabelecimento que dirige.
Da sociedade paulista, cujo
contato nos foi facultado pelo veículo gentil de um chá dançante, oferecido
pela Empresa do Cine-República, trago a mais grata lembrança.
Em Santos, onde chegamos depois
de uma viagem agradabilíssima, cheia de camaradagem no meio dos acadêmicos
paulistas e de contemplação deslumbrada dos altanados aspectos da Serra do Mar,
fomos entre vivas, recebidos pelo governador da cidade, que levou os estudantes
as visitas as Docas, a Bolsa do Café e os monumentos de Bartholomeu de Gusmão e
do Patriarca.
Temendo que a “Rainha” não comparecesse
ao almoço, que nos esperava na “Rotisserie”, convidei os amigos para visita-la.
- visitaram, também, a senhorita
Zezé Leone?
- E! E o interessante é que o
meu extraordinário colega Rego Monteiro descobriu logo que era parente da Sra. Mãe
da “Rainha”, passando, desde então, a pertencer à dinastia da Beleza...
Voltando a S. Paulo, todos
levamos a impressão da cidade Andradina e o mais vivo sentimento de gratidão
pelo acolhimento mais do que fidalgo que nos dispensou o prefeito de Santos".
Silvino Olavo
Referência:
- O IMPARCIAL, jornal. Ano X9, Nº 3.826. Edição de sábado 09
de junho. Rio de Janeiro/RJ: 1923.
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