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Página do inventário |
As terras de
Banabuyé foram concedidas inicialmente por Sesmaria, que eram porções de terras
doadas pela coroa portuguesa com a finalidade de povoar o “sertão”.
Esta gleba
pertencia ao casal Marinha Pereira de Araújo e João da Rocha Pinto. Eles se “estabeleceram-se
em Lagoa Verde (Banabuê - no brejo), cerca de oitenta quilômetros da fazenda
Santa Rosa” (SOARES: 2003, p. 52).
Amarinha Pereira de Araújo era bisneta de Teodósio de Oliveira
Ledo, do ramo genealógico fundador de Campina Grande (PB). Filha de Paulo de
Araújo Soares (1710/1787) e Teresa de Jesus Oliveira.
A Sesmaria de João da Rocha foi concedida em 1713, e revalidada em
1753, para a Sra. Rosa Maria, viúva de Balthazar Gomes, que a possuía há cerca
de 40 anos, com a denominação de “sítio
lagôa Bonaboiji por data que dele lhe fez seu pai João Gonçalves Seixas”
(TAVARES: 1982, p. 229).
Dela se origina a
Fazenda Banaboé Cariá, que se constituiu em entreposto de criação de gado, sob
os domínios do Juizado de Paz do Cariry de Fora (1776), da jurisdição de
Campina Grande.
Os inventários tramitaram perante o 3º Cartório de Campina Grande, aberto
em 1828, por falecimento de João da Rocha Pinto e, no ano de 1850, procedido em
Banabuyé, por falecimento de José Vitoriano.
Esses autos foram digitalizados pelo NUPHEL – Núcleo de Pesquisa e
História Local, e estão disponíveis na web para pesquisa pública.
Quem nos chamou a atenção para a importância destes documentos foi
o historiador e genealogista Ms. Ismaell Bento, destacando alguns detalhes,
como o fato da Sra. Rosa Maria da Cunha ter deixado para o genro João da Rocha
Pinto a quantia de 92 mil réis, adquirida através do “Sítio Banaboé”, por volta
de 1764.
Ele nos conta que um dos inventariados seria de Pedro Inácio de
Alcantara, o qual recebeu o Sítio Banaboiê (como está escrito) por herança de
seu avô, no qual João da Rocha Pinto aparece como tutor de algumas crianças,
onde presumimos que poderia ser o Sr. Domingos da Rocha, citado em algumas
Sesmarias.
Ismaell também teceu algumas considerações sobre um dos inventários
processados em Alagoa Nova, mais especificamente o que fora aberto em 1783, por
falecimento de Pedro Inácio de Alcântara, sendo inventariante a Sra. Francisca
Maria de Jesus.
Transcrevo algumas de suas anotações:
- Herdeiros:
Mathias, Balthazar, Manoel, João, Maria e José. A família era moradora no sítio
Banabuiê, possuindo neste uma casa de moradia avaliada em 8$000 (oito mil
contos de réis);
- Eles
possuíam alguns escravos, um deles de nome Joaquim era da nação Angola, com a idade
de 35 anos, e estava avaliado em 80$000. Havia ainda uma escrava crioula
chamada Inês, de idade de 25 anos, estimada em 90$000, e um escravinho
cabrinha, chamado Bonifácio, de idade de 3 anos, avaliado em 30$000;
-
Possuíam gado vacum e cavalar;
- A parte
de terras no sítio Banabuiê foi herdade do seu avô [...], avaliado em 37$735,
mas também havia uma parte de terras no sítio Catolé, que o recebeu por herança
de seus pais, avaliados em 10$677;
- É
dito que João da Rocha Pinto assumiu a tutoria dos menores, sendo ele é tio dos
órfãos;
- Em
razão do casamento da viúva Francisca Maria de Jesus com Paulo de Araújo
Soares, o mesmo assume a tutoria dos enteados, em substituição a João da Rocha.
Epaminondas Câmara, ao mencionar a Sesmaria de Mamanguape, nos
informa que ela estava situada próxima aos herdeiros de Domingos da Rocha
(Banabuié), onde hoje se situa o Município de Esperança, e fora concedida em 03
de agosto de 1714, (CÂMARA: 1943).
Também foram providos Matheus de Araújo Rocha, na “Lagoa de Pedra”
(1713), Bento Ferreira Feio (1714) e Matias Soares Taveira (1728), nas testadas
e ao leste dos herdeiros de Domingos da Rocha; e João Morais de Valcácer no
lugar “Jardim”, às margens do Riachão de Banabuyé (1778).
No inventário encontramos a presença de alguns escravizados, sendo
eles, Joaquim, Inês e Bonifácio, que nos faz pensar que eram uma família e
viviam na Fazenda Banaboé, contrariando a tese de Coriolano de Medeiros, de que
os negros deram pequena contribuição a formação do Município.
O material
catalogado pelo NUPHEL
merece investigação profunda devido a sua importância, e será de grande
relevância para o estudo das origens do nosso município e seus povoadores.
Rau Ferreira
Referências:
-
ALMEIDA, Antonio Pereira (de). Os Oliveira Ledo e a Genealogia de Santa
Rosa: 27 anos de Pesquisa Genealógica. 2º. Editora Gráfica Universal.
Volume. João Pessoa: 1987.
-
CÂMARA, Epaminondas. Os alicerces de Campina Grande: esboço
hitórico-social do povoado e da vida, 1697-1864. Edição 3ª. Oficinas
Gráficas da Livraria Moderna: 1943.
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá:
Recortes Historiográficos do Município de Esperança. A União. Esperança/PB: 2015.
- MEDEIROS, Coriolando de. Dictionário
Corográfico do Estado da Paraíba. Imprensa Nacional: 1950.
- MEDEIROS, Tarcízio Dinoá. Freguesia
do Cariri de Fora, Tarcízio Gráfica Editora Camargo Soares. São Paulo:
1990.
- SOARES, Francisco de Assis
Ouriques. Bôa Vista de Sancta Roza: de fazenda à municipalidade.
Campina Grande/PB. Epgraf: 2003.
- TAVARES, João de Lyra. Apontamentos
para a História Territorial da Paraíba, Vol. I, Imp. Of., Pb., 1910.
Na transcrição de documentos dessa natureza pode-se trocar letras e "réis" se lê "réus"... afora isso, a pesquisa, o relato e os apontamentos para o futuro são excelentes indicativos de que nossa história está longe de estar completa. Parabéns, mais uma vez!
ResponderExcluirObrigado Evaldo Brasil pelo comentário, e também pela correção. No texto alterei "réus", para "réis". Talvez a força do ofício, de tanto escrever assim nos processos penais, tenha saído este erro no "automático".
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