A principal rua de Esperança, na Paraíba, tem
muita história para contar. Foi ela o ponta pé inicial do povoamento que se
estabeleceu a partir de uma feira semanal de gêneros alimentícios, de onde se
iniciou também uma capela sob a invocação de N. S. do Bom Conselho.
O descampado naquela área tinha posição geográfica
privilegiada, pois era caminho dos viajantes que desciam o Brejo de Areia com
destino aos engenhos de Alagoa Nova, ou daqueles que prosseguiam para Campina
Grande. E no entroncamento da rua do Sertão (Solon de Lucena), ficavam os
tropeiros, que apeavam os seus muares para pernoite, com cargas de farinha e
rapadura.
Aliás, foi Epaminondas Câmara, um dos
primeiros historiadores paraibanos, filho natural de Esperança, que descobriu a
“civilização da farinha”, tão importante para o povoamento da nossa região.
Irineu Jóffily – a despeito de quem supõe ter
nascido nessas paragens –, narra que “as gameleiras com que a rua principal
está arborizada foram estacas dos currais da fazenda”, referindo-se à propriedade
“Banaboé Cariá”, que foi a sua origem.
A importância da rua é tal, que nos anos 20
do Século passado, esta foi palco do movimento político que culminou com a sua
emancipação. Com efeito, a pretexto de se inaugurar a empresa de força e luz
fora convidado o Presidente da Província, o Dr. João Suassuna, que se impressionou
com a recepção dos esperancenses e o discurso do nosso poeta Silvino Olavo,
prometendo a liberdade política de Alagoa Nova, o que foi concretizada com a
Lei nº 624 daquele mesmo ano.
Por muitos anos essa artéria da cidade se
chamou “Avenida Epitácio Pessoa”, em alusão ao ilustre paraibano que foi
Presidente da República. Porém, o Prefeito Júlio Ribeiro da Silva (1947-1951)
mudou-a para “Manoel Rodrigues de Oliveira” em homenagem ao primeiro prefeito
nomeado para a cidade (1925-1929), que há pouco havia falecido.
Manoel Rodrigues de Oliveira nasceu em 1882 e
faleceu em 14 de fevereiro de 1950. Foi criador de gado e proprietário da “Loja
Ideal” (1911/1950). E como político, responsável pela instalação do município e
pelas primeiras nomeações de servidores e autoridades municipais.
Estabelecida inicialmente como “rua”, foi denominada
de forma definitiva como “avenida”, após a edição da Lei nº 101, de 15 de
outubro de 1963.
Fato curioso é que, como a maioria das ruas
de Esperança, essa tem um “nome oficial” e um “nome popular”. De fato, muitos a
conhecem como “Chã da Bala”, e sequer desconfiam o motivo.
Alguns atribuem a um episódio ocorrido no
hotel de seu Dedé e que resultou com a morte de dois cidadãos esperancenses.
Porém, o ex-prefeito Odaildo Taveira me confidenciou que muito antes desses
fatos a rua Manoel Rodrigues já era conhecida por “Chã da Bala”.
Pesquisando no Jornal do Recife, encontrei
uma nota informando que no dia 16 de junho de 1881, nove arruaceiros invadiram
a povoação de Banabuyé. Com armas em punho, deram tiros para o alto, ordenando
que se fechassem as portas e dando fim ao divertimento local:
“No dia 16 do passado, 9 criminosos invadiram a
povoação de Banabuyé, deram tiros, mandaram fechar portas, e desmanchar os divertimentos
da população, dando vivas as autoridades policiais!
Eles se acham processados e pronunciados.
Esta notícia nos deu pessoa do lugar,
fidedigna”.
Na rua Manoel Rodrigues nasceu o Padre José
da Silva Coutinho, conhecido como “Padre Zé”, que é candidato a santo, cujo
processo de beatificação tramita na Santa Sé.
Importante empório comercial, desde a
instituição da feira, por volta de 1860, aquele encontro semanal permaneceu por muitos
anos, até que a feira foi transferida para a rua do Sertão.
Hoje a feira serve de palco para as atrações
artísticas e eventos de nossa comunidade, a exemplo do São João e da festa da
padroeira, além de outros eventos que se desenvolve nessa rua.
Rau Ferreira
Referências:
- ESPERANÇA, Prefeitura Municipal (de). Lei nº 48.
Dispõe sobre a denominação de ruas da Cidade. Legislação Municipal. Edição de
13 de março. Esperança/PB: 1948.
- FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes
Historiográficos do Município de Esperança. A União. Esperança/PB: 2015.
- JÓFFILY, Irineu. Notas sobre a Parahyba:
fac-símile da primeira edição publicada no Rio de Janeiro, em 1892. Prefácio
de Capistrano de Abreu. Volumes 1-2. Thesaurus Editora: 1977.
- RECIFE, Jornal (do). Criminosos invadem a
povoação de Banabuyé. Nota de jornal. Edição de 15 de junho.
Recife/PE: 1881.
JÓFFILY, Geraldo Irinêo. Um cronista do sertão no
século passado: Apontamentos à margem das Notas sôbre a Paraíba, de Ireneo
Joffily. Comissão Cultural do Município. Prefeitura Municipal. Campina
Grande/PB: 1965.
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