Pular para o conteúdo principal

Silvino Olavo e o "Football"

 


Poucos sabem, mas além de poeta, jornalista e escritor, o conterrâneo Silvino Olavo também participava de eventos esportivos. Foi ele o embaixador da “Delegação Parahybana de Football” que representou o Estado no 5º Campeonato Brasileiro de Seleções.

O certame aconteceria na capital federal em outubro e Silvino havia sido convidado pela Liga Desportiva Parahybana para presidir aquela delegação, que era secretariada por Severino de Carvalho e tinha como diretor técnico Manoel de Oliveira.

O embarque ocorreu no dia 29 de setembro, seguindo a comitiva a bordo do paquete “Pará” com o objetivo de disputar o no Campeonato Brasileiro de 1927. Embarcaram o diretor e secretário da comitiva, e representando a imprensa, o poeta Peryllo D’Oliveira.

O “Scratch” paraibano tinha como titulares: J. Miguelinho, Simão Capela, Adalberto Araújo (Chaguinhas), Severino Conrado de Lima (Siba), Severino Vinagre, Edgard de Holanda, Rivaldo de Holanda (Pitota), Waldemar Góes (Vavá), Antônio Valle Melo (Tota), Renato Amaral e Guaracy Codeceira, sendo reservas: Severino Burity, Aurélio Rocha e Edgard Neiva.

Assim que chegaram ao Rio, ofereceram um almoço à imprensa, cujo convite foi publicado nas páginas d’O Globo:

Honro-me em convidar essa ilustre redação para tomar parte do almoço que vai a embaixada esportiva da Parahyba oferecer à imprensa carioca, no próximo dia 11, terça-feira, às 13:30 horas, no Novo Hotel Belo Horizone (Eunice Hotel). Rio, 8-10-1927. – (a) Silvino Olavo, presidente”.

A imprensa carioca divulgou o evento da seguinte forma:

Deixou a mais grata recordação a homenagem que a delegação esportiva da Parahyba ontem prestou à imprensa carioca, oferecendo-lhe um grande almoço. As palavras do orador oficial do banquete, Dr. Silvino Olavo, de acentuada elevação moral, foram cativantes para a imprensa, que as respondeu pelo seu mais legítimo órgão, o Dr. Célio de Barros, presidente da Associação de Cronistas Desportivos. Falaram ainda o Dr. Tavares Cavalcanti, deputado federal, o Dr. Perylo de Oliveira, jornalista na Parahyba.

Passaram-se algumas horas de estreita camaradagem, de todo benéficas para o progresso esportivo do país” (O Globo: 12/10/1927).

E “O jornal” do Rio também expressou a sua gratidão:

“[...] o ágape foi presidido pela maior cordialidade, e em nenhum momento deixou de imperar a alegria, obrigatória, em meio no qual se reúnam, como ontem aconteceu, rapazes cujo objetivo alevantado seja o do estreitar laços de amizade, já de si existentes.

‘Ao dessert’ os presentes tiveram feliz oportunidade para, ainda uma vez, aquilatarem o grau de talento do ilustre chefe da embaixada nortista, Dr. Silvino Olavo, que, com brilhante improviso, bem fez salientar o valor do concurso da imprensa em prol da consecução dos mais alevantados ideais esportivos, como o faziam os jornalistas ali presentes, componentes que são dessa força radiosa de opinião, que o orador, com felicidade, denominou ‘o 4º poder’” (O Jornal: 12/10/1927).

Além do Dr. Célio de Barros, presidente da associação de cronistas, que fez uso da palavra, também saudou os presentes o Dr. Tavares Cavalcanti, líder da bancada paraibana na Câmara dos Deputados:

O parlamentar patrício demonstrando-se perfeito conhecedor do movimento esportivo do país, fez uma rápida análise da ação que a C.B.D. vem desenvolvendo em prol do progresso esportivo do país, organizando ‘certames’, como o atual, que, além de outros frutos proporcionam melhor intercâmbio entre os desportistas de todos os pontos do nosso vasto país” (O Jornal: 12/10/1927).

A festa se prolongou até às quatro horas da tarde “entre mútuas manifestações de simpatia de todos os presentes”, estando ainda presentes o escritor Haroldo Daltro, Ferreira Júnior, d’A Esquerda; Dr. Ivo Arruda, diretor de “O Sport”; Moraes Cardoso, M. Oliveira, Roberto Machado, Neto Machado d’O Globo; Jonas Sant’Ana, Antônio Veloso, d’A Manhã e muitos outros jornalistas.

O 5º Campeonato Brasileiro de Seleções foi decidido entre cariocas e paulistas. Além da Paraíba, disputaram as equipes de Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Sergipe.

Nesse campeonato, a equipe da Parahyba ficou na 5ª Colocação, após enfrentar o Espírito Santo que ganhou pelo score de 6 x 1, partida ocorrida nas Laranjeiras no dia 12/10, sendo árbitro Homero Mesquita. O único gol paraibano foi marcado por “Pitota” aos 85 minutos.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- A PROVÍNCIA, Jorna. Edição de 01 de outubro. Recife/PE: 1927.

- DIÁRIO NACIONAL, Jornal. Edição de 06 de outubro. São Paulo/SP: 1927.

- O GLOBO, Jornal. Edição de 23 de setembro. Rio de Janeiro/RJ: 1927.

- O IMPARCIAL, Rio. Edição de setembro. Rio de Janeiro/RJ: 1927.

- O JORNAL, Rio. Edição de 12 de outubro. Rio de Janeiro/RJ: 1927.

- RECIFE, Jornal (de). Edição de 30 de setembro. Recife/PE: 1927.

Comentários

  1. Comentário de Flávio Ramalho de Brito, via WhatsApp em 16/03/2023: "Muito bom Rau. Naquela época, era quase uma exigência a presença de um intelectual na comitiva que ficava encarregado das saudações, dos discursos. José Gaudêncio também participou de uma dessas embaixadas".

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...