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Injustiça, por Sebastião Lima


Escrevendo para “O Rebate”, jornal publicado pelo Professor Luiz Gil de Figueiredo, que se publicava em Campina Grande-PB na década de cinquenta do Século passado, Sebastião Lima faz um apanhado do que são “Injustiças da Humanidade”.

O autor elenca uma série de eventos históricos para mostrar que, desde os tempos passados, desigualdade, desrespeito e tendenciosidade tem forte inclinação no coração humano. Assim, lembra-nos dos imperadores romanos que no Coliseu sacrificavam os cristãos e cuja multidão comparecia para assistir aquele ato nefasto, citando alguns personagens conhecidos, também injustiçados:

Galileu, se viu na iminência de escurecer a verdade; Sócrates, a beber a cicuta pelo simples fato de ser filósofo independente e puro; Joana D’arc, queimada viva, por receber de Deus as ordens do céu para salvar a França; Colombo correu secas e mecas, para encontrar apoio às suas descobertas e morreu em Valladolit, num desprezo tremendo; [...]”.

Concerne, ainda, que Tiradentes foi enforcado e esquartejado em praça pública; D. Pedro II, dado as virtudes de seu coração, morreu na nostalgia; Pedro Américo decepcionou-se em sua pátria e, concluindo o esperancense diz: “e é deste modo, o preito de gratidão que se rende aos grandes vultos”.

A sua insatisfação, quiçá plausível, pois os homens costumam homenagear apenas os falecidos, quando não se há mais nada a fazer, ressaltando que a geração de ilustres, que em vida amarga o sacrifício, padecem na morte o escárnio e o esquecimento:

E deste modo ­– assim se expressa – as épocas se repetem: o mundo que deveria pagar um tributo de gratidão a esses vultos que enriqueceram o nosso patrimônio histórico, nas letras, artes, músicas, e na ciência, deixaram somente o reconhecimento póstumo que não mais estimula aqueles que em vida, deviam ter sido alvos das mais significativas manifestações de gratidão e apreço, pelo muito que fizeram e pelo muito que deixaram”.

Assim como no passado, hoje também se pratica essa mesma “injustiça”, na voz de Sebastião Lima:

Hoje ainda continuamos no marasmo: as grandes inteligências, os grandes homens, artistas, poetas e filósofos, tem como convívio, as decepções e o desprezo.

Há de qualquer modo, inconsciência na humanidade, injustiça no seu julgamento, não dão a César o que é de César”.

Ao passo que, em épocas remotas, um cavalo recebeu tanta honra, no tempo de Calígula! Essa é a contrapartida que Lima nos expõe, conquanto hoje se tem, segundo o autor, casos semelhantes, “bípedes, que raciocinam como aqueles, que não sentem o nosso drama, não comungam com a nossa jornada de sacrifício”, escreve Lima.

Um país rico – na ótica de Sebastião – onde muitos jazem esquecidos, e como muitos, voam como aves de arribaçã, “inconsciente do destino, como eles viajam com o riso nos lábios, e a saudade do que deixa, sepultado ao coração”.

Sebastião Jesuíno de Lima ou simplesmente Sebastião Lima (1905/1995) era filho do comerciante Francisco Jesuíno de Lima e de d. Rita Etelvina; odontólogo de formação, atuou também como jornalista e professor. Faleceu em Campina Grande-PB, aos 90 anos de idade.

Injustiça, pobreza? Sempre houve e sempre haverá; somente o Deus de paz poderá mudar esse destino, mas enquanto o Rei não retorna para salvar os seus, e levar cativa toda a alma crente, amarguremos essa dor, na esperança de dias melhores.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- FARIAS, Eliomar Rodrigues (de). Família Rodrigues e Lima: minha história. Ideia Editora. João Pessoa/PB: 2016.

- O REBATE, Jornal. Injustiças da Humanidade, por Sebastião Lima. Edição de 04 de outubro. Campina Grande-PB: 1957.

Comentários

  1. Comentário enviado por Pedro Dias do Nascimento, via WhatsApp em 02/03/2023, às 21h30min:
    "Sempre foi assim e assim sempre será!
    Os grandes cérebros, as inteligências isoladas serão eternamente esquecidas, passando a serem vistas e comentados em textos, tempos após os seus desaparecimentos da terra.
    Parabéns por mais este texto!" (Pedro Dias)

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