O vigia noturno é responsável pela proteção
do patrimônio público e privado. Ele faz a guarda do perímetro evitando atos de
vandalismo, depredação e prejuízos financeiros aos órgãos públicos e
comerciantes.
Em nosso Município, o serviço era prestado,
inicialmente, pelos “inspetores de quarteirão” que garantiam a paz e a ordem após certas horas na zona rural.
O serviço foi regulamentado em 14 de setembro
de 1942, na gestão do prefeito Júlio Ribeiro, através do Decreto nº 21, “considerando
a necessidade de vigilância na supressão aos dilapidadores dos bens alheios
que, ultimamente, vem operando nesta cidade”.
Assim foi criada a “Guarda Noturna de
Esperança”, à época mantida pelo comércio e participares, em cooperação com a
prefeitura, cuja finalidade era “amplicar o policiamento noturno da cidade,
visando a garantir a segurança das casas, do comércio e residências contra a
gatunagem”.
Os guardas se
esforçavam para cumprir a lei, capitaneados por Antônio Rocha Diniz, mais
conhecido por “Melão”, que por ser herói da revolução constitucionalista, foi
nomeado pelo prefeito para assumir a chefia da guarda.
A ronda deveria se iniciar às 23 horas,
prolongando-se até às 05 horas do dia seguinte, com atribuições definidas pelo
seu regimento interno.
Com efeito, havia essa proibição de
circulação de pessoas após o horário em que as luzes de querosene se apagavam.
Esse fato foi tão importante para a época que até foi noticiado na imprensa
nacional:
“No Município de Esperança, o prefeito, em combinação
com a polícia, proibiu o trânsito pelas ruas da cidade depois das 23 horas,
mandando dar o “toque de recolher” pelo sino da matriz” (A Manhã/RJ:
07/05/1947).
Porém, um dos mais destacados, e mais antigos
guardas da cidade, foi o Sr. Felix José Costa, que trabalhou por cerca de 40
anos como guarda noturno, na vigilância municipal.
Nascido no Sítio Lagoa dos Cavalos, deste
Município, filho de agricultores, veio morar em Esperança após casar com Maria
do Carmo Xavier Costa, com quem teve cinco filhos: duas mulheres e três homens.
Morou por um tempo em Recife-PE, permanecendo
ali até seus 40 anos. Quando retornou a Esperança, 22 anos depois, conheceu aquela
que viria a ser sua esposa, com quem viveu por mais de 50 anos.
Homem íntegro, honesto e probo, ficou
conhecido não só por suas qualidades, mas pelo bom serviço que prestava. O
guarda Felix usava fardamento completo com quepe, apito, assessórios e objetos em
suas rondas. Respeitava a todos e era respeitado na comunidade, tendo inibido
com a sua atuação muitas ações criminosas.
Lotado na Secretaria de Educação, começou a
trabalhar bem novo e permaneceu nesse ofício até os 76 anos, quando se
aposentou pelo Município através da Portaria nº 47/2017.
O seu filho, Tony Xavier, que nos forneceu as
informações para compor esse texto, relata com orgulho a sua trajetória na
guarda municipal:
“Trabalhou 40 anos como guarda noturno sem dormir à
noite. Enquanto todos dormiam ele permanecia acordado, porque nesse tempo a
polícia se recolhia às 22 horas. Quando tinha festa no CAOBE, festas de
carnavais, festas juninas, e também jogos no campo do América era sempre
requisitado para fazer a guarda destes locais. Trabalhou nas festas da
Padroeira fazendo a vigilância do pavilhão na esquina da barraca de Manezinho
Freire até a de Zezinho Lanches”.
Quando jovem, observei muito o trabalho de
seu Felix na Escola “Irineu Jóffily”, em frente a casa de minha avó, Nevinha de
Dogival, onde ele às vezes entrava para tomar um cafezinho. E tinha por ele
admiração, pois a sua postura era elegante e tratava a todos com decência,
porém sem nunca abdicar de suas funções de vigilante.
A pequenina Esperança, hoje já crescida, deve
muito a pessoas como seu Felix, que fizeram desta cidade a “princesa do
Agreste”, com seu comércio notável e seu povo ordeiro.
Ilustres ou menos conhecidos, todos
contribuíram com sua parcela na nossa formação, e com orgulho temos o prazer de
trazer para os nossos leitores essa história de um de seus personagens.
Rau Ferreira
Referências:
- ACERVO, pessoal e familiar. Informações prestadas por
Tony Xavier, filho do homenageado, via WhatsApp em 14/01/2023.
- FERREIRA, Rau.
Banaboé Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança.
Esperança/PB: 2015.
- LIMA, Francisco
Cláudio de. 50 Anos de Futebol e Etc. Ed. Rivaisa: 1994.
- PARAÍBA, Diário Oficial dos Municípios (da). Ano VIII,
Nº 196. Edição m 01 de novembro. Paraíba: 2017.
Belo resgate! Ao ver a foto achei que conhecia, mas não associei de pronto. Lembrei dele e de quando, nas farras, entramos numa Kombi, creio que dê João Diniz... Um amigo ousado que ainda não tinha habilitação, tentou dirigir... Na ladeira da Rua do Irineu... Se não fosse Felix nós colocar pra correr poderíamos ter nos acidentado, atropelado alguém e certamente batido. Obrigado, Felix! Obrigado, Rau Ferreira.
ResponderExcluir