A “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”
foi uma resposta de grupos conservadores contrários às propostas do Presidente
João Goulart (1961/1964), que tinha em seu âmago um viés “comunista”, marcha
essa que se iniciou no dia 19 de março de 1964, em São Paulo-SP, e foi replicada em
várias cidades pelo Brasil.
Com efeito, o Presidente Goulart realizara um
efusivo comício, no dia 13 de março de 1963, cujo discurso gerou tensão nas
forças política do país, dando azo a sua cassação. Em resposta, grupos religiosos,
civis e militares organizaram uma marcha em prol dos ideais conservadores, contra o movimento “Bolchevista” criado por Vladimir Lenin, que tinha por
bandeira o socialismo de origem Russa, sendo este o pontapé do revide miliar.
Na Paraíba, o Município de Esperança destacou-se
nessa Marcha, tendo-a realizada num domingo, dia 10 de maio de 1964, antes
mesmo de Campina Grande-PB, que só fez a sua mobilização pela “redemocratização”
no dia 30 de maio daquele ano. Na oportunidade, comemorou-se também a vitória
da “Revolução de 1964”, acontecida em março daquele ano.
O Diário da Borborema, jornal que circulava
em Campina, destacou o evento em nossa cidade em suas páginas, como lemos a
seguir:
“ESPERANÇA (notas de Braulino Lima) – A Marcha da Família
com Deus pela Liberdade... jamais verificada na história deste município. À ‘Marcha’,
realizada no último domingo, compareceram além das demais autoridades
municipais um contingente do Exército que desfilou pelas ruas de Esperança sob
o comando do Capitão Farias, representante do comando do Batalhão de Engenharia
sediado em Campina Grande” (Diário da Borborema: 16/05/1964).
As ruas de Esperança-PB foram enfeitadas de
bandeirolas, onde desfilaram, pelas suas artérias, estudantes, donas de casas,
operários e considerável “massa popular ovacionando o Presidente da
República, Forças Armadas e outras autoridades civis e militares que se
destacaram na revolução de 31 de março” (Diário da Borborema: 16/05/1964).
O Monsenhor Manoel Palmeira celebrou missa
campal às 16 horas daquele domingo (10/03) na Praça da Matriz, onde
discursaram o Prefeito Luiz Martins de Oliveira, o sr. Dogival Costa, Presidente da
Câmara dos Vereadores, o Professor Heráclito Mendes, representante do corpo
docente do Ginásio Diocesano de Esperança; o deputado Francisco Souto e, por último,
o Capital Farias, comandante das Forças Armadas.
O Monsenhor Palmeira registrou o evento no Livro de Tombo da Paróquia, transcrito a seguir:
“Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Foi um dia de
inteiro movimento. Toda a comunidade se movimentou, numa vibração incomum. Quase
a totalidade das casas estavam embandeiradas. As principais ruas da cidade
ostentavam faixas. Com frases sugestivas. De todos os recantos do Município e
Paróquia, o povo se dirigiu para a cidade. Foi um movimento cívico inédito em
nossa história. – Exatamente às 16 h. foi celebrada a Santa Missa, no pátio da
Matriz. Estavam postados diante do altar de Deus, um pelotão do Exército,
comandada pelo Capitão Farias, o Ginásio Diocesano, os Reservistas de 1ª Categoria,
comandado pelo sargento Eudes Brandão, Escolas Públicas, particulares, paroquiais
e uma multidão calculada até em 10.000 pessoas. Durante 30 minutos, viveu-se
autêntico recolhimento, favorável à oração. Através de possantes alto-falantes,
o seminarista Moacyr dirigiu os movimentos litúrgicos, estimulando o controle
da participação à S. Missa. Em seguinte foi organizada a Marcha na seguinte
ordem: Exército, Reservistas, Educandários, Carros alegóricos, Autoridades,
portadores de cartazes e a imensa multidão. Antes da partida todos entoaram o
Hino Nacional. Percorremos as principais ruas da cidade, retornando à Praça da
Matriz, onde o povo se concentrou numa vibração desusada. As autoridades
tomaram posição destacada no palanque, seguindo-se os discursos seguintes:
Prefeito, Presidente da Câmara, Representante do Ginásio Diocesano, o Pároco, o
Deputado e afinal o Capitão Farias. O pensamento de todos coincidiu em uma
pauta comum: - Alegria porque a Providência livrou o Brasil das mãos iníquas dos
vermelhos. – Conscientização das forças democráticas e cristãs, para uma
vigilância mais intensa, porque foi apenas um começo de vitória. – Homenagens às
Froças Armadas, que no momento nacional, foram os instrumentos que Deus
escolheu para agir no momento decisivo. – Ainda houve prolongados movimentos de
vibrações, encenando com o canto do Hino da Independência. De tudo se fez uma
cobertura fotográfica e jornalística, para testemunho histórico, de um grande
dia, que arrancou entusiasmo até dos mais apáticos.
Desfilaram os alunos de Educação Física do
Ginásio Diocesano estudantes dos ginásios municipais e paroquiais sob o comando das professoras Terezinha Costa, Ernanda Cabral e Hosana Martins; um pelotão
do Exército e alguns militares reservistas, participantes do evento de março de 1964.
Nos registros fotográficos os manifestantes
exibiam cartazes que faziam alusão à cruz de Cristo, às cores da bandeira, às
reformas cristãs, com os seguintes dizeres: “O Brasil confia em suas Forças
Armadas”, “Viva às Forças Armadas”, “Tudo pela pátria e nada sem Deus” e “A cruz de Cristo, sim! A foice e o martelo, não!”, que
circularam pelas principais ruas da cidade, na presença estimada de dez mil
pessoas.
Num dos carros principais, um Jeep dirigido
pelo Sr. Titico Celestino, havia um cartaz no formato do mapa brasileiro escrito
em letras garrafais: “AEDUPE com Deus pela liberdade”.
Na opinião do pároco local, este foi um evento de grande civismo e que arrebatou grande parte da população esperancense, num evento inédito em nossa história.
A edição do jornal Diário da Borborema, em que a matéria foi veiculada, nos foi enviada pela historiadora Micilene Vieira da Silva.
No detalhe da foto vemos o desfile cívico quando chegava à Praça da Matriz.
Rau Ferreira
Referências:
- CODATO, Adriano Nervo & OLIVEIRA, Marcus Roberto
de. “A marcha, o terço e o livro: catolicismo conservador e ação política na
conjuntura do golpe de 1964.” In: Revista de História. vol. 24, nº 47, São
Paulo, 2004.
- DIÁRIO DA BORBOREMA, Jornal. Edição de 16 de maio.
Campina Grande/PB: 1964.
- PARÓQUIA DE ESPERANÇA, Tombo (da). Anotação do dia 10
de maio. Livro de Nº 02, 1958/1982. Paróquia N. S. do Bom Conselho. Esperança/PB:
1964.
SILVA, Micilene Vieira (da). O movimento da "Marcha
da Família com Deus pela liberdade" em Campina Grande a partir do Jornal
Diário da Borborema (1964). UEPB. Campina Grande/PB: 2018.
Felizmente a história quando se repete se faz numa farsa e a mais recente foi só rascunho. Á época, quero crer, Esperança foi laboratório para o que se daria em Campina, mais avançada politicamente, centro de maior repercussão. As aspas são bem felizes nesse resgate,
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