Pular para o conteúdo principal

Epaminondas Câmara, por Cristino Pimentel

 


Tracemos o perfil de Epaminondas Câmara na ótica de seu cunhado Cristino Pimentel. Cristino era literato e escritor, natural de Campina Grande-PB em 27/07/1897. Cristino era casado com Honorina nascida em Esperança-PB, filha de Horácio de Arruda Câmara e Idalgina Sobreira Câmara.

Conheci Epaminondas Câmara, em 1916, em Taperoá”, assim ele cita em seu livro “Mais um mergulho na história campinense”. Por essa época, Cristino trabalhava como cacheiro viajante do Bazar Comercial, do Coronel Joaquim Rodrigues Coura.

Nascido em Esperança aos 04 de junho de 1900, Epaminondas era filho do casal Horácio de Arruda Câmara e Idalgisa Sobreira Câmara. Portanto, cunhado de Cristino! Seu pai um honrado lavrador, morador do Riacho Amarelo.

O pai costumava leva-lo para o roçado, o que para ele era um sofrimento, pois não nascera para a árdua carreira da agricultura. Cumprida a missão, voltava aos livros, ao caderno e ao ditado. Segundo Cristino, Epaminondas “não teve infância nem juventude. Seus brinquedos giravam em torno do ‘cavalo de pau’ e em currais de areia, onde encurralava as ‘vacas de osso’ compradas a outros meninos com ‘cédulas de rótulos de cigarros Caxias’”.

Em 1910 a família foi morar em Taperoá-PB, onde seu genitor faleceu em 1921, retornando com sua mãe naquele mesmo ano para Campina Grande-PB, tendo Epaminondas se empregado no escritório do Sr. Joaquim Azevedo. Porém, necessitando melhores condições, largou o primeiro emprego, e foi trabalhar na firma compradora de algodão de Virgílio Maracajá, de onde saiu em 1929 para ingressar no Banco Auxiliar do Povo, permanecendo ali por 21 anos “sempre lendo. E sempre se instruindo, tendo por professores os bons autores da literatura e da história brasileira”.

Era um homem de moral irretocável – segundo a narrativa de Cristino -, católico fervoroso, autor do célebre livro “Evolução do Catolicismo”, religião que o empolgava e “disto não fazia alarde, porque entendia que a fé é um baluarte da alma humana”. E complementa o cunhado: “Foi um homem íntegro. Um bom filho. Um ótimo esposo, que soube comungar a sua companheira, dona Isaura Câmara, a alma que encontrou a sua alma. Só não foi um excelente pai porque a sua esposa não lhe deu nenhum filho. Mas, por isso, não foram desventurados”.

O seu mister eram o trabalho e a meditação, mundos nos quais gravitou Epaminondas. “No primeiro, ele encontrou o meio de dar ao corpo e ao espírito, com profundidade, cultura suficiente para uma vida modesta. No segundo achou o caminho de levar à alma a essência, o vigor, a coragem para atravessar o terrível lodo do mundo, sem se contaminar. Era um caráter’, disse-o Pimentel.

Tendo acumulado muito conhecimento, possuidor de “excelente memória, meticuloso nas suas anotações, metódico colecionador das datas e dos fatos históricos”, publicou “Os Alicerces de Campina Grande” (1943), “Datas Campinenses” (1947) e já preparava o terceiro livro (Pequena Enciclopédia Brasileiro para uso dos católicos) quando a morte o encontrou. O cunhado o definia como um “paciente pesquisador de leis e da vida social de Campina Grande e do Estado”.

Epaminondas Câmara faleceu às duas e meia da tarde do dia 28 de abril de 1958. Os seus restos mortais foram transladados para o Cemitério Nossa Senhora do Carmo, em Esperança, onde se encontra o túmulo da família.

Cristino Pimentel deixou a vida no dia 31 de dezembro de 1971, às 11:15 horas, vítima de hemorragia cerebral causada por hipertensão, conforme óbito firmado pelo Dr. João Ribeiro, aos 74 anos de idade. Foi sepultado em Campina Grande-PB.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

-         CÂMARA, Epaminondas. Evolução do catolicismo na Paraíba: Aos 500 anos da descoberta do Brasil. Prefeitura Municipal de Campina Grande, Secretaria de Educação: 2000.

-         PIMENTEL, Cristiano. Mais um mergulho na história campinense. Academia de Letras da Campina Grande, Núcleo Cultural Português. Ed. Caravela: 2001.

-         SOARES, Antônio. Autores Parahybanos. Ed. Caravela: 1999.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Capelinha N. S. do Perpétuo Socorro

Capelinha (2012) Um dos lugares mais belos e importantes do nosso município é a “Capelinha” dedicada a Nossa Senhora do Perpétuo do Socorro. Este obelisco fica sob um imenso lagedo de pedras, localizado no bairro “Beleza dos Campos”, cuja entrada se dá pela Rua Barão do Rio Branco. A pequena capela está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa “ lugar onde primeiro se avista o sol ”. O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Consta que na década de 20 houve um grande surto de cólera, causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira, teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal.  Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à ...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

História de Massabielle

Capela de Massabiele Massabielle fica a cerca de 12 Km do centro de Esperança, sendo uma das comunidades mais afastadas da nossa zona urbana. Na sua história há duas pessoas de suma importância: José Vieira e Padre Palmeira. José Vieira foi um dos primeiros moradores a residir na localidade e durante muitos anos constituiu a força política da região. Vereador por seis legislaturas (1963, 1968, 1972, 1976, 1982 e 1988) e duas suplências, foi ele quem cedeu um terreno para a construção da Capela de Nossa Senhora de Lourdes. Padre Palmeira dispensa qualquer apresentação. Foi o vigário que administrou por mais tempo a nossa paróquia (1951-1980), sendo responsável pela construção de escolas, capelas, conclusão dos trabalhos do Ginásio Diocesano e fundação da Maternidade, além de diversas obras sociais. Conta a tradição que Monsenhor Palmeira celebrou uma missa campal no Sítio Benefício, com a colaboração de seu Zé Vieira, que era Irmão do Santíssimo. O encontro religioso reuniu muitas...

Silvino Olavo e Mário de Andrade no interior da Paraíba (1929)

“O Turista Aprendiz” é um dos mais importantes livros de Mário de Andrade, há muito esgotado e reeditado em 2015, através do Projeto do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan. Os relatos de viagens registram manifestações culturais e religiosas coletadas pelo folclorista em todo o Brasil. Este “diário” escrito com humor elevado e recurso prosaico narra as inusitadas visitas de Mário ao Nordeste brasileiro. O seu iter inclui Estados como Alagoas, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco e Paraíba. Mário havia deixado o Rio em 3 dezembro de 1928. Embarcou no vapor “Manaus”, com destino ao Recife, onde permaneceu dois dias; e dali seguiu de trem para o Rio Grande do Norte, chegando dia 14 ao Tirol, bairro onde residia Câmara Cascudo (1898-1986), que foi um de seus companheiros de viagem nesse Estado, junto com o jornalista, poeta e crítico de arte Antônio Bento de Araújo Lima (1902-1988). O Álbum de Fotografias (Viagem ao Nordeste Brasileiro 1928-29), pertencen...