Pular para o conteúdo principal

Elysio Sobreira fala sobre a "Guerra de Princesa"

 Entrevista para o Jornal “O Globo”


 Em entrevista para o jornal “O Globo”, concedida pelo Coronel Elysio Sobreira, dias antes do conflito que se denominara “A Guerra de Princesa”, o operoso Chefe da Força Policial da Parahyba falou sobre a sua expectativa e os homens sobre o seu comando disse:

“- É a melhor possível. Quando marcham para o campo da luta, é com indescritível entusiasmo, erguendo vivas ao presidente João Pessoa. É um espetáculo comovente.

- Acha difícil a tomada de Princesa?

- Absolutamente. Considero a mazorca perrepista fácil de ser dominada pelas forças legais, dada a bravura dos oficiais, inferiores e praças da nossa Força Pública, que lá estão a se bater com verdadeiro heroísmo.

- E os cangaceiros?

- Da minha última viagem à zona das operações militares colhi informações fidedignas de que os bandidos chefiados por José Pereira estão apavoradíssimos e indignados pelo tratamento que lhes dispensa o chefe do bando criminoso.

Alguns que passaram pelo município de Misericórdia chegaram a declarar que haviam fugido de Princesa porque não estavam dispostos a arriscar a vida por dez mil réis por semana e aguentar desaforos de José Pereira, que, quando se embriagava, tratava-os de pior maneira, principalmente depois do fracasso de Tavares, em que morreram muitos de seus cabras.

- Tem fundamento o boato de que V. S. fora vítima de uma emboscada?

- Não. Não sofri nenhuma emboscada. O que se deu foi o seguinte: um grupo de bandidos depois de ter ferido Bernardo Limeira, que viajava de automóvel pelo município de Teixeira, pediu-lhe desculpas, dizendo suor que o carro fosse do comandante da polícia. Não duvido que sabendo da minha estadia por aquela zona preparasse José Pereira, uma emboscada para me assassinar, mas, fui e voltei são e salvo.

Nenhum incidente ocorreu na minha viagem. Fui até a fazenda Glória, perto de Tavares, voltando dali por ter encontrado o capitão Irineu Rangel, com quem ia me entender.

Sei, acrescentou o comandante Sobreira, que na minha ausência, alguns espíritos pequenos emprestaram-me o título de traidor. Não preciso justificar-me em face de semelhante infâmia. Deixo aos meus adversários a honra de disputarem o papel que um homem de bem não seria capaz de representar.

O meu passado e o meu presente desafiam quaisquer suspeitas. Nunca me medi pela bitola dos trânsfugas, que não satisfeitos em terem arruinado a Parahyba materialmente procuram desgraça-la moralmente”.

O mesmo jornal trazia junto a essa entrevista do Coronel Elysio Sobreira notícias da Parahyba, com informações de que o Ministro da Justiça “endereçou circular ao presidente João Pessoa solicitando de S. Ex. o envio das publicações referentes à organização policial da Força Policial do Estado”. O pedido de acordo com Sobreira, seria para atender o embaixador do Chile, “interessado de certo no estudo dos nossos sistemas policiais”, respondeu o Comandante.

Todavia, o governador disse ao Ministro que, antes de qualquer coisa, deveria se dirigir ao Ministro da Guerra, dito que esse andava a par todas as relações das ações militares paraibanas.

Na época, a localidade conhecida por “Tavares”, no sertão do Estado, dava notícias de que os cangaceiros estavam sendo “rechaçados vantajosamente pelas colunas dos bravos tenentes João Francisco e Manoel Benício, na zona oeste do campo de operações”, e complementa a reportagem:

São inúmeros os atos de bravura dos soldados da polícia que lutam com verdadeiro entusiasmo, não se tendo registrado até aqui nenhuma baixa por parte dos combatentes legais”.

De outra banda, segundo a mesma matéria, havia muitas baixas dos opositores, que “nos últimos encontros com as forças do governo perderam cerca de vinte cabras, entre mortos e feridos”.

A exemplo, cita-se a batalha de Mamanguape, ocorrida em 19 de maio de 1930, na qual morreu um “famigerado facínora” que seria “chefe de um numeroso grupo da horda perrepista”, e concluía: “E assim de derrota em derrota não demorará que Princesa caia em poder das nossas forças, que lutam de ânimo cada vez mais forte e confiante na vitória final”.

Dava-se, conta, ainda, da cidade de Santa Rita, que num expressivo protesto se debelara contra a hipótese de intervenção federal no Estado.

A revolta de Princesa foi deflagrada nesse Município em fevereiro de 1930, em oposição ao governo João Pessoa, e tinha por antecedente a reforma na estrutura político-administrativa empreendida para soerguer as finanças estaduais, colocando “barreiras” tributárias no interior.

Em contrapartida, os “Pessoa de Queiroz”, primos do governador paraibano, reagiram às cobranças de impostos, liderando uma ferrenha campanha através do “Jornal do Commércio”; que foi igualmente defendida pelo órgão de publicação estadual “A União”, provocando dentre outras questões, o rompimento de seus aliados José Pereira e João Suassuna.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- JORNAL DO COMMÉRCIO. Edição de 04 de outubro. Recife/PE: 1930.

- O GLOBO, Jornal. Edição matutina. Seção geral, pág. 6. Edição de 28 de maio. Rio de Janeiro/RJ: 1930.

- SOBRINHO, Barbosa Lima. A verdade sobre a Revolução de Outubro 1930. Alfa-ômega: 1975.

Comentários

  1. É muita história! E esse esperancense merece mais, especialmente em seu lado humano. O militar está por demais evidenciado!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário! A sua participação é muito importante para a construção de nossa história.

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...