Pular para o conteúdo principal

Professor José Gomes Coelho e o ensino da Parahyba

 

Não se discute a importância dos professores primários na vida dos estudantes. São eles quem nos ensinam as primeiras letras, e nos encaminham para uma vida de estudos sem fim; poucos sabem ser gratos a esses mestres do saber, muitas vezes esquecendo-se daqueles que pegaram conosco o lápis e fizeram os contornos das garatujas incompreensíveis até para nós mesmos.

Entre tantos destaca-se o Professor José Gomes Coelho no ensino paraibano, por ser um dos mais participativos e que empreendeu inovações nessa área pouco conhecidas de sua gente.

Nascido em Esperança aos 13 de abril de 1898, filho de Eusébio Joaquim da Silva Coelho e Débora Clotilde Gomes Coelho. Formou-se pela Escola Normal (1908) e passo a lecionar em Campina Grande-PB, onde fundou (1913) com Lino Fernandes, na rua da Independência, o Gabinete de Leitura “7 de Setembro”, centro literário que contava com 30 membros, que possuía um jornal, biblioteca e escola pública gratuita.

Não demorou muito até ser convocado para reger a 3ª Cadeira do Sexo Masculino da Capital do Estado pelo diretor geral de instrução Dr. Tavares Cavalcanti. Nesse mesmo ano, participou da comissão para tratar dos limites da Paraíba e Pernambuco, apresentando um esboço topográfico que lhe serviu, três anos depois, de base para o seu livro “Escorço de Chorographia da Parahyba” (1919), que foi adotado nas escolas primárias.

Participou da Comissão de Reforma da Educação da Parahyba, promovida pela Lei nº 873, de 21 de dezembro de 1917, que instituiu os grupos escolares em nosso Estado. Fizeram parte da Comissão de Elaboração: José Coelho, José Francisco de Moura, Tavares Cavalcanti, Odilon Coutinho, Alcides Bezerra, Celson Afonso Pereira e José Fructuoso Dantas.

José Coelho, também atuou como Professor e Diretor da Escola Normal (1927-1935), Diretor da Escola Modelo (1926-1927) e Catedrático do Liceu Paraibano, sendo deste também diretor.

Como Inspetor Regional de Ensino (1918-1920), elaborou um relatório com o diagnóstico da educação paraibana:

O ensino nas escolas públicas dessa cidade restringe-se a um termo entre o ensino clássico, livresco, mnemônico, e o moderno das nações anglo-germânicas. Não é essencialmente bom, nem pode ser taxado de mau; é o melhor possível na situação actual das escolas, resultante das condições materiaes das aulas, da capacidade pedagogica dos mestes, e da reacção do meio social natralmente conservador, desconfiado, com razão às vezes, de inovações” (COELHO, 1921, p. 01).

O professor José Coelho também fundou o curso D. Ulrico que compreendia uma aula noturna ofertada de forma gratuita para adultos pobres com vaga para 15 alunos nos conformes da Lei nº 665 de 29 de agosto de 1913.

A esse respeito, noticiava a Assistência Pública:

Ainda hontem, o ilustre professor José Coelho assingou uma communicação ao 'Estado da Parahyba', noticiando uma escola nocturna gratuuita para pessoas pobres (de ambos os sexos) e maiores de 15 annos”.

O Professor José Gomes Coelho atuou na Reforma da Instrução Pública empreendida pelo governo de Camillo de Holanda, através do Decreto nº 873, de 21 de dezembro de 1917, juntamente com Alcides Bezerra, Celson Afonso Pereira, José Francisco de Moura, José Frutuoso Dantas Júnior, Manuel Tavares Cavalcanti e Odilon Coutinho possibilitando “a difusão do ideário dos grupos escolares para as regiões interioranas”.

Em mensagem à Assembleia Legislativa do Estado, justificava o governador:

“Para tornar effectivo o meu pensamento de governo, neste particular, nomeei ultimamente uma comissão dos nos pedagogos mais competentes para me formularem uma reforma do ensino público em geral, e estou certo de prestar o melhor serviço à nossa terra se conseguirmos a introdução dos methodos didacticos e pedagógicos tão proficuamente experimentados no Estado de S. Paulo, que é o paradigma nacional nessa relevante matéria de instrcção pública” (MSAL: 1917, p. 08/09).

Nesse aspecto, noticiou o jornal oficial do Estado que os professores José Coelho e Sizenando Costa “collaboraram eficazmente [...], os quais trouxeram ao assumpto e contigente precioso das luzes e experiência” (A União: 19/08/1917).

Também participou da fundação da “Sociedade dos Professores Primários da Paraíba” ao lado de Eudésia Vieira e Olivina O. Carneiro da Cunha, sendo essa a primeira associação de que se tem notícia do Estado que congregava os educadores de primeira fase, a qual debatia questões para o ensino das primeiras letras na Capital e decidia quais livros seriam adotados.

Essa associação, fundada em 16 de junho de 1917, no Grupo Escolar “thomas Mindello” por 40 professores para “tratar de tudo o que se referia ao desenvolvimento do ensino popular e dos interesses do professorado” (A União, ), se reunia ao menos uma vez por mês, e estava assim constituída: José Coelho (Presidente), Eduardo Medeiros (vice), Isabel Cavalcanti Monteiro (1ª Secretária), Lourival Lima (2º Secretário), Elyseu Maul (Tesoureiro), Alice Pinto (vice-tesoureira) e Sisenando Costa (Bibliotecário-arquivista).

Importante iniciativa desta associação foi a criação da “Caixa Escolar”, no dia 03 de maio de 1919, um fundo financeiro para ajudar crianças carentes que frequentavam o ensino regular a adquirirem roupas, material escolar e alimentação.

Assim noticiava o órgão oficial:

“Essa obra de beneficiamento escolar foi levada a effeito pela Sociedade dos Professores Primários, que muito e bons serviços está prestando ao ensino das primeiras lettras desta capital” (A União: 03/05/1919).

José Coelho fez parte da Associação dos Homens de Letras juntamente com Coriolano de Medeiros, os quais fundaram em 27 de setembro de 1931 o Gabinete de Estudinhos de Geografia e História da Paraíba composto por sete sócios que se destinava ao estudo dessas matérias.

Participou da Comissão do VII Congresso Brasileiro de Geografia junto com Alcides Bezerra e Manuel Tavares Cavalcanti e ministrou aulas no Instituto Underwood e na Faculdade de Ciências Econômicas na Paraíba.

Pedagogo pela Escola Normal, formou-se em Direito na Faculdade do Recife (1924), sendo ainda Secretário da Fazenda do governo Argemiro de Figueiredo (1937), Diretor do Instituto de Educação, nomeado pelo interventor Ruy Carneiro (1942) e Juiz do Tribunal Regional Eleitoral.

Como agrimensor fez a planta da Sociedade São Vicente de Paula (1924) e a planta da Escola Modelo para o interior do Estado (1926), que serviu de prospecto para a Escola “Irineu Jóffily” na cidade de Esperança, inaugurada em 12 de junho de 1932.

Colaborou ainda, o professor, José Gomes Coelho, com os jornais A União, A Notícia e Diário da Paraíba, falecendo em João Pessoa, aos 18 de dezembro de 1954.

Por tudo isso, foi o professor José Coelho de grande importância na educação paraibana, exercendo não apenas diversos cargos de professor e diretor, mas atuando ativamente na condução do ensino, através de sua inspetoria, propondo mudanças de relevância para a categoria, inclusive no apoio aos alunos carentes, merecendo justa homenagem de sua terra.

 

Rau Ferreira

 

Referências:

- COELHO, José. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Solon Barbosa de Lucena. Imprensas Official. Parahyba do Norte: 1921.

- COSTA, Jean Carlo de Carvalho. Contribuições educacionais e jurídicas de Alcides Bezerra: itinerário e rede de sociabilidade (1907-1938). Pós-Graduação. Mestrado. UFPB. João Pessoa/PB: 2020.

- ENSINO, Revista (do). Ano I, Nº 02. Ed. Julho. Parahyba do Norte: 1932.

- ESPINDOLA, Maíra Lewtchuk. As experiências intelectuais no processo de escolarização primária na Paraíba (1824-1922). Pós-Graduação. Doutorado. UFPB. João Pessoa/PB: 2017.

- FERREIRA, Rau. Escola Irineu Jóffily - 80 Anos de Fundação. Edições Banabuyé. Esperança/PB: 2011.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...