Magna Celi (*)
Silvino
Olavo nasceu em 1896 e faleceu em 1969. Natural de Esperança- PB, legou-nos
versos de valor poético extraordinário, podendo ser considerado um poeta que
permeia traços entre o Parnasianismo e o Simbolismo: realismo e saudosismo,
sobretudo com temas sobre desilusão e nostalgia. Escreveu dois livros poéticos:
Cysnes e Sombra Iluminada.
Escolhi
alguns poemas do livro Cysnes, para esta apreciação literária.
O
poeta elege um ícone “o cisne” para simbolizar sua trajetória de vida, marcada
com sofrimento, loucura, desencanto e tristeza.
O
mito do cisne vem do grego kýknos que
passa a representar um poeta ou cantor de versos nostálgicos, visto que era
sabido cantar o cisne uma música muito lamuriosa antes de morrer.
Na
obra Cysnes, o poeta escolhe o cisne como expressão de seus sentimentos e
emoções, revelando-se como um pássaro em seus voos frustrados pelo destino
(cisne preto), mas possíveis de ser ressuscitados pela beleza, pela
tranquilidade (cisne branco).
O CYSNE BRANCO
O cysne branco rola sobre
o lago...
Rola tão leve que nos
causa mágoa;
E a sua sombra,
refletindo n’água,
Rola tão leve como um
sonho vago.
E, assim, rolando, num
prestígio mago,
o espírito parece da
Mãe-d’Água;
- ouço-lhe a voz, e,
intimamente, afago-a
como o que mais mereça o
meu afago.
..........
(In: Obra Poética, organizada
por Eduardo Martins, p. 59)
O CYSNE BRANCO DO LAGO
O cysne branco do lago,
conheci-o, sempre a
nadar;
era de uns olhos de mago,
de olhar tão místico e
vago,
que parecia o luar...
Sobre a água azul
deslizava
meu cysne bom, de marfim;
e eu, sempre, ali, me
quedava,
na grade que emoldurava
o lago azul do jardim.
..........
(In: Cysnes-Sombra Iluminada.
Organização de Roberto Cardoso, p.93)
O CYSNE PRETO
A Renato Araújo
Sobre a áscua impura e
ruim de sórdido palude,
buscando sempre só, a
sombra do arvoredo,
covarde, a se ocultar,
cheio de assombro e medo,
o cysne preto nada, em
lúgubre atitude.
Durante o dia veste a
negra capa rude,
fantástica e fatal do seu
destino tredo;
e – irmão da noite – a
lua, aguarda-a, em seu degredo,
a ver se ela lhe traz
conforto à solitude.
..........
(In: op. cit. p.22)
Evidencia-se,
com clareza, em muitos dos seus poemas, um tempo marcado por várias sensações
como alegria, nostalgia, desilusão. Às vezes, pelo reflexo do Sol matinal nas
águas de um lago onde passeia um cisne branco esparzindo paz e harmonia. Em
outros momentos, eclode a tarde e, no poeta, um desejo de ascensão
profissional, simbolizado pela figura de um rei, indicando o poder; e de um
profeta com a capacidade de decifrar os enigmas do futuro.
..........
Manhã clara, de prata;
manhã leve, de linho;
como eu venho, cantando,
absorver o teu vinho,
ao cantar d’água clara a
saltar da cascata!
(In; Cysnes – Sombra
Iluminada, p. 43)
VESPERAL
É a hora em que o
crepúsculo se aloura
num louro-malva de
topázio antigo –
e eu penso que tu és, ó
minha Rosa-Loura,
o meu melhor amigo...
(In: op .cit. p.125)
Já
o amor, em Cysnes Amorosos, é percebido pelo poeta com sentimentos profundos
que são comparados ao par de cisnes que nadam suavemente. No entanto, em si o
poeta o sente apenas na saudade.
Sob o velado manto da
saudade
minh’alma de luar,
soturna e queda,
num labirinto de emoções
se enreda,
lembrando, meu amor, tua
bondade...
Ah! Como é diferente a
nossa vida!
tu tão distante e eu,
vendo-te, apenas,
sob o velado manto da
saudade!
(In: op. cit. p.75)
Em
“O Cysne branco do lago, obra já citada, na última estrofe, p. 125, o poeta
explode seus sentimentos mais fortes que se encontram no íntimo do ser: a não
realização de um amor imenso e um presságio de morte.
Concluímos
afirmando ser o poeta Silvino Olavo de uma sensibilidade à flor da pele, bem
como um crânio largamente conhecedor de grandes poetas gregos e latinos, com os
quais se compraz dos mesmos sofrimentos aflorados por eles.
Transcrevemos
um soneto de sua larva como exemplo.
DANTE E BEATRIZ
Uma estrela sorri, no
céu, acesa,
olhando Dante... E o
bardo de Florença,
o olhar de Beatriz, vê com
surpresa
no rutilar daquela
estrela imensa.
E Beatriz, das mãos de
Deus suspensa,
vendo o vate na selva,
sem defesa,
pede a Virgílio para, à
luz da crença,
os passos lhe acertar
para a Beleza.
Do Limbo sai o Cysne que,
latino,
emulou, no modelo de seu
Canto,
o luso peito e o peito
florentino.
Descem ambos aos círculos
do Inferno,
mas, Virgílio – pagão –
volta em seu canto
e Dante ascende ao
paraíso – Eterno.
Magna
Celi
(*) Escritora, poetisa,
cronista, memorialista, pesquisadora
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