Denota-se a influência de Carlos Dias Fernandes nas letras paraibanas a partir de uma correspondência trocada com o escritor e sociólogo Gilberto Freyre no final de 1916.
O autor de "Casa Grande &
Senzala" (1933) havia sido convidado por Carlos para proferir uma palestra
na Parahyba, porém o seu pai Alfredo Freyre não contemplava aquela ideia, por
considerar a vida boêmia de Fernandes.
Autorizado por sua genitora, Freyre
chega à capital do Estado e “lê no
Cine-Teatro Pathé a sua primeira conferência pública, dissertando sobre Spencer
e o problema da educação no Brasil”.
A conferência foi realizada no dia 17 de
janeiro de 1917, e na época Gilberto era um simples professor do Colégio
Americano Batista, ainda sem os auspícios das letras que o fizeram reconhecido
a nível nacional.
Carlos Dias teceu elogios ao
conferencista, que debutava na Paraíba os seus dotes de orador.
Inútil tentar tecer quaisquer
comentários sobre Gilberto Freyre. A sua obra fala por si.
Quanto à Carlos Dias Fernandes, Edgard
Carvalheiro acerca de seu perfil escreve: “polêmico
e desabrido que pelas atitudes insólitas que tomava, a paixão com que escrevia
a favor ou contra um autor, teve o seu nome no cartaz, combatido por uns,
endeusado por outros” (Rio de Janeiro: 1959, p. 123).
Não apenas o autor citado, assim como
diversos autores nacionais colocam a relevância de Carlos Dias Fernandes, na
construção das letras paraibanas, assim como inegável as suas publicações no
jornal “A União”, sob o título “Letras & Artes” e “Autores & Livros”
tecendo comentários acerca de poetas e escritores de sua época, com grande
galhardia.
Além de exímio escritor, Carlos também
era poeta de boa estirpe. Veja a exemplo os versos de “A Voz das Origens”,
escrito para a revista Rosa Cruz:
A
VOZ DAS ORIGENS
Todo
ser, que nos círculos da Vida
Girando
em convulsões e ânsias palpita,
Aspira
à placidez indefinida
Da
celeste mansão que o sonho habita.
Toda
a alma que os anima foi proscripta
D'essa
eterna região desconhecida,
De
cuja natureza, em vão cogita
O
esforço da razão sempre vencida.
Da
ave que voa ao verme que rasteja,
Em
todo ser, por ínfimo que seja,
Há
um secreto desejo de ascendência.
Há
um vago desejo que os embala,
Uma
voz inefável que lhes fala
De
um outro modo de ser n'outra existência.
Carlos
Dias Fernandes
Assim se expressou o seu colega de
redação, poeta Silvino Olavo da Costa:
“Poucos espíritos, é verdade, conseguiram
manter, ao lado de Carlos D. Fernandes, na Parahyba, uma personalidade
independente”.
Carlos Augusto Furtado de Mendonça Dias
Fernandes nasceu em 20 de setembro de 1874, na cidade de Mamanguape (PB), e
faleceu aos 68 anos de idade, no dia 09 de dezembro de 1942, no Rio de Janeiro
(RJ). Foi jornalista, advogado e poeta simbolista/naturalista. “O Cangaceiro” é
considerada a sua obra-prima.
Rau Ferreira
Referências:
-
CARVALHEIRO, Edgard. Panorama da Poesia Brasileira. Volume IV. Editora
Civilização Brasileira: 1959.
-
FREYRE, Gilberto. Global Editora. Nordeste: 2015.
-
O NORTE, Jornal. Ano X, Edição nº 2.501. Parahyba do Norte: 1917.
-
OLAVO, Silvino. De Folklore. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro: 1927.
-
OLAVO, Silvino. Moderna mentalidade da Parahyba do Norte. O Globo, Jornal.
Suplemento de Artes. Rio de Janeiro: 1927.
-
ROSA CRUZ, Revista. Edição nº 01. Parahyba do Norte: 1901.
-
WIKIPÉDIA, A Enciclopédia livre. Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Dias_Fernandes,
acesso 10 de junho de 2020.
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