Discurso
pronunciado pelo Acadêmico Josemir
Camilo de Melo quando da sua posse na Cadeira nº 14, do Instituto Histórico
e Geográfico Paraibano (IHGP), que tem como patrono, José Gomes Coelho, sendo fundador e primeiro ocupante, Humberto
Nóbrega, e segundo ocupante, Wellington Aguiar, em data de 13/11/2015:
“Eis-me, pois, nos arcanos recantos da memória da Paraíba, na companhia
invejável de seus guardiães. Tenho no patrono José Gomes Coelho, um
precursor daqueles estudos a que aderi, ou seja, os princípios da Escola dos
Anais (École des Annales), do grande Fernand Braudel, que pregava a pesquisa
multidisciplinar, invocando fortemente a História e a Geografia. Era o que
fazia José Gomes Coelho, ainda de maneira empírica.
Nosso patrono parece também ter vivenciado o problema do deslocamento
espacial e social, pois nascido em Esperança, na transição Agreste/Brejo, em
1898, fincou suas raízes na cidade da Paraíba, onde faleceu em 1954. Diplomou-se pela Escola Normal do Estado da Paraíba
e cursou Direito no Recife e, ainda, o curso de Agrimensor. Tornou-se professor do Liceu Paraibano e da Escola Normal, foi
nomeado Secretário da Fazenda no governo Argemiro de Figueiredo, em 1937, além
de assumir a cátedra universitária, na Faculdade de Ciências Econômicas da
Paraíba.
José Gomes Coelho foi eleito para o Instituto, em 1914. Portanto, seria
o que hoje chamamos de adolescente, se as datas estiverem corretas, pois
estaria com 16 anos. Três anos mais tarde já nos daria o seu livro Escorço de Chorographia da Parahiba,
editado em 1919, que foi adaptado para as escolas públicas do Estado e que
traz, em anexo, um mapa do Estado da Paraíba, polêmica, então quase centenária.
Mas não era só a questão dos limites ao norte, havia problemas de divisa
com Pernambuco, para o qual fora nomeado o então novel membro desta
Instituição, Dr. José Gomes Coelho, em 1915.
Fazia parte de uma Comissão constituída pelos consócios Carneiro Monteiro,
Irineu Pinto, Irineu Joffily e Francisco Barroso para tratar da questão dos
limites da Paraíba com Pernambuco, diante de
uma representação feita pelos moradores de Serrinha, e do de Ingá, que
reclamavam contra a indébita intervenção de agentes fiscais do Conselho
Municipal de Itambé. Na oportunidade, foi apresentado por José Coelho um esboço
topográfico por ele elaborado sobre a posição daqueles limites. Nos anos 30, seria indicado para
dirimir dúvidas sobre os limites com o Rio Grande do Norte, como encontrei uma referência ao seu nome, no livro de Nestor Lima, Limites entre
a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Natal: Sebo Vermelho Edições, 2013, p. 6.
Este livro história os debates improfícuos entre os dois Estados para
redefinição dos limites.
Agrada-me,
portanto, ter como patrono um pesquisador militante, principalmente, quanto aos
problemas de limites estaduais. Meu interesse vem desde que um amigo me
perguntou: por que o mapa da Paraíba é tão estreito lá perto de Patos. Tentei
explicar processos históricos e me interessei pela matéria. Nas minhas
pesquisas de doutorado, me espantei com um mapa da Paraíba encontrado em um
livro publicado em Londres, pela Royal Geographical Society. Lá, nosso mapa tem
um formato quase de peixe, linear e arqueado, desde o litoral até o sertão,
incluindo, portanto, muitas terras do Rio Grande do Norte. Irenêo Joffily foi
um, entre aqueles que se insurgiram, contra o que se propagava como mapa da Província.
No entanto, o grande
historiador paraibano, Maximiano Lopes Machado, que, em 1871, publicou o ensaio
“O Atlas Histórico de Cândido Mendes”, não aceitou as observações de Joffily,
que fizera um périplo a cavalo pelo interior da Paraíba. Alegara Machado que o
historiador campinense, então jurista, tomara notas como um ‘touriste’ (sic).
Essa
polêmica dos limites surgiu, a partir de 1836, quando se definiram os limites
provinciais entre Rio Grande do Norte e a Paraíba, prosseguiu durante o século
XIX. Mesmo sob a administração republicana, nada se inovou, parecendo
permanecer os ditames do poder espiritual sobre o temporal, ou seja, o das
divisões de freguesias, cujas côngruas dos vigários eram pagas pelo governo,
ficando, portanto, tais terras na freguesia da vila do Príncipe, quando
deveriam ser da Paraíba, se se mantivessem os limites das capitanias.
Na revista deste egrégio Instituto, voltava a escrever sobre a polêmica,
o Padre Joel Esdras Lins Fialho com o seu “Limites. Questão de Limites da Parahyba
e Rio Grande do Norte” (Revista do IHGP, nº 3, 1911, p. 141-145).
Nosso fundador, Humberto Nóbrega, mesmo sem saber que assumiria,
quase duas décadas depois, a cadeira que teria como Patrono José Gomes Coelho,
em sua obras O Meio e o Homem na Paraíba (1949, p. 4, 5, 6), também discorre
sobre a problemática dos limites com o Rio Grande do Norte, expondo um mapa da
Paraíba, como fizera o Patrono, mas, curiosamente, sem citar, ao que nos
parece, o nome deste precursor, e sim, e apenas o de outro, Tavares Cavalcanti”.
É mister se fazer as seguintes considerações, para
que o leitor bem compreenda a importância do texto, que foi extraído da Revista
do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba, seu autor e o patronado de José
Gomes Coelho.
Josemir Camilo de Melo é PhD em História pela UFPE;
professor aposentado da UFCG, sócio-fundador do Instituto Histórico de Campina
Grande e sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.
José Gomes Coelho (1898/1954) era diplomado pela
Escola Normal da Paraíba, Bacharel em Direito pela Faculdade do Recife, além de
formado de ser como Agrimensor; ocupou os cargos de Professor do Lyceu
Parahybano e da Escola Normal, tendo assumido ainda a Direção destes
educandários; lecionou no Instituto Underwood e na Faculdade de Ciências
Econômicas da Paraíba.
Foi Inspetor Fiscal do Ensino, Secretário da Fazenda
do Governo Argemiro de Figueiredo, e Juiz do Tribunal Regional Eleitoral.
Publicou em 1919, o livro “Escorço de Chorographia da Parahyba” (1919), a qual
foi referendada pelo IHGP – Instituto Histórico da Paraíba, e pelo Conselho de
Instrução do Estado, sendo posteriormente adaptada para as escolas públicas
estaduais.
Rau Ferreira
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