Desembarca Pedro numa cidadezinha do
interior. De pronto ouviu os reclamos do povo de não poder contar com uma
igreja maior e foi a procura do padre encontrando o vigário em oração no templo:
- “Reverendo,
Deus escreve certo por linhas tortas. O Senhor pode não acreditar, mas foi Ele
que me enviou. Venho trazer a solução para o construir a Igreja que a cidade
tanto precisa e deseja”.
Sem ao menos pestanejar, ofereceu ao padre
um “bilhete premiado”. Apesar de ser uma pessoa culta, o religioso caiu nas “lábias”
do malandro, que lhe mostrou uma nota de jornal com a estória de um ganhador da
loteria. Seria ele um mensageiro do alto? Refletia o pároco.
- “A
pessoa que me mostrou essa luz, pediu segredo” – respondeu o Pichaco.
Mesmo incrédulo, o padre aderiu aquela
aposta, inclusive fazendo uma “simpatia” sugerida por Pedro: amarrar quatro
cédulas de cem mil réis em quatro pontas de um lenço, que explicou:
- “A
cruz também tem quatro lados. Amarre direitinho para dar efeito positivo e
êxito certo, pela força que o dinheiro traz, sendo colocado nas quatro
extremidades do pano.”
Alguns dias depois saiu o resultado da
aposta, que não poderia ser outro senão o engodo. Frustrado e tomado de remorso
o padre procurou Pedro, encontrando-o num bar da cidade:
- “Seu
Pedro, o senhor me enganou. Me fez jogar na loteria com a certeza de ser
premiado. Tudo mentira, isso não se faz, é pecado. O que o senhor me diz disso
tudo?”
Ao que lhe respondeu o mandrião:
- “Seu
vigário, se eu soubesse do bilhete premiado, o senhor acha que eu ia lhe dar?
Quem jogava ele era eu. Muito obrigado. Que Deus lhe abençoe por ter ajudado a
quem precisa!”
O vigário não ficou lá muito satisfeito
com esta caridade, mas não se pode condenar o pecador e sim o pecado.
Este conto é narrado por Getro Pereira
Guimarães em seu livro “Causos do Getrão e outros casos” (Ed. Moderna). O autor
conheceu a personagem, que assim descreve:
“O folclórico Pedro Pixaco desenvolvia toda a sua esperteza nas mais
variadas formas. Era um anti-herói que conseguia sair-se bem das mais difíceis
empreitadas.
Pedro, por incrível que pareça, era totalmente analfabeto.
Cor negra, com quase dois metros de altura, o refinamento com que se trajava,
era o seu passaporte para credibilidade”.
Pedro Luiz dos Santos – Pedro Pichaco – foi
uma figura esperancense muito conhecida nas praças de Campina Grande seus “causos”
fazem parte do imaginário popular e até hoje são lembrados em Esperança por
aqueles que o conheceram.
O jornalista Newmanne Pinto em duas obras
suas menciona o velho mandrião que calçava sapatos Pelegrino branco e marrom,
se vestia com ternos de brim em corres berrantes e usava gravatas de seda muito
extravagantes.
Rau Ferreira
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