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Antiga Fábrica de Caixões |
Houve um tempo que não existiam
planos pós-morte e que o povo carente se enterrava com a própria rede. Ser conduzido
em um ataúde para a morada eterna era um luxo para poucos.
Os falecidos eram velados nas
próprias residências de um dia para o outro. Servia-se café na cozinha,
enquanto que os homens ficavam na sala contando histórias de “trancoso”.
O município passou então a dar o
artefato, mas dia sim e dia não tinha uma viúva batendo a porta da prefeitura,
foi então que alguém resolveu instalar uma fábrica de caixões na rua Theotônio
Tertuliano, por trás da Secretaria de Educação.
O caixão fúnebre era construído
dessas madeiras de caixa de batata, com alguns caibros para dar sustentação. Forrava-se
com um plástico fino, de cor azul para homem ou roxo e rosa para mulheres.
Na tampa se colocava um vidro para
ver o ente querido. Era pequeno e, a depender do defunto, precisava fazer
alguns ajustes.
A prefeitura também dava a mortalha,
que era um camisão, enquanto que as flores ficaram a cargo das beatas.
Era costume ver aqueles caixões
subirem a ladeira do cemitério, empurrados por Pedro “Vai-levando” ou sua
mulher Rita.
Por sem bem simples, muitas vezes o
ataúde se desfazia antes da hora e o imprevisto acontecia: de repente, o morto
caia com o braço para um lado, deixando todos atônitos. Há quem diga que em
alguns enterros o próprio fundo se rompeu, e quando a multidão percebeu o
defunto tinha ficado para trás.
Durante muitos anos estes caixões
foram construídos naquele prédio, numa marcenaria improvisada, para atender a
gente pobre de Esperança. Serviam muito bem ao seu propósito, num tempo onde o
social era o caminho.
Rau Ferreira
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