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Pastoril esperancense

Adélia Neves e suas pastoras
O pastoril é um folguedo popular exibido por mocinhas que defendem seus cordões encarnado e o azul, de Mouros e Cristãos, respectivamente. A temática gira em torno do nascimento de Cristo. A dramatização, através de canções que contam a aventura das pastoras, representa a visita delas à manjedoura, em Belém. É uma forma animada de se transmitir a história ao longo dos tempos.
Em Esperança a encenação ganhou força na década de 50, mas a tradição é bem mais antiga, pelo que podemos ver. João Tomaz revisitando as suas memórias menciona esse folguedo que já era realizado em nosso município em data muito anterior.
Naquele tempo, a apresentação acontecia durante os festejos da padroeira – N. S. do Bom Conselho – após os atos litúrgicos, segundo a fé cristã.
Iniciava com um breve passeio pela avenida principal. As moças seguiam o condutor pela rua Manuel Rodrigues, em direção à Matriz, que segurava um lampião de carbureto. À frente uma criança vestida de anjinho. Havia ainda as figuras do pastorzinho e da cigana.
Em fila única ou dupla, dançavam balançando as saias com uma das mãos até chegar ao pátio da igreja, onde um mastro erguido no solo de terra batida aguardava o luzeiro.
A penumbra do lampião fazia com que as pessoas se aglomerassem em torno do palco para assistir as pastoras. Começava a cantoria. Durante a exibição, cada uma delas desfilava cantando, a fim de arrecadar dinheiro para os trabalhos paroquianos.
Em alguns momentos os partidários chamavam uma em particular e alfinetavam dinheiro em sua bandeira. Quando não, a pastora visava um dos espectadores, descia do palco e lhe entregava uma flor, à espera da oferenda. Ao final o produto da arrecadação era entregue ao patrimônio da paróquia.
De tempos em tempos, a encenação é desmontada, permanecendo desativada, mas nunca esquecida. Passado alguns anos, alguém resolve remontar, com nova roupagem e direção.
Temos notícia do pastoril comandado em diversos momentos da nossa história por Dedita e Corina Cabugá, em frente a Loja Ideal de Manuel Rodrigues; Adélia Neves, Hilda Batista, Vitória Régia Coêlho e Fátima Costa.
Acerca da participação de Vitória, transcrevo a seguir uma nota de jornal que ela guarda com carinho:
“O Pastoril Nossa Senhora do Bom Conselho é composto por vinte garotas e dirigido de forma harmoniosa e habilidosa, pela sua criadora e patrona, a grande esperancense VITÓRIA RÉGIA COÊLHO, nossa ativista cultura e símbolo de expansiva inteligência e cooperativismo. As apresentações do pastoril é de forma espontânea e natural, e tem como palco principal a rua Manuel Rodrigues de Oliveira. Ali, estas encantadoras meninas dão um toque de alegria e harmonia aos esperancenses e todos presentes, nas festas de Nossa Senhora do Bom Conselho, devoção do Pastoril”.
A partir de 2009 a encenação voltou a se realizar nas ruas da cidade, organizada por Vitória Régia e Socorro Aparecida, então Diretora de Cultura do Município. Na apresentação, cerca de vinte moças disputavam a atenção dos esperancenses no largo da Igreja Matriz, próximo ao Calçadão.
Em novembro de 2014, marcando a culminância do projeto “Mais Educação”, na Comunidade de Riacho Fundo, alunas da EMEF “Abel Barbosa de Souza”, remontaram o folguedo.

Rau Ferreira



Fontes:
-        FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: Recortes da Historiografia do Município de Esperança. A União. Esperança/PB: 2016.
-        MEDEIROS, Jailton. História de Esperança. s/d. Trabalho escolar. Produção do corpo docente.
-        PEREIRA, João Tomaz. Memórias de uma infância nordestina. Assis/SP: 2000.

-        SEGUNDA FRENTE, Jornal. Ano I, Nº 03. Festa da Padroeira, Janeiro. Esperança/PB: 1943.

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