Epaminondas Câmara nasceu em Esperança no dia 04 de junho de
1900. Era filho de Horácio de Arruda Câmara e Idalgisa Sobreira Câmara. Aprendeu
as primeiras letras com a professora Maria Sobreira, esposa do também professor
Joviniano Sobreira. Permaneceu nesta cidade até 1910, mudando-se com a família
para Taperoá e, depois para Campina Grande (1920). Técnico em contabilidade
gastava suas horas vagas pesquisando. É autor dos livros: Os alicerces de
Campina Grande e Datas Campinenses.
Quando tomou posse na Academia Paraibana de Letras, em 21 de
junho de 1945, pronunciou o seguinte discurso:
“Se o historiador fosse um príncipe, tivesse sangue azul,
poderia dizer a seus súditos: - Vinde primeiro a mim se quereis que eu vos dê
tudo. O poeta diria: - Dar-vos-ei aonde estiveres. E se isto acontecesse,
decerto que Irinêo daria mais em extensão e Mauro em intensidade, porque os
sentimentos de historiador tinham caráter mais paternal, e, os do outro,
caráter mais fraternal.
Irinêo, mais aristocrático, entendia a sociedade dividida em
camadas econômicas. O outro mais democrático, preferia a nivelação social. Não
se veja, porém, no meu ilustre antecessor pruridos niilitas ou socialistas, nem
tendência de demagogo ou de anarquista. Ambos democratas, ambos compreendiam a
democracia em sentidos diferentes. Para Irinêo ela deveria ser hierárquica,
como o universo, como todas as cousas, pesando de cima para baixo, em pirâmide.
Para Mauro, ela não deveria pesar em sentido algum para ser harmônica e
equitativa.
Se fosse maxista, talvez o historiador preferisse a divisa –
a cada um as suas ações. A do poeta seria – a cada um segundo as suas
necessidades ou o seu mérito. Ambos tinham sede de glória e pensando nela
Irinêo lembrava-se dos grandes homens e dos grandes gênios; Mauro sentiria as
musas. O historiador protegia os outros para colaborar com eles, o poeta
colaborava para protegê-los, tanto assim que Irinêo perdoava sem demonstrar e
Mauro era a eterna demonstração do perdão.
Essa diferenciação de aspectos da mentalidade dos dois
ilustres campinenses está patente, clara, definida, através de páginas dos dois
monumentos da literatura paraibana – “Notas sobre a Parahyba” e “Horas de
Enlevo”, precisamente os dois livros que os imortalizaram.
Quem quer que os perscrute encontrará nas suas linhas e
entrelinhas a prova mais robusta dos conceitos aqui expostos. Apreciei os dois
saudosos homens das letras com serenidade, sem ânimos preconcebidos, mas com a
vontade sincera de esboçar-lhes os méritos e de fazer-lhes justiça. Procurei
dentro de minha acanhada percepção psicológica esboçar os seus caracteres sem
exceder-me no elogio nem exagerar-me em restrições.
Concluo acrescentando ainda que o valor de ambos seria hoje
contemplado em proporções muito maiores e mais larga projeção intelectual, se
não lhes ocorresse durante toda a vida a preocupação pela política partidária e
tivessem procurado conviver em meio mais adiantado.
Quem não compreende que faltou, a um e a outro, ambiente
propício à divulgação e à compreensão de suas ideias, de seus trabalhos
literários? Campina Grande era naquela época e ainda é hoje uma cidade sem
intelectualidade, não obstante nela residirem poetas e prosadores, jornalistas
e estudiosos. Afonso Campos, patrono duma das cadeiras desta Academia, e
Severino Pimentel, uma das maiores culturas paraibanas, para se falar apenas em
mais dois grandes campinenses desaparecidos, foram como Irinêo e Mauro, vítimas
daquele indiferentismo local.
É que Campina Grande, o maior centro comercial, bancário,
político, democrático e industrial do Estado da Paraíba, seria um grande centro
cultural se nela houvesse clima favorável ao congraçamento, à união de visitas
entre os quais se dedicam às letras. Sua sociabilidade tem outra feição. Faltam
à cidade os veículos modernos da divulgação.
Consideradas tais dificuldades e tomadas no seu verdadeiro
sentido essas minhas indiscrições, robustece-me a velha convicção que possuímos
de que o valor cultural de Irinêo e Mauro tem maior profundeza e amplitude do
que à primeira vista nos parece”.
Epaminondas era casado com Isaura Câmara, sua prima. Homem
íntegro, católico fervoroso como sua mãe, ajudou a fundar algumas paróquias e
Associação dos Moços Católicos, na cidade de Campina Grande. Faleceu no dia 28
de abril de 1958.
O texto de seu ingresso na APL nos fala de Irinêo Jóffily e
Mauro Luna. Irinêo – que para seu neto Geraldo Jóffily teria nascido em
Esperança – nos deixou um grande legado, qual seja o recorte atual do mapa
paraibano. Mauro Luna foi um grande poeta.
Rau Ferreira
Fonte:
-
Coletânea de Autores
Campinenses. Comissão Cultural do Centenário. Prefeitura Municipal de Campina
Grande: 1964.
-
JÓFFILY, Geraldo Irinêo. Um
cronista do sertão no século passado: Apontamentos à margem das Notas sôbre a
Paraíba, de Ireneo Joffily. Comissão Cultural do Município. Prefeitura
Municipal de Campina Grande: 1965.
-
O Educador dos Sertões: vida
e obra do Padre Inácio de Sousa Rolim. Volume II. Coleção "Documentos
Sertanejos”. Série Paraibana. Gráfica Estado do Piauí: 1991.
-
PIMENTEL, Cristiano. Mais um
mergulho na história campinense. Academia de Letras da Campina Grande, Núcleo
Cultural Português. Ed. Caravela: 2001.
-
SOARES, Antônio. Autores
Parahybanos 99. Ed. Caravela: 1999.
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