Pular para o conteúdo principal

Esperança: contas de 1931

A título de curiosidade trazemos ao conhecimento do nosso público a previsão orçamentária municipal para o ano de 1931. As contas estavam reguladas pelo Decreto nº 01, e foram sancionado pelo Vice-prefeito Ignácio Rodrigues de Oliveira, sendo fixadas em 36:620$152.
A receita do executivo advinha dos tributos com algodão, couro e peles, armazéns de cereais, depósitos ou enchimento de querosene, aguardente e cal; sola e aviamento para sapateiros, madeiras de construção, lojas de fazendas (tecidos), cutelarias e padarias; despolpador de café, oficinas de calçados, serralheiro e marceneiro; mascates e ambulantes. A agência de automóveis era tributada em 60$000.
Na época a representação (salário) do prefeito era de 2:400$000, enquanto que o Secretário recebia a metade desses vencimentos. Para o expediente da Prefeitura estava destinado 700$000. Mas deveria se gastar com a conservação das estradas e reservatório d’água 2:000$000 e, por ser a cidade “Lyrio verde”, destinava-se 300$000 para arborização e 600$000 divididos entre o zelador e escrivão da polícia.
Com a iluminação pública era despendida 7:500$000 (material elétrico); já com a limpeza eram gastos 1:200$000 com o “empregado do lixo”, e mais 200$000 para reparos na carroça de lixo.
O município era responsável pelas despesas com a justiça, nesses termos: a) Escrivão do Júri, crime e alistamento militar: 600$000 (metade do que ganhava o gari); b) Oficial de justiça: 240$000; c) Expediente do júri: 200$000; d) Assistência judiciária e advogado do município: 300$000; e) Com presos correcionais eram gastos 300$000. As sessões do júri deveriam ocorrer, no mínimo, duas vezes no ano.
O imposto da feira estava assim declarado: a) Ferragens e louças estabelecidas na feira pagavam 600$000 por um banco de 2,50 x 1,00 metro de largura; b) Banco de fazendas na sombra, e de outros municípios: 300$000; c) Mascates de miudezas: 60$000; d) Ambulantes de jóias, redes e máquinas pagavam 60$000, o de saco apenas 12$000.
Havia ainda previsão de imposto sobre as seguintes atividades: fábrica de tijolos, agência lotérica, farmácias, barbearia, alfaiates, hotel, tenda de fogueteiros, carpinteiros e funileiros, bilhar, chocheira, espetáculos e diversões, vendedores de caldo de cana, táxi e bicicletas de aluguel, oficinas de selas, salgadeiras, matrículas (alvarás) para engraxates; e diversos profissionais (marchantes, médicos, agrimensor, agrônomo, dentista e advogado).
No cemitério público, eram gastos 360$000 com o administrador e 340$000 com o asseio. Cobrava-se 4$000 com o aluguem para ataúde adulto, e 1$000 para crianças; o apontamento de sepulturas era 2$000, metade se fosse infantil.
Do percentual da arrecadação, 20% serviam a instrução e assistência infantil. O professor de música recebia 1:200$000, enquanto que o aluguel da sede era 240$000. 
Em todas essas cobranças, estava previsto uma multa de 30% em caso de sonegação.
Essas contas foram elaboradas em 14 de novembro de 1930, e subscritas pelo Secretário e tesoureiro Manuel Simplício Firmesa.

Rau Ferreira

Fonte:

- Jornal A UNIÃO. Ano XL, Nº 67. Edição de 22 de março. João Pessoa/PB: 1931.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A minha infância, por Glória Ferreira

Nasci numa fazenda (Cabeço), casa boa, curral ao lado; lembro-me de ao levantar - eu e minha irmã Marizé -, ficávamos no paredão do curral olhando o meu pai e o vaqueiro Zacarias tirar o leite das vacas. Depois de beber o leite tomávamos banho na Lagoa de Nana. Ao lado tinham treze tanques, lembro de alguns: tanque da chave, do café etc. E uma cachoeira formada pelo rio do Cabeço, sempre bonito, que nas cheias tomava-se banho. A caieira onde brincávamos, perto de casa, também tinha um tanque onde eu, Chico e Marizé costumávamos tomar banho, perto de uma baraúna. O roçado quando o inverno era bom garantia a fartura. Tudo era a vontade, muito leite, queijo, milho, tudo em quantidade. Minha mãe criava muito peru, galinha, porco, cabra, ovelha. Quanto fazia uma festa matava um boi, bode para os moradores. Havia muitos umbuzeiros. Subia no galho mais alto, fazia apostas com os meninos. Andava de cabalo, de burro. Marizé andava numa vaca (Negrinha) que era muito mansinha. Quando ...

Esperança, por Maria Violeta Silva Pessoa

  Por Maria Violeta da Silva Pessoa O texto a seguir me foi encaminhado pelo Professor Ângelo Emílio da Silva Pessoa, que guarda com muito carinho a publicação, escrita pela Sra. Maria Violeta. É o próprio neto – Ângelo Emílio – quem escreve uns poucos dados biográfico sobre a esperancense: “ Maria Violeta da Silva Pessoa (Professora), nascida em Esperança, em 18/07/1930 e falecida em João Pessoa, em 25/10/2019. Era filha de Joaquim Virgolino da Silva (Comerciante e político) e Maria Emília Christo da Silva (Professora). Casou com o comerciante Jayme Pessoa (1924-2014), se radicando em João Pessoa, onde teve 5 filhos (Maria de Fátima, Joaquim Neto, Jayme Filho, Ângelo Emílio e Salvina Helena). Após à aposentadoria, tornou-se Comerciante e Artesã. Nos anos 90 publicou uma série de artigos e crônicas na imprensa paraibana, parte das quais abordando a sua memória dos tempos de infância e juventude em e Esperança ” (via WhatsApp em 17/01/2025). Devido a importância histór...

Luiz Pichaco

Por esses dias publiquei um texto de Maria Violeta Pessoa que me foi enviado por seu neto Ângelo Emílio. A cronista se esmerou por escrever as suas memórias, de um tempo em que o nosso município “ onde o amanhecer era uma festa e o anoitecer uma esperança ”. Lembrou de muitas figuras do passado, de Pichaco e seu tabuleiro: “vendia guloseimas” – escreve – “tinha uma voz bonita e cantava nas festas da igreja, outro era proprietário de um carro de aluguel. Família numerosa, voz de ébano.”. Pedro Dias fez o seguinte comentário: imagino que o Pichaco em referência era o pai dos “Pichacos” que conheci. Honório, Adauto (o doido), Zé Luís da sorda e Pedro Pichaco (o mandrião). Lembrei-me do livro de João Thomas Pereira (Memórias de uma infância) onde há um capítulo inteiro dedicado aos “Pichacos”. Vamos aos fatos! Luiz era um retirante. Veio do Sertão carregado de filhos, rapazes e garotinhas de tenra idade. Aportou em Esperança, como muitos que fugiam das agruras da seca. Tratou de co...

Zé-Poema

  No último sábado, por volta das 20 horas, folheando um dos livros de José Bezerra Cavalcante (Baú de Lavras: 2009) me veio a inspiração para compor um poema. É simplório como a maioria dos que escrevo, porém cheio de emoção. O sentimento aflora nos meus versos. Peguei a caneta e me pus a compor. De início, seria uma homenagem àquele autor; mas no meio do caminho, foram três os homenageados: Padre Zé Coutinho, o escritor José Bezerra (Geração ’59) e José Américo (Sem me rir, sem chorar). E outros Zés que são uma raridade. Eis o poema que produzi naquela noite. Zé-Poema Há Zé pra todo lado (dizer me convém) Zé de cima, Zé de baixo, Zé do Prado...   Zé de Tica, Zé de Lica Zé de Licinho! Zé, de Pedro e Rita, Zé Coitinho!   Esse foi grande padre Falava mansinho: Uma esmola, esmola Para os meus filhinhos!   Bezerra foi outro Zé Poeta também; Como todo Zé Um entre cem.   Zé da velha geração Dos poetas de 59’ Esse “Z...

A menor capela do mundo fica em Esperança/PB

A Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira A Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro está erigida sob um imenso lajedo, denominado pelos indígenas de Araçá ou Araxá, que na língua tupi significa " lugar onde primeiro se avista o sol ". O local em tempos remotos foi morada dos Índios Banabuyés e o Marinheiro Barbosa construiu ali a primeira casa de que se tem notícia no município, ainda no Século XVIII. Diz a história que no final do século passado houve um grande surto de cólera causando uma verdadeira pandemia. Dona Esther (Niná) Rodrigues, esposa do Ex-prefeito Manuel Rodrigues de Oliveira (1925/29), teria feito uma promessa e preconizado o fim daquele mal. Alcançada a graça, fez construir aquele símbolo de religiosidade e devoção. Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Paraíba à época, reconheceu a graça e concedeu as bênçãos ao monumento que foi inaugurado pelo Padre José Borges em 1º de janeiro de 1925. A pequena capela está erigida no bairro da Bele...