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Ala-ursa, arte de Evaldo Brasil e Felipe Pajaú (BV015) |
A tradicional festa pagã em nossa
terra tem um ano de preparação; mal se colocam as cinzas da quarta-feira e os foliões
já estão pensando no próximo carnaval.
O catecismo de ontem nos ensinava
que até dia de Reis ainda era Natal. Assim antes de seis de janeiro não se
desarma a árvore nem se guardam os enfeites natalinos.
Porém, em Esperança, a Ala-ursa e
seus afiliados já nesse dia ganham as ruas, saindo da Comunidade S. Francisco
com os seus mascarados. O batuque ganha a S. Sebastião, Sete de Setembro e
Patrício Firmino Bastos, sobre pela Silvino Olavo por onde se chega ao centro. É
grande a aglomeração de pessoa em torno daquela figura mística.
Os “ursos” no carnaval têm origem
nos ciganos europeus, que percorriam as vilas com seus animais presos em
correntes e dançavam de porta em porta em troca de algumas moedas.
Homem, menino e criança brincam fantasiados,
sem qualquer discriminação. As roupas simples, os instrumentos que se fazem ou
se compram barato, aproveitados até mesmo do desfile cívico, servem de
incentivo ao bailado da “Ursa”.
Ritmos como o samba e o frevo só
tocam nos salões e nas casas de algum figurão. Aqui nas ruas, o que se ouve é o
tum-tum-tum do pandeiro, ripique e do bombo compassadas pelas piruetas da
ala-ursa vestida de retalhos e desacorrentada para estremecer o menor
desavisado. Sim, essa indumentária ainda mete medo em muita criança e até adulto
se vê às pampas com o velho urso.
Já foi o tempo do papa-angú de
chicote, de couro de bode, de pai de chiqueiro. Já foi o tempo do capote, da
porca, do lobisomem, do zorro e do homem-nú. O que está em alta é a “La ursa”,
recém elevada a condição de símbolo carnavalesco esperancense.
Houve um tempo que Luiz Doido
fabricava o apetrecho com barro. Alguém aprendeu a técnica e passou a aplicar
em papel cartão, jornal e outros materiais, passando a cola-grude no molde para
formar a feição pretendida. Um certo Evaldo
adquiria essa habilidade, tornando-se “hors concours” na modelagem.
Ora, a regra é o Zé Pereira
anunciar na madrugada que antecede o carnaval a sua abertura. A exceção fica
por nossa conta! As caprichadas máscaras ensaiam o desfile para o concurso que
virá.
Com tudo isso, cheguei a
(in)feliz conclusão: o carnaval de Pierrot e Colombina foi engolido pela
Ala-ursa; quem será então o caçador que lhe abrirá a barriga, para de lá
retirar o espírito alvissareiro como naquele conto de fadas?
Rau Ferreira
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