Capelinha. Foto: Maria Júlia Oliveira |
O Município de Esperança, no Estado da Paraíba, abriga a
menor capela do mundo sob invocação de N. S. do Perpétuo Socorro, conhecida
como “Capelinha das Pedras”, por se encontrar erigida sobre o lajedo do Araçá
(lugar onde primeiro se avista o sol), que neste ano (2025) completa o seu
centenário.
A construção se deu por iniciativa de Dona Esther Fernandes
de Oliveira (1875-1937). Esa senhora era esposa de Manoel Rodrigues (1882-1950),
o primeiro prefeito da cidade, a qual havia feito uma promessa preconizando o
final da “Cholera morbus”.
A doença chegou à Província da Paraíba em 1861,
alastrando-se por todo o Estado, e alcançando a sua forma epidêmica por volta
de 1855, fazendo com que o Presidente deste Estado adotasse algumas medidas
drásticas, pois não havia condições de combater aquele mal, tais como limpeza
de ruas, remoção de fezes e outros focos de infecção que exalavam vapores
capazes de propagar a epidemia.
As condições eram precárias. Não haviam hospitais, o Dr.
Manoel Carlos, que atendia em Campina, “esmoreceu”, e em Areia apenas um médico
atendia toda a população. Muitas pessoas acorriam para as farmácias onde os
“práticos” receitavam medidas paliativas para a doença.
O periódico “A Regeneração”, publicado em nosso Estado,
alarmava que:
“Em
Campina e suas proximidades, [...] subia a mortandade, proveniente do cholera,
à perto de 150!! Já se ia sentindo falta de remédios, e de alguns gêneros
alimentícios. [...] a falta de médicos e especialmente de um hospital, tem
causado a morte de muitos. O único médico que temos – Manoel Carlos – dizem que
esmoreceu, de maneira que estamos agora estamos à mercê dos curiosos. O actual
vigário – o padre Calixto – tem sido incansável em tratar dos doentes, anima-os,
e aplica-lhes os socorros espirituais” (A Regeneração: 07/03/1862).
Registrou-se oficialmente 2.308 óbitos na região
polarizada por Areia.
Também não havia cemitérios. Nesse tempo, os ricos eram
enterrados nas igrejas e os pobres encontravam repouso eterno nos campos. Reza
a tradição que um missionário, compadecendo-se da situação local, construiu o
“Campo Santo” (1862), hoje Cemitério N. S. do Carmo.
Assim como o vigário de Campina – Pe. Calixto Correia da
Nóbrega - muitos religiosos buscaram o socorro espiritual, pois os cuidados se mostravam
ineficazes. Foi o caso de dona Esther Fernandes de Oliveira.
A beata era filha de Mathias Francisco Fernandes (1904),
homem culto e abastardo que carregava o título de “major”, o qual devido a sua
influência, chegou a conceder cartas para que os primeiros comerciantes locais
pudessem comprar nas praças da Parahyba (atual João Pessoa) e de Recife.
Conta-se que dona Niná, como era mais conhecida, fez uma
promessa a N. S. do Perpétuo Socorro, de que erigiria, no alto do lajedo, uma
pequena capela, em invocação daquela santa, caso alcançasse a graça de livrar o
nosso município da doença.
Assim consta da lápide de sua bênção eclesiástica,
concedida por Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques (1855-1935), Bispo da
Parahyba, , concedendo-lhe as bênçãos eclesiais o Padre José Borges de Carvalho
(1896-1980) na data de sua inauguração:
“1º
DE JAN. DE 1925. MANUEL RODRIGUES DE OLIVEIRA E SUA ESPOSA ESTHER F. DE
OLIVEIRA, MANDARAM CONSTRUIR ESTE MONUMENTO, COMO UM ACTO DE AGRADECIMENTO A
VIRG. SS. DO PERPETUO SOCORRO, POR MERCÊS POR ELLES ALCANÇADAS. MERECEU
APROVAÇÃO DE SUA EXCIA. REVMA. D. ADAUCTO, ARCEBISPO DA PARAHYBA, E CONCURSO DO
POVO E DO PE. JOSÉ BORGES QUE O INAUGUROU SOLENIMENTE”.
Manoel Rodrigues de Oliveira, esposo de dona Niná,
administrava o município, tendo também empreendido esforços para a construção
do obelisco.
Estima-se que as suas dimensões seja três metros de
largura por 10 metros de altura. Dentro mal cabem três ou quatro pessoas. Não
há janelas e uma única porta dá acesso ao interior. O teto também é de
alvenaria, dispensando o telhado.
A abóbada é encerrada por um crucifico, que pode ser
avistado ao longe, tanto de quem chega a Esperança, no sentido Campina Grande,
como de quem vem no sentido Remígio a essa cidade.
Hoje a “Capela das Pedras” integra o Patrimônio Histórico
e Cultural do Estado da Paraíba (Lei nº 11.571/2019) e Histórico Cultural
Material do Município de Esperança (Lei nº 406/2019).
A Capela do Perpétuo Socorro recebe visitação de curiosos
e turistas que querem conhecer o lugar e sua história, o qual além de tudo
possui uma visão privilegiada da cidade.
Enquanto o título internacional de “menor capela do
mundo” não é concedido Guiness Book, nos contentemos com o de menor monumento
mariano no mundo fora da Itália.
Rau Ferreira
Referências:
-
CENTENÁRIO DA PARÓQUIA, Revista. Ed. Jacinto Barbosa. Esperança/PB: 2008.
-
ESPERANÇA 82 ANOS, Revista. Ed. Jacinto Barbosa. Esperança/PB: 2007.
-
ESPERANÇA, Livro do Município. Ed. Unigraf. João Pessoa/PB: 1985.
-
FERREIRA, Rau. Banaboé Cariá: recortes da historiografia do Município de
Esperança. 1ª Edição. Esperança/PB: 2015.
-
JÚNIOR, Azemar dos Santos Soares. A infausta notícia da existência do
cholera-morbus na Paraíba oitocentista. SÆCULUM - Revista de História. V.
28, Nº 49, jul./ dez - p.36-54. ISSNe 2317-6725. João Pessoa/PB/2023.
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