Durante certo tempo de
nossa existência, existiu em nossa região o que se convencionou chamar-se “ciclo da farinha”. Na época, era comum a presença
de tropeiros que pernoitavam na rua do Sertão. Estes homens rústicos,
desbravadores, percorriam grandes distâncias fazendo o escambo de mercadorias:
carnes, queijos, rapaduras e farinha em quantidade. O lombo dos jumentos era o
meio de transporte mais conhecido e utilizado. As tropas chegavam a ter vinte
desses animais percorrendo brejos e carrascais paraibanos.
Foi o esperancense
Epaminondas Câmara que identificou a presença de uma “civilização da farinha” nos brejos paraibanos, notadamente em
Alagoa Nova cujo principal fomento era cultivado naquelas terras desde 1763,
inclusive justificando a concessão de algumas de nossas Sesmarias.
A mandioca já era uma
antiga conhecida dos índios. Dela os aborígenes faziam a farinha d’água, o pão
de guerra, a carimã e o beiju. Na época dos escravos, os trabalhadores eram
alimentados com dois punhados de farinha seca, umedecidos na boca com suco de
laranja.
Enquanto se praticava
no brejo a policultura dos gêneros de subsistência e a produção do fumo em
corda, a mandioca que era plantada em suas imediações era processada para o
fabrico da farinha. O excedente era vendido para o sertão, servindo como moeda
de troca de carne e outros gêneros alimentícios. Em “Memórias de um sertanejo”,
se relata esta prática comum em nossas terras:
“Você vai comprar um comboio de
farinha, para o consumo de casa, no Brejo da Esperança, no Estado da Paraíba”.
O sertaneja Artéfio viajava 80 léguas à cavalo para adquirir a iguaria.
(Memórias de um sertanejo – Artéfio Bezerra da Cunha).
Também citada pela
cultura popular:
“Papai levou um jumento,
Cuma
caiga de caivão,
Pa
vendê e faze fera,
Comprar
farinha e fejão,
Carne
de poico e custela,
Pra
noi cumê um pirão”
(Dia de Sábo: José
Adailton da Silva Moreno).
Esperança sediava
diversas casas de farinha, onde as senhoras descascavam a mandioca e os homens
prensavam em roletes de madeira para escorrer a umidade, restando uma massa que
era esquentada no forno a lenha e depois peneirada.
Em 1933, registrava o
município 110 casas de aviamento para o fabrico de farinha de mandioca. E nos anos
50, eram produzidos em nosso município 70 toneladas de mandioca, cerca de
30.000 sacos de 60 Kg de farinha.
Ainda hoje muito dessas
indústrias rudimentares permanecem na ativa, produzindo farinha para ser
comercializada nas feiras livres e mercadinhos. Mas já surge em processo
mecânico através da fabricação Santa Rita no povoado de Riacho Fundo, de
excelente qualidade e com grande aceitação no mercado consumidor. O produto faz
parte da mesa dos esperancenses, que saboreiam juntamente com o arroz e o feijão
que também são frutos de nossa agricultura.
Rau Ferreira
Referência:
- ALMEIDA, Horácio. História da Paraíba. Vol. I. Imp. Universitária. João Pessoa/PB:
1966.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed.
Unigraf. Esperança/PB: 1985.
- MEDEIROS, Coriolano de. Dicionário corográfico do Estado da Paraíba.
2ª ed. Imp. Nacional: 1950.
- MOURA, Clóvis. Dicionário da escravidão negra no Brasil. Editora Universidade de
São Paulo. São Paulo/SP: 2004.
- OCTÁVIO, José. História da Paraíba: lutas e resistência. 5ª. Ed. Editora
Universitária: 1997.
- PARAHYBA, Almanach do Estado da. Vol. XVI. Ed. Impr. Official: 1933.
- TAVARES, João de Lyra. Apontamentos para a história territorial da
Paraíba. Edição fac-similar. Coleção Mossoroense. Vol. CCXLV: 1982.
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