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Reminiscência: A Festa da Padroeira


Celebrando e Resgatando*

Em um dos noitários da festa dedicada a nossa querida Padroeira NossaSenhora do Bom Conselho, e logo após a quermesse, passei a dar umasperambulantes voltas pelas Ruas Manoel Rodrigues de Oliveira e a Dr. Solon deLucena locais escolhidos e privilegiados como sempre para o funcionamento dafesta social por se tratarem de ótima localização no mapa urbano. E, olhandopara todos os lados me senti como um “Naviono meio de um oceano” numa noite iluminada. Ruas desertas, barracas vaziase parques sem movimento. Sem falar dos jogos de azares “trinta e seis” e “esplandins”(jogo de bozó), além, das barracas de tiro ao alvo, bazares e  lanches que já estavam fechadas.
Encontrei-me posteriormente com seu Antônio da “Eletrônica Barbosa” eJosé Armando, filho do finado “Geraldo da Cocada” e começamos a conversar sobrea realidade do momento, onde, estes, através dos seus conhecimentos empíricoscomeçaram a discorrer sobre os tempos passados e dos acontecimentos tradicionais,históricos e inesquecíveis que viveram durante todo período festivo no passado.Ah! Bons tempos que só retornam em nossas lembranças tantas vezes adormecidas.As coisas acontecem, o tempo flui de modo inexorável e a gente num processoremisso remanesce tudo.
Era uma multidão passeando de uma rua para outra que se batiamconstantemente pela falta de espaço tanto nas calçadas como pelo meio das ruas.Todas as noites de novena tanto a Igreja ficavam totalmente lotada como o pátioque fica a sua frente. Milhares de devotos vinham em procissão  de todos os sítios da zona rural e dos quatros cantos da cidade em direçãoao Santuário Sagrado, alegres, cantando, rezando e glorificando a Mãe de Deus pelas suas festividades.
 Terminada a Santa Missa todoscorriam para ver o famoso Pastoril e as lindas garotas que faziam parte docordão vermelho e do cordão azul numa espetacular demonstração com cânticos eespetáculos teatrais. Nas tão esperadas noites de pavilhão Esperança em peso se fazia presente. Todas as autoridadescivis, militares, judiciais e religiosas do município eram convidadas parasentar-se as mesa para contribuírem com a festa através de suas participaçõesnos dos leilões, nas bebidas e comidas. Os “Executivos” faziam questão departiciparem e colaborarem, além, de serem os convidados especiais paraassumirem o cargo de paraninfos das lindas garçonetes, estas, que todas asnoites tinham um paraninfo diferente e, eram convidados aqueles que tinhamrealmente um poder aquisitivo relevante para ajudá-la a ser a Rainha ouPrincesa, pois, ser Eleita á Rainha ou à Princesa da Festa, não era pela suaboniteza ou elegância, mas, era aquela que mais vendia e mais apurava.
Falar da festa social é falar da inesquecível  barraca de cachorro quente de seu “Olívio Damião”e do seu Parque. Da barraca de cachorro quente de Manoel Freire, mais conhecidopor “Manoelzinho da Barraca”. Do famoso “Parque Maia” que além das diversõestinha um serviço de som altamente espetacular que abria a festa, e tinha comooperador um Sr. Conhecido por “Luiz” que possuía uma brilhante voz, onde,saudava e acolhia todas as autoridades esperancenses, visitantes, e convidados,e todos que o escutava ficavam encantados com a sua magnífica saudação eacolhida. Quem não se lembra dos “jipinhos” de seu Edinho que só participavamcriancinhas.
Existia, também, a “Barraca de Música”, que tinha como locutor um Sr. denome “Ruy”, que colocava as músicas a pedido. Eram bregas e músicas românticas,onde, as pessoas se dirigiam ate ela e pagavam para oferecer alguma música paraalguém que estava totalmente apaixonado. Os “LPS” ou os Discos de: EvaldoBraga, José Ribeiro, Roberto Carlos, Carlos Alexandre, Elino Julião, JoãoGonçalves, Marinez, Roberto Leal, Waldick Soriano e outros cantores que faziamsucesso naquele momento. Contam que uma tal pessoa foi ate esta barraca ecolocou a música “O Senhor da Floresta” que fala da historia de um “Índio Bravoe Guerreiro” para um certo homem que tinha a fama de ignorante nesta cidade e,este,  que passeava por aquela rua,ouvindo-a, veio ate a barraca tomar satisfação com “Ruy” e, só não derrubou-a,quebrou a Radiola nem lhe bateu por intervenção da policia que foi chamadaimediatamente.
Que não se lembra das “trinta e seis” de “Goteira,” de “Coleguinha”, de“João Jaburu de Remigio”, de Bibla de Solânea, de “Mané Oião”, de SantoTimóteo, que tinham como fregueses certos e famosos para todas as noites defesta seu Luiz Martins, Antonio Dias, Cristovão Pessoa, “Zezito da Banca” eoutros. Também, funcionavam os “esplandins” (jogos de bozó) de “Lola”, do“Gago”, do finado “Lêla”, de “Mané Cachorrinha”, de seu “Luiz Gonçalo de Lagoade Pedra”. Principalmente, o mais frequentado era o do “Gago” que tinha como participante oficial daquele jogo deazar, Dr. João Bosco que atochava em um, dois, e até três dos seis números e, o“Gago” ficava se tremendo para levantar o funil, onde, tinha noite de alisar osbolsos e sair com a mesa na cabeça. Quem não se lembra da “Mala de Abel” queenchia de rolo de papel e colocava em um dos rolos varias notas de dinheiropara ver quem “acertava” tirar no meio dos outros rolos. Ah! Quanta tapeação!
Do ônibus sucateado que se transformava numa “sala – vídeo” e chamavam debarraca da “Bela e da “Fera”, ou seja, a “Monga – A Mulher que vira Macaco”.Uma jovem linda se apresenta com roupas intimas e aos poucos se vira nummacaco, que, furioso, começa a balançar as grades da jaula que se encontra e,os assistentes ficam a flor da pele com a fúria do “animal” na escuridão doteatro ambulante.
Existia também, a barraca do “Espelho Mágico”. Eram dezenas de espelhoscolocados dentro de uma barraca, que, ao passar por eles transformavam aspessoas, que ficavam gordas, magras, bonitas, feias. Enfim, era um verdadeirosucesso por que mudava toda estética do corpo.
O “parque das ondas” e o “espalha brasa” do Sr. Elias e do Sr. Argemiro,irmão de seu “Deda Quilodino”, que lotavam todas as noites festivas e ia atealtas horas da madrugada pela excelente diversão sadia e empolgante para todosos participantes que procurava.
Fascinava-me, também, a retreta da festa tocada pela banda demúsica.  Era outro momento importante queestava inserido dentro da programação da festa da padroeira nos anos passados.A banda saia pela rua Manoel Rodrigues indo e voltando ate o pátio da igrejamatriz tocando e animando para todos os participantes da festa e tinha comoacompanhante principal seu “Luiz de Tiano” grande admirador de orquestras eretretas musicais.
Lembro-me de modo bem nítido que naquela época  quem tinha mais dinheiro ia lanchar nabarraca de seu Olívio Damião ou na de Manoel Freire, pois, estes, ofereciam umexcelente cachorro quente com coca cola ou guaraná. Já, quem tinha poucodinheiro ia para uns banquinhos de comida que ficavam embaixo da balaustrada naSolon de Lucena, onde, eram oferecidos uma caprichada “rodinha de pão” quecolocava em cima uma colher de picado ou de um pedaço de galinha de capoeiraacompanhados de garrafinhas com “ponche” ou o famoso “ki-suck” de morango” que chamavam de “sangue de morcego”, alémda cachaça brejeira e da temperada feita com raízes vegetais tão procuradapelos paupérrimos agricultores que saboreava antes de se dirigir para suascasas.  E, tinham como uma das donas dosbanquinhos  dona Luzia irmã do finadoLela.
Na praça Getúlio Vargas se concentravam os famosos engraxates da cidade,um deles, conhecido por “Kudu” que tinha uma excelente freguesia para dar umlustre no seu pisante. Também, “Pedro Pichaco” que contava suas aventuras eanedotas a todos que se faziam presente. 
Era um “Lírio Verde da Borborema” bem mais pacato, mais sossegado.“Recordar é Viver” como lembra uma velha marchinha carnavalesca. Sempre procurovolver o pensamento ás coisas boas usufruídas no tempo pretérito e minharetentiva as preserva bem.

(*) José Henriques da Rocha

Fonte:
-FOLHA DE ESPERANÇA, Jornal. Ns. 16 e 17, Ano III. Edições de Fev/ Março.Esperança/PB: 2012.

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