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A Senhora dos Destinos, poema de Rau Ferreira

Ela veio... e foi embora; Nossa Senhora da Aurora. Caminhou devagar... Nossa Senhora do Pará. Com seus passos largos... Nossa Senhora do Amparo. Dizia palavras célebres... Nossa Senhora das Neves. Com um som ensurdecedor! Nossa Senhora do Arpoador. E desapareceu em magia Ao alto, a Virgem Maria. Mãos evocando o Amor Do seu filho, Ave Maria. De Deus o Salvador; E da Virgem, o puro Amor. Dos sonhos de menino... A Senhora dos Destinos. Banabuyé, 26 de janeiro de 2018. Rau Ferreira

As trovas da idade do homem, por Josemir Camilo*

Conheci o poeta popular paraibano, Sebastião Timóteo Ferreira, já velhinho e completamente fora desta profissão, a de versejar em público ou em folhetos de feira. Nasceu em 1905, em terras que hoje são do município de Esperança e, já maduro, renunciou a vida mundana e se trancou num claustro de convento de Goiana, virando Frei Dionísio. Já bastante alquebrado e como inícios de vida caduca, me passou alguns de seus manuscritos, já que eu era a única visita que ele tinha naquele convento silencioso de poucos padres. Reproduzo aqui uma que ele mais gostava, A Idade do Homem. Baixinho, mãos calejadas e andando balançando devido a ter quebrado uma perna, ele ia andando e recitando, pelos corredores do convento, sua trova preferida: Dez anos, linda alvorada Da manhã de nossa vida Idade bela, encantada Idade nunca esquecida Vinte anos, quadro fagueiro Da poesia e do amor Passa voando ligeiro Como um lesto beija-flor Trinta anos, fase brilhante Na vida da humanidade ...

Celeiro de cantadores (2ª Parte)

Falando dos velhos cantadores, lembrou-me o colega Arimatéia de seu tempo de criança, na casa deu seu pai Zé Anísio, onde se reuniam diversos repentistas, nas tardes ensolaradas de Esperança. Narrou alguns casos vividos, outros conhecidos, que nos remetem a esta arte secular de fazer versos populares. José de Arimatéa Valentim, antes de ser Oficial de Justiça, por sinal um dos mais respeitados desta Comarca de Esperança, admirado por todos os que fazem o judiciário local, foi comerciante, comprando e revendendo bijuterias, e também proprietário de um bar, no beco de Mané Jesuíno. Assim falou de Arnaldo Cipriano, cantador repentista do qual me referi no artigo anterior, e sabia de cor as duas primeiras estrofes do acidente da usina de Pilões, que vitimou muitos esperancenses que se diriam aquela feira, aqui citados: “No dia 13 de novembro Amanheceu uma neblina O ar do tempo escaroso Fedendo a carnificina Como que anunciava Que um caminhão virava De Esperança para a u...

IHGE - Redação preliminar dos estatutos

Hoje (15/01) teve início a redação dos estatutos do Instituto Histórico e Geográfico de Esperança - IHGE, a partir dos modelos disponibilizados pelo confrade Thomaz Bruno de Oliveira, de casas memoriais congêneres. Cópias dessas minutas já haviam sido encaminhadas a alguns dos sócios para estudo, porém até o fechamento desta matéria nenhum deles havia retornado com propostas. Os sócios fundadores Evaldo Brasil e Rau Ferreira se debruçaram durante toda essa tarde, com o objetivo de apresentar o texto na próxima reunião deliberativa. Nessa perspectiva, foram trabalhados a constituição, finalidades, a qualificação dos sócios e sua diretoria. O cofundador Evaldo Brasil fez diversas sugestões, que serão oportunamente apresentadas aos demais associados. “Acredito que avançamos nesse projeto, partindo do esboço de estatuto, a ser debatido na próxima reunião, com a participação dos demais sócios’, concluiu Rau Ferreira. De fato, o estatuto segue um padrão geral que pode ser adapta...

Quem era Sol na faculdade?

Dizem que o homem é produto do meio; e que segundo o ambiente assumimos várias personalidades. No seio social somos um, na família afrouxamos o nó da gravata para demonstrar um outro eu. E assim vamos nos adaptando, desde a invenção da roda, num movimento que o vate esperancense denominou de “Evolucionismo”. Por isso me veio a pergunta: Quem era Sol na faculdade? Para responder a esse questionamento pesquisei na revista A Época, da qual Silvino era redator. Para Firmino Pires de Melo – seu colega de turma – era o “Batel” (do latim battelum ou conforme o francês bateau), espécie de embarcação maior entre as menores, talvez denotando que, entre os estudantes, fosse Olavo o seu expoente. Firmino ainda acentua, em poema dedicado ao amigo, na sua primeira estrofe: “Qual gondola gentil, que não temendo a Morte, Ignotamente singra os Mares noite e dia, Também no mar da vida, o meu batel sem norte, Singrando passa e vai por entre a penedia...” Pedro Calmon o tinha como ...

Sol: Revista A Cidade de Itabaiana

Itabaiana no agreste parahybano saiu a frente nas publicações em revistas interioranas, com a revista “A Cidade”, editada por Sabiniano Maia e Mário Campelo. Considerada a primeira revista da história itabaianense, e quiçá do Estado, trazia em suas páginas ilustrações e textos dos principais intelectuais de seu tempo. Foram lançados apenas quatro números, sendo a primeira em 13 de maio de 1928, com colaborações de Silvino Olavo, Ferreira dos Santos Heloísa Chagas, Perylo Doliveira, Oris Barbosa, Eudes Barros, Severino Alves Aires, Câmara Cascudo e tantos mais. Em nossas pesquisas não foi possível resgatar os textos produzidos pelo vate esperancense. Agradecemos a associação “Memória Viva” de Itabaiana que tão gentilmente nos enviou o matéria para compor esta página da nossa história. Rau Ferreira Referências: MAIA, Sabiniano. Itabaiana-Sua História-Suas Memórias - 1500-1975. 3a. Ed. Itabaiana/PB: 2015.

Pedro e o amigo do alheio

Aqui e acolá a gente fica sabendo das peripécias de Pedro Pichaco e a que trago agora me foi passada por Sebastião Batista, antigo proprietário do “Bar Noite de Natal”, que funcionava no pavilhão da Praça Joaquim Pereira (Calçadão) em Esperança. Pois bem. Certa feita Pedro se hospedou num hotel para dormir, mas o dono do bar avisou que o único cômodo já estava ocupado e perguntou se ele não se importava em dividir o quarto. A resposta foi positiva, caso contrário a rua seria o caminho certo, não sendo nada agradável passar a noite ao relento. Ao adentrar no quarto, Pedro reconheceu logo o companheiro de longas datas, o qual tinha a “ má fama de pegar no alheio ”. Cumprimentos se passaram e os dois se aprontaram para dormir. Pedro esperou o colega cair no sono primeiro e, tão logo ouviu os primeiros roncos, pegou o dinheiro e pôs na bolsa do companheiro, caindo em seguida nas mãos de Morfeu, embalado por um sono tranquilo. O dia amanheceu e, percebendo logo que o amigo estava mei...

Sol: Tratamento humanizado

Silvino Olavo. Rio: 1927 Silvino Olavo foi diagnosticado com a deficiência chamada "Esquizofrenia paranoide" (CID 10 F 20.0), doença mental crônica caracterizada pela perda da realidade. O paciente é dominado por alucinações auditivas e visuais, perdendo o contato com a realidade. É comum os discursos desorganizados ou comportamentos catatônicos. A doença possui efeitos permanentes, mas com o tratamento adequado o portador adquire melhor qualidade de vida. Não se sabe ao certo como lhe surgiram os primeiros sintomas. Uns mencionam que foi durante a campanha presidencial de João Pessoa, apesar de José Américo fazer alusão a um fato acontecido em sua noite de núpcias. Porém, é na campanha liberal que foram observados os primeiros surtos: em uma viagem ao Recife, em julho de 1929, fora atacado de “ligeiro incômodo”, sendo internado no Pilar. Já o seu biógrafo – João de Deus Maurício – nos informa que em setembro daquele ano, ao acompanhar o governador em viagem ao Rio, ...

Padre Luiz Santiago. Suas origens

Padre Luiz Santiago Onde nasceu o Padre Luiz Santiago? Antes, porém, precisamos responder quem foi este clérigo polêmico e ousado; filósofo, arqueólogo, historiador, escritor e piloto de avião, uma personalidade com ideias muito avançadas para o seu tempo. Os seus pais Delfim Izidro de Moura e Antonia de Andrade Santiago uniram-se em casamento no Sítio Lagoa Verde, em Esperança, a 18 de novembro de 1896, de onde seguiram para residir numa propriedade na Meia Pataca. Fruto desse enlace matrimonial, nasceu em 25 de agosto de 1897 um filho, a quem deram o nome de "Luiz". A “Meia Pataca” é uma comunidade rural na divisa de Esperança e Remígio, dividida por um acidente geográfico, ficando assim chamada de “Meia Pataca de Cima” e “Meia Pataca de Baixo”. A maior parte pertence a Esperança, terra agricultável para feijão e batatinha, sendo assim chamada, pela tradição, por ali ter sido encontrada uma moeda de valor. Uma áurea de mistério envolve o lugar. O menino cresceu o...

Esperança caminha para instalação do seu instituto histórico e geográfico/ IHGE

Em reunião deliberativa autoridades, intelectuais, poetas, acadêmicos e algumas das principais instituições ligadas à história e à cultura de Campina Grande e Esperança, estiveram em reunião, na tarde desta quinta-feira (14/12), no Centro Cultural e Biblioteca “Dr. Silvino Olavo”, em torno do ideal da fundação do IHGE – Instituto Histórico e Geográfico de Esperança. A ideia que surgiu em 2014, volta a ser discutida pela sociedade esperancense, na perspectiva de resgate da memória local, com o apoio dos Institutos Paraibano, representado pela Dra. Maria Ida Steinmuller, Campinense (Edmilson Rodrigues) e de Serra Branca, na pessoa do Prof. Thomas Bruno Oliveira (IHGP, IHCG e IHGSB),  Nuphel – Núcleo de Pesquisa e História Local/UEPB, pelo Professor Flávio Carreiro, Fórum Independente de Cultura de Esperança, com o ativista Evaldo Brasil (FIC) e da Sociedade Parahybana de Arqueologia (SPA), através do escritor Vanderley de Brito. Participam ainda o Secretário de Educação do Mun...

Celeiro de cantadores

Esses dias me deparei com a notícia de Arnaldo Cipriano, cantador afamado que participou do VI Congresso de Nacional de Violeiros acontecido entre os dias 6 a 9 de setembro 1979, no Município de Campina Grande, produzido pela Associação de Repentistas e Poetas Nordestinos com o apoio da Furne. O poeta estava inscrito como representante de Esperança, para exibição de quatro minutos, sem contagem de ponto, para declarar um dos gêneros sorteados na competição (Rojão Pernambucano, Meia quadra, Toada alagoana, Gabinete, Quadrão perguntado e Martelo alagoano). Dentre os participantes, Otacílio Batista, Palmirinha, Fenelon Dantas, João Paraibano, Louro Branco entre outros. Arnaldo tocou muito em Esperança no “ hotel de Dona Bina, no antigo beco de Chico Bezerra ” (Inácio Gonçalves), pois lá tinha “ um repente... no beco aos sábados... muitos paravam para ver ” (Sandro Andrade). Com efeito, muitos cantadores adotaram Esperança como morada, passando a residir neste Município que era muito ...

Pedro e o defunto pagador

Pedro visitava Zé Luiz – seu irmão – quando soube da morte de um vizinho que caíra do Cavalo lá pras bandas do Pintado. Todos estavam atônitos para dar a notícia a viúva e ninguém queria tomar a iniciativa. Prontamente Pedro se ofereceu com uma simples pergunta: “O que eu ganho com isso?” - Ora, cobra do defunto; morto não paga conta mesmo! – disse um dos presentes. - Nas minhas voltas paga! – respondeu o Pichaco e foi para a casa da viúva informar o acontecido: - Bom dia, minha senhora... tenho duas coisas pra lhe dizer, uma é boa outra é ruim. - Vixe Pedro, que é isso homi? Diga então a boa! - A boa é que quem morreu não morre mais! - E a ruim – perguntou a mulher. - Seu marido está me devendo uma conta dum farvorzinho que lhe fiz hoje, mas não se preocupe que eu espero pela herança dele. Agora vá logo afastando os móveis da sala que não demora! A mulher entendeu o recado e pôs-se a chorar, enquanto o canastrão contabilizava os ganhos de mais um golpe na praça. Q...

Saraus de outrora (Graça Meira)

Fazia tempo que eu não ouvia nem via a palavra "sarau". Remete-nos a tempos idos da nossa história, quando as moçoilas donzelas, casadoiras, de antão, tocavam o piano naquelas salas suntuosas dos casarões do início do século passado, onde as famílias se reuniam para fazerem o "Sarau". E ali, entre os familiares e os convidados, e em meio às músicas lindas tocadas ao piano pelas filhas da casa, e aos licores servidos em pequeninas taças de cristal bacará trazidas em bandejas de prata ou às vezes até de ouro pelos serviçais, é que os pais conversavam e arranjavam entre si os casamentos de suas filhas com os filhos dos convidados, sem que eles, os moços e as moçoilas, nem sequer se conhecessem de verdade.  Mas era a época do patriarcado, que já vinha como herança dos tempos do Império, onde o amor não era levado em conta para o casamento, mas sim as vantagens que pudessem advir da união entre os jovens para ambas as famílias. Ainda sobre os Saraus, junto com os clás...

Pedro pelo frete

Era um dia daqueles de sábado, final de mês e feira ruim. Pedro acabara de fechar a banca de apostas, com o velho e inseparável “jogo caipira”. Naquele dia os matutos não vieram, a seca imperava e o desjejum da semana seria feijão com farinha, mistura que é bom ficara para depois. Com aquela parafernália nas mãos, se preparava o mandrião para descer a manichula onde iria tomar umas bicadas com seus comparsas, os famosos “tapeias” como paga por aquele dia malfadado. Nisso se aproxima um pequeno, desses moleques que pegam feira com suas carroças de madeira para complementar a renda de casa: - Frete seu moço? - Quero não, disse Pedro. - Mas o senhor tá com tanta coisa, posso lhe ajudar e o senhor me ajuda também. Pedro não perdia aquela mania de sagaz, que de tão arraigada a sua personalidade, já não reconhecia a inocência intocável: - Então tá bom – disse o Pichaco – você carrega as minhas coisas, pelo que tenho na mão! De fato, apesar daquele dia não ter sido dos bons, P...